Logística e clima continuarão tirando o sono do setor cafeeiro em 2025

O porto de Santos nasceu a partir da necessidade do Brasil de exportar produtos agrícolas, principalmente o café, no final do século XIX. Considerado o maior complexo portuário da América Latina é um dos principais caminhos para o agronegócio brasileiro, mas em 2024, os constantes atrasos nos embarques e gargalos operacionais acabaram por jogar contra as exportações de café brasileiro.

Os problemas se agravaram justamente em um ano marcado pelo aumento da demanda internacional e pelas cotações recordes do café na bolsa de Nova York. No dia 27 de novembro, a cotação do grão atingiu a maior marca em 27 anos no Brasil com o vencimento em dezembro negociado a US$ 3,17 por libra-peso e alta acumulada de 70% no ano.

Os atrasos tiraram o sono dos exportadores brasileiros. Segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em outubro, 1,717 milhão de sacas de café brasileiro deixaram de ser embarcadas em todos os portos por conta da falta de estrutura logística, o equivalente a 5.203 contêineres. Atualmente, cerca de 67,4% dos embarques de café são feitos via porto de Santos.

Ainda de acordo com o levantamento da entidade, o não-embarque desse volume de café deixou de gerar uma receita cambial de US$ 489,5 milhões (R$ 2,754 bilhões) para o Brasil em apenas um mês.

O AgFeed obteve com exclusividade os dados compilados pelo Cecafé e a startup Ellox Digital, os quais apontam que 1,615 milhão de sacas deixaram de ser embarcadas em novembro de 2024. Esse volume impediu o ingresso de US$ 469,5 milhões (R$ 2,726 bilhões) em receita cambial para o Brasil.

Os atrasos também trouxeram mais custos para os exportadores. De junho a novembro, os custos adicionais gerados pelos atrasos dos embarques em todos os portos somaram R$ 42,3 milhões de reais.

“Estamos no limite da nossa capacidade portuária no Brasil e esse é um aspecto que nos preocupa e que seguirá no radar para 2025″, pondera o diretor-executivo do Cecafé, Marcos Antonio Matos.

Entre janeiro e novembro de 2024, o Brasil exportou 46,399 milhões de sacas de 60 quilos de café, um recorde 3,68% superior às 44,707 milhões de sacas embarcadas ao longo de todo o ano de 2020, a maior marca registrada até então.

Em comparação com os 35,102 milhões de sacas embarcadas entre janeiro e novembro de 2023, o aumento é de 32,2%.

Os efeitos do gargalo logístico também impactaram os embarques da Cooxupé, maior cooperativa do setor.

“A questão dos atrasos nos embarques foi, sem dúvida, um dos maiores desafios que enfrentamos ao longo do ano”, avalia o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo.

Os efeitos da seca prolongada, entre agosto e outubro, também tiveram impacto sobre a produção. Na Cooxupé, a expectativa de recebimento do café para a safra 2024/2025 era de 7 milhões de sacas, 5,7 milhões recebidos de cooperados e 1,3 milhão de terceiros.

No entanto, o volume deve ficar abaixo e fechar em 6,3 milhões de sacas. “Muitas regiões produtoras sofreram com o efeito da seca prolongada, impactando no volume final de recebimento”, explica Melo.

Atualmente a cooperativa recebe café de mais de 20 mil cooperados que produzem nas regiões do Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Matas de Minas e Média Mogiana do estado de São Paulo, justamente as regiões que foram bastante afetadas pela longa estiagem entre agosto e início de outubro.

Para enfrentar o cenário cada vez mais incerto quando se trata do clima, Melo, da Cooxupé afirma que a cooperativa vem trabalhando com os produtores com intuito a incentivar a adoção de irrigação nos cafezais.

Ele explica que diante da melhora dos preços dos últimos anos, os produtores conseguiram se capitalizar melhor e passaram a investir de forma mais consistente em tecnologia e manejo.

“Temos disponibilizado financiamentos para irrigação, porque esse é o caminho para auxiliar o produtor a diminuir as perdas por conta do déficit hídrico”, pondera.

Mercado doméstico

A alta dos preços da commodity também trouxe desafios para o mercado brasileiro. O ano exigiu maior planejamento da indústria, que enfrentou dificuldades para a reposição dos estoques e margens de negociações bastante reduzidas.

“O cenário de alta impossibilitou a indústria de fazer preço médio nos últimos anos, então as empresas acabaram por ir às compras mais vezes, adquirindo café em volumes menores, reduzindo os estoques”, explica Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

Na ponta do varejo, Silva explica que nos últimos anos tem havido uma mudança nos hábitos de consumo, com demanda crescente por cafés gourmet, superior e especial.

De olho nessa demanda, o setor reformulou os selos das embalagens e desde julho deste ano os rótulos passaram a informar a espécie de café predominante e o ponto de torra.

“Cada vez mais o consumidor brasileiro se preocupa com o que está consumindo, busca mais informações sobre origem e qualidade do produto”.

Com isso, a demanda por café também deve registrar alta no mercado nacional. A expectativa da Abic é de que haja um aumento de 1,1% no consumo em 2024, fechando o ano com 22 milhões de sacas ante 21,7 milhões de sacas em 2023.

Safra menor deve impactar consumidor

Os efeitos da seca prolongada que afetaram algumas regiões produtoras ao longo do ano, somadas ao aumento da demanda devem continuar pressionando os preços no início de 2025. “Enxergamos um panorama de alta dos preços no curto e médio prazo, que devem ser repassados ao consumidor a partir do próximo ano”, avalia Leonardo Rossetti da StoneX.

Segundo o analista, esse cenário de repasse deve acontecer não só no mercado brasileiro, mas também na Europa e nos Estados Unidos. “Pode ser que tenhamos uma leve retração no consumo em um primeiro momento, mas não deve ser significativo a ponto de preocupar”, pondera.

Clima e logística seguem em pauta

Os desafios da logística e das oscilações climáticas devem continuar em alta na agenda do setor cafeeiro para 2025 e consequentemente, para a safra 2025/2026. “Ainda é cedo para fazermos qualquer previsão, pois a safra vai depender do clima nas regiões produtoras”, avalia Melo.

Estimativas preliminares da Stonex para a safra 2025/2026 indicam queda de 10,5% na produção de café arábica, ficando em 40 milhões de sacas, justamente por conta das incertezas climáticas.

Ao mesmo tempo, a previsão é de aumento na produção do café robusta, puxado especialmente pelo Espírito Santo, cuja produção não sofreu grandes impactos da estiagem.

Com isso, a primeira estimativa da Stonex prevê um aumento de 20,9% na produção da variedade, chegando a 25,6 milhões de sacas no período.

Assim, deve haver um recuo de 0,4% na safra brasileira 2025/2026 de café, somando 65,6 milhões de sacas.

A boa notícia é que os fenômenos El Niño e La Niña não devem impactar o Brasil no primeiro semestre do ano. “Isso deve trazer um pouco mais de previsibilidade para o produtor”, pondera Rossetti.

Outro tema importante para o setor passa pela questão da coerência dos dados. Rossetti, da StoneX, explica que não só por conta do tamanho das regiões produtoras, mas também por questão de metodologia, os dados do setor ainda são muito incertos.

Matos, do Cecafé, reforça a necessidade de dados mais coerentes. “Existe uma necessidade urgente de aprimoramento das estatísticas”.

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