Dólar inicia ano de olho em novos dados dos EUA, mas ainda com fiscal brasileiro no radar


No último pregão de 2024, a moeda norte-americana caiu 0,22%, cotada a R$ 6,1797. O principal índice de ações da bolsa de valores avançou 0,01%, aos 120.283 pontos. Notas de dólar.
Murad Sezer/ Reuters
O dólar abriu o primeiro pregão de 2025 com investidores esperando novos dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos, mas com o cenário fiscal brasileiro, grande questão de 2024, ainda no centro das atenções no mercado interno.
No último pregão de 2024, a moeda caiu, mas o resultado não foi suficiente para amenizar o avanço da moeda em 2024, que fechou com uma alta acumulada de 27,35%.
Essa foi a maior valorização anual do dólar desde 2020, quando subiu 29,36%, no contexto da pandemia de Covid-19.
A alta da moeda norte-americana em 2024 é resultado de uma série de fatores externos e internos, como conflitos internacionais, nível de juros nos Estados Unidos e expectativas em torno das contas públicas brasileiras.
Especialmente neste fim de ano, os holofotes ficaram com o quadro fiscal do Brasil, em meio a receios do mercado financeiro sobre a efetividade do pacote de corte de gastos anunciado pelo governo no fim de novembro.
SAIBA MAIS:
DE R$ 5,67 PARA ACIMA DE R$ 6: Entenda a disparada do dólar neste fim do ano
O TOM DE LULA: Falas do presidente impactaram a moeda em 2024; entenda
ORIENTE MÉDIO E EUA: Veja outros motivos da alta do dólar
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. São as regras definidas pelo arcabouço fiscal, o conjunto de normas para controle das contas públicas.
Em termos simples, os receios do mercado financeiro em relação às contas públicas se refletem no dólar da seguinte forma:
Sem cortar gastos, o país tem uma perspectiva menor de controle da dívida pública;
Um país mais endividado tem uma probabilidade maior de não cumprir com seus compromissos financeiros, e se torna mais arriscado;
Um país mais arriscado só se torna atrativo se pagar juros mais altos pelos títulos;
Com países mais seguros pagando juros mais altos no exterior, o Brasil fica menos atrativo;
Se o Brasil está pouco atrativo, os investidores tiram dólares do país, enfraquecendo o real.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
MOTIVOS: Ibovespa tem melhor mês desde novembro, mas dólar não segue o entusiasmo
DÓLAR: Qual o melhor momento para comprar a moeda?
Dólar acumula alta de quase 28% em 2024
Dólar
Veja mais cotações.
Na última segunda-feira (30), a moeda norte-americana fechou em baixa de 0,22%, cotado a R$ 6,1797.
Com o resultado, acumulou:
alta de 2,99% no mês;
avanço de 27,35% no ano.

Ibovespa
O Ibovespa começa a operar às 10h.
Na sexta, o índice encerrou em alta de 0,01%, aos 120.283 pontos.
Com o resultado, acumulou:
perda de 4,28% no mês;
recuo de 10,36% no ano.

Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
Neste fim de ano, o mercado seguiu repercutindo o quadro fiscal do país. Há duas semanas, o Congresso concluiu a tramitação do pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal.
A ideia inicial era economizar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, no entanto, as mudanças feitas pelo Congresso devem ter um impacto de R$ 2,1 bilhões, reduzindo a economia para R$ 69,8 bilhões.
Em café da manhã com jornalistas, no último dia 20, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças feitas pelos parlamentares não comprometem a conta final feita pelo governo.
“Fala-se em ‘desidratação’, mas havia expectativa de parte dos analistas que poderia haver ‘hidratação’ [aumento da potência dos cortes de gastos]. Os ajustes feitos na redação não afetam o resultado final. Mantém na mesma ordem de grandeza os valores encaminhados pelo Executivo”, afirmou Haddad.
O mercado, porém, contesta os números. Para a XP Investimentos, o potencial de economia fiscal recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões.
“Apesar da direção correta, vemos o pacote como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos”, diz um relatório da empresa.
O governo precisa reduzir os gastos para atingir a meta de zerar o déficit público. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.
Mas os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Fantástico reforçaram a percepção de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.
O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.
Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.
Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.
Como foi o último pregão do ano
A moeda norte-americana oscilou durante a manhã desta segunda, mas passou a subir e bateu os R$ 6,24 no início da tarde. O BC, então, realizou um leilão de dólares para conter a alta, com a venda de US$ 1,815 bilhão à vista.
Os leilões do Banco Central são uma ferramenta de regulação do mercado de câmbio e servem para aumentar a oferta da moeda norte-americana disponíveis — o que, em tese, faz a cotação cair.
Investidores seguiram atentos ao quadro fiscal brasileiro. Dados divulgados hoje pelo pelo BC mostram que as contas do setor público consolidado apresentaram um déficit primário (quando se gasta mais do que arrecada) de R$ 6,6 bilhões em novembro.
Apesar de negativo, o resultado representa uma melhora em relação ao mesmo mês de 2023, quando o déficit foi de R$ 37,3 bilhões. Os números englobam o governo federal, os estados, municípios e as empresas estatais.
Quando observadas apenas as estatais, o déficit acumulado em 2024 até novembro é de R$ 6 bilhões. No mês, o resultado foi negativo em R$ 1,6 bilhão. Empresas grandes e muitas vezes lucrativas para a União, como a Petrobras e o Banco do Brasil, não entram nesse cálculo por terem regras diferenciadas.
Com esses números, a estimativa é que as estatais terão o pior resultado contábil em toda a série histórica, iniciada há 15 anos.
*Com informações da agência de notícias Reuters

Adicionar aos favoritos o Link permanente.