Trump associa ataque em Nova Orleans à imigração irregular antes de identificação de suspeito, que era cidadão americano

Horas depois de um motorista jogar o carro contra uma multidão em Nova Orleans na noite de Ano Novo, deixando 10 mortos, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, associou o ataque, tratado como um ato de terrorismo, à imigração irregular e afirmou que o país vive uma onda de violência “jamais vista”. Duas alegações que não necessariamente correspondem à realidade.

“Quando eu disse que os criminosos que estão chegando são muito piores do que os criminosos que temos em nosso país, essa declaração foi constantemente refutada pelos democratas e pela mídia de notícias falsas, mas acabou sendo verdade”, escreveu Trump em sua rede social, o Truth Social.

Indiretamente, o presidente eleito deu a entender que o motorista — morto pela polícia em uma troca de tiros — seria um imigrante que vive nos EUA em situação irregular, repetindo uma associação entre crimes violentos e estrangeiros no país. Não foram raras as ocasiões em que citou a suposta vinda de “milhares” de integrantes de organizações criminosas de países como México e Venezuela para matar, estuprar e roubar cidadãos americanos, em uma narrativa que compõe uma das bases da promessa de realizar deportações em massa a partir de 20 de janeiro, quando volta à Casa Branca.

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— Coisas ruins vão acontecer — disse Trump na Convenção Nacional Republicana, em julho. — É por isso que, para manter as famílias seguras, a plataforma republicana promete lançar a maior operação de deportação da História do nosso país.

Contudo, o suspeito de realizar o massacre em Nova Orleans, identificado como Shamsud-Din Jabbar, é um cidadão americano do estado do Texas. Em entrevista coletiva, Alethea Duncan, representante do FBI (polícia federal americana), revelou que o homem serviu no Exército dos EUA, mas não quis fornecer detalhes sobre sua ficha criminal.

Sobre a alegada “onda de imigrantes criminosos”, o serviço de controle de fronteiras dos EUA afirmou que apenas 15 mil dos 2,4 milhões de estrangeiros detidos ao tentar entrar de forma irregular no país tinham ficha criminal. E o FBI afirma que as cidades para onde os imigrantes vão em maior número são justamente as que apresentam as menores taxas de criminalidade.

— Não só não há onda de crimes de migrantes, como não há sequer uma onda de crimes — disse Aaron Riechlin-Melnick, diretor de políticas do Conselho Americano de Imigração, em entrevista à rede KPBS.

Na publicação no Truth Social, Trump foi além e disse que a violência nos EUA “está em um nível que ninguém nunca viu antes”, um outro tema de sua campanha ainda em 2016, e que, mais uma vez, não é corroborado por números.

Em setembro do ano passado, o FBI anunciou que, em 2023, houve uma queda de 3% no número de crimes violentos em relação ao ano anterior — os homicídios caíram 11,6%, os estupros 9,4% e os episódios de agressão tiveram queda de 2,8%. Um estudo do Conselho sobre a Justiça Criminal, de janeiro do ano passado, mostrou redução de 10% nos homicídios em 32 cidades pesquisadas e apontou que a criminalidade estava mais elevada nos tempos de Trump como presidente do que atualmente.

Assim como a ameaça de uma onda de imigrantes violentos cruzando a fronteira, a alegação de que o crime está fora de controle nos EUA foi crucial para garantir a reeleição de Trump em novembro do ano passado.

Do jornal O Globo.

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