Bola de cristal: Lula, Bolsonaro e a política em 2025

Bola de cristal em política nunca dá certo. É inglório o exercício de fazer apostas em algo que tem tantas variáveis. Mas existem lances no 2025 das principais figuras políticas do País que são mais certos. O acerto dessas previsões vai depender de as névoas do mundo real em 2025 serem menos tortuosas do que as das bolas de cristal.

Lula

Para Lula, o principal desafio político em 2025 será consolidar sua agenda de governo diante de um Congresso fragmentado e frequentemente hostil. A dupla Hugo Motta e Davi Alcolumbre, prováveis novos presidentes da Câmara e do Senado, trará uma dinâmica diferente para essa relação, mas não necessariamente melhor. A estreia de Motta na grande cena da política nacional é uma incógnita. O apetite de Alcolumbre, uma certeza. Mas sem a equação das emendas ser resolvida, em essência, nada mudará.

Luiz Inácio Lula da Silva

Na economia, a inflação crescente e a péssima relação com o mercado financeiro ofuscam bons números do desemprego e de crescimento. O dia a dia com o Banco Central comandado por Gabriel Galípolo será objeto de atenção (e talvez tensão) permanente. Os juros altos dificultarão o crescimento que era esperado para o terceiro e quarto anos de governo, e que seriam forças motrizes para robustecer suas chances de reeleição.

Lula precisará saber aproveitar a vitrine da COP30, a primeira na Amazônia, e que pode simbolizar o fracasso de sua tentativa de avançar globalmente no combate às mudanças climáticas ou ser um marco de avanço.

Por fim, o governo terá a última chance de deslanchar na gestão. Falar isso no terceiro ano é estranho, mas o governo até hoje não aconteceu. Há críticas aqui e ali à comunicação, à Saúde, à articulação política, mas poucos falam da falta de gestão de que padece o  Planalto. A Casa Civil de Rui Costa claramente precisa se apossar do governo e fazer uma coordenação geral que hoje inexiste. Resolver isso em 2025 com vistas a 2026 será difícil, mas ainda é possível.

Jair Bolsonaro

O ano de Jair será mais dramático que o de Lula. O calendário que o espera é de uma denúncia em fevereiro pelos crimes de falsificação de carteira de vacina, roubos das joias, e — o mais importante de todos — a tentativa de golpe de Estado em 2022. O que está previsto entre ministros do STF e a Procuradoria-Geral da República: com a denúncia em fevereiro, o tribunal tornaria o ex-presidente réu ainda no primeiro semestre e, ao fim de 2025, Bolsonaro e as dezenas de outros acusados seriam julgados. Uma eventual prisão aconteceria entre o final do ano e os primeiros meses de 2026. Ninguém na PGR ou no Supremo avalia haver chances de o ex-presidente ser inocentado pelo crime de tentativa de golpe de Estado.

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Fora isso, Bolsonaro terá que lutar para preservar seu protagonismo na direita. Por isso, insiste tanto em dizer a todo tempo que ele é o candidato “A, B e C” de 2026. Faz isso para manter as rédeas das negociações, pois já percebeu que ser o favorito de seu eleitorado não significa que terá de fato o poder de decidir sobre quem disputará ou não no seu campo.

Existe a ameaça concreta de Pablo Marçal, nome que, caso saia para o Planalto em 2026, poderia esvaziar uma candidatura da direita avalizada por Bolsonaro. Por isso, crescem as chances de o ex-presidente registrar uma chapa tendo um de seus filhos como vice para que, uma vez negado o registro pelo TSE, alguém com o sobrenome da família assuma a chapa.

Embora tudo isso só vá acontecer em 2026, será em 2025 que as peças desse xadrez serão movimentadas — à espera do xeque-mate que Alexandre de Moraes prepara para sua nêmesis.

 Fernando Haddad

Por essa nem ele mesmo esperava. Fernando Haddad ficou surpreso com o resultado de pesquisas de opinião mostrando que, num dos meses mais tensos para ele em 2024, 27% dos consultados o prefere como sucessor de Lula. A preferência por Haddad contrasta com os fardos inerentes à cadeira: ministro da Fazenda não é dos cargos mais populares, com exceção de Fernando Henrique Cardoso, que ascendeu nacionalmente com o Real. 

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De olho em 2026, e depois da lambança financeira e política neste final de ano, Haddad começa a preparar a agenda da Fazenda em 2025. Na lista está a reforma da renda, o projeto que prevê taxação dos mais ricos e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Medidas que podem alavancar popularidade em ano eleitoral e dar força a discursos como o de “correções de distorções históricas” e o de “taxação dos ricos em benefício de quem ganha menos”. Segundo Lula, a isenção do IR atingirá 70 milhões de pessoas — um público considerável para quem está de olho nas urnas.

No entanto, Haddad já entendeu que, para contabilizar isso como ganho político-eleitoral, ele precisa se consolidar, também, na outra ponta: como um nome comprometido com o crescimento sustentável, o equilíbrio das contas públicas, controle da inflação e geração de emprego e renda. E foi justamente aí que o molho desandou: o mercado financeiro, onde se formam os preços da economia real, está terminando o ano em pânico – um problema que o Super Haddad terá que ser capaz de contornar para Lula (ou ele próprio) ter uma narrativa de equilíbrio em 2026.

 Gabriel Galípolo

Gabriel Galípolo é uma peça importante para o ministro da Fazenda. Assume o comando do Banco Central com apoio de Lula e declarações de que terá total autonomia para conduzir a política monetária como quiser. Na prática, o sucesso de Lula e Haddad em 2026 dependem, em larga medida, do de Galípolo.

Gabriel Galipolo

Em tese, Galípolo senta na cadeira de presidente com atenção voltada totalmente para único alvo (o controle da inflação) e usando um único instrumento (a taxa de juros). 

Mas se o BC não coordenar com a Fazenda para criar um fato novo capaz de reverter as expectativas do mercado, a dinâmica já instalada – câmbio derretendo e juros em alta todo dia – se tornará ainda mais perniciosa e acabará sufocando o Governo. 

Antes mesmo de assumir o cargo, o novo presidente do BC vem se colocando internamente como um “consultor” do governo e dizendo que participa de reuniões muito mais para avaliar as repercussões que determinados movimentos podem ter do que para dizer o que e como deve ser feito. 

Pela gravidade da crise, Galípolo, Haddad e Lula deveriam se falar muito mais.

 Rui Costa

Rui Costa é um consenso nada positivo entre seus pares e no Congresso. Em resumo, falta a Lula um chefe da Casa Civil. Cabe a quem está nesse cargo dar aos diversos braços do governo um senso de grupo, coesão, fazê-los marchar numa única direção. Para isso, teria que ter uma noção do todo que, mesmo quem gosta de Rui admite, não é o caso. Não bastassem as dificuldades de relacionamento com figuras centrais do governo, como Haddad, Rui parece ainda não ter desencarnado do cargo de governador. Fora a Bahia, ocupa-se principalmente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que não tem a pujança que teve nos outros governos petistas nem entregas capazes de recuperar a importância política do passado.

Politicamente, o foco de Rui em 2025 será mais restrito: deve investir em sua candidatura ao Senado pela Bahia, já que sabe que dificilmente conseguiria ser o sucessor de Lula numa eventual janela em 2026. O ministro quer que o PT concorra às duas vagas do estado, com Jaques Wagner buscando a reeleição e ele tentando a outra vaga. Os petistas não se mostraram preocupados com a recente queda na aprovação do Governador Jerônimo Rodrigues: segundo a pesquisa Quaest, a aprovação caiu de 63% em julho para 54%, em dezembro. Com a chave do PAC na mão, o ministro tem como turbinar essas candidaturas — e assim fará. Mas deveria ter como foco fazer o Governo Lula dar uma guinada que melhorasse as chances de reeleição.

Alexandre Padilha

Entre os ministros com mais urgência de melhorar suas performances à frente das pastas que lideram, Alexandre Padilha é aquele cujo trabalho é o mais difícil de se avaliar. Fazer articulação política sob as regras atuais do jogo com o Congresso é penoso, tamanhas as amarras criadas pela distribuição das emendas parlamentares. Senadores e deputados na prática têm à sua disposição orçamentos superiores à maioria dos municípios, e forte capacidade de pressão – o que tira as armas de que tradicionalmente o Executivo dispunha para convencê-los a votar com o governo.

Em breve, sob Hugo Motta e Davi Alcolumbre, Padilha será de fato testado na articulação política, já que eram claras as tentativas de Arthur Lira de sabotá-lo — basta lembrar que Lira chegou a pedir a Lula a cabeça do ministro. Se falhar em reduzir a hostilidade com o Congresso, Padilha poderá ser realocado para o Ministério da Saúde, hipótese que é defendida por partes do Centrão como algo a ser feito já na reforma ministerial de janeiro/fevereiro. Padilha, entretanto, acredita que fica onde está.

Ricardo Lewandowski

No Ministério da Justiça, a grande prioridade — e dificuldade — de Ricardo Lewandowski em 2025 será aprovar a PEC da Segurança Pública, que prevê o aumento de competências da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal e propõe a constitucionalização do Sistema Único de Segurança Pública. O grande embate é sobre a autonomia dos estados, que o ministro garante que será mantida. Se aprovada, o que hoje é algo bem difícil de ocorrer, a proposta será um legado da gestão de Lewandowski. Mas se falhar…

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Se falhar, Lewandowski dará razão a quem foi contra sua nomeação e dizia que ele não conseguiria driblar o abacaxi da crescente violência urbana. Segurança pública é hoje um dos temas centrais da polarização, e o governo Lula já chegou à metade sem ter trazido para o dia a dia do cidadão algo concretamente novo na área. O programa Celular Seguro, da gestão de Flávio Dino, foi deixado de lado ao longo do ano e ressuscitado aos 45 de 2024, mas é pouco frente ao oceano de insatisfação do brasileiro nessa seara. Se falhar novamente em oferecer soluções, o governo levanta para a oposição cortar em 2026.

 Tarcísio de Freitas

Entrará em seu terceiro ano no Palácio dos Bandeirantes como candidato à reeleição — ao menos é o que tem dito — mas não sabe se chegará ao fim do ano nessa condição. Hoje, Tarcísio é um dos nomes mais fortes para ser o candidato da oposição em 2026, ocupando o lugar de um Bolsonaro preso. A missão da reeleição ganhou impulso considerável após o sucesso nas eleições de 2024, que terminaram com Tarcísio como o maior fiador da reeleição de Ricardo Nunes à Prefeitura e com um domínio de sua base no interior paulista.

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Ainda no contexto de sua emancipação em relação ao ex-chefe, 2025 também deve impor desafios políticos e, é provável, desgastes ao governador de São Paulo. A perspectiva de troca de guarda, com a prisão de Bolsonaro, conflagrou uma guerra na direita que tem tudo para estourar ainda mais em 2025, e Tarcísio é um dos nomes preferenciais a ser alvejado pelas franjas mais radicais do bolsonarismo. Mas hoje, politicamente, o principal risco para seu futuro está no âmbito doméstico, com a segurança pública em crise.

Se as cenas de truculência da PM paulista desgastaram sua imagem e a do secretário Guilherme Derrite no fim de 2024, 2025 indica começar com uma crise mais aguda na Polícia Civil. Após ter sido citado na delação premiada de Vinícius Gritzbach, empresário fuzilado a mando do PCC no Aeroporto de Guarulhos em novembro, o chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fábio Lopes, foi afastado do cargo. Afinal, acusações de ligação com o narcotráfico e de corrupção são pimentas que o bolsonarismo e o próprio Tarcísio costumam jogar nos olhos dos outros.

Gilberto Kassab

O inventor do PSD termina 2024 como o líder máximo do partido que mais conquistou prefeituras nas urnas brasileiras: 891, das quais cinco capitais e 206 em São Paulo, seu reduto político. Outra métrica do sucesso eleitoral do kassabismo: o PSD foi vitorioso nas eleições das três maiores cidades do Brasil. Levou as prefeituras de Rio e Belo Horizonte e apoiou o vencedor em São Paulo. Com tanto voto, Kassab e o seu PSD começarão 2025 na mesma posição confortável em que se encontram há dois anos. 

Kassab

Criador e criatura têm influência sobre os três maiores orçamentos do País: a União, o Estado de São Paulo e a Prefeitura da capital paulista. Por outro lado, 2025 começará a trazer mais concretamente à mesa os inevitáveis dilemas que a posição de Kassab traz.

Será desafiador manter a exótica combinação de homem forte de um governador bolsonarista no estado mais rico e populoso do País e importante aliado político do governo de um presidente petista. Acostumado a atuar como um grande mediador no PSD, o partido que nasceu sem ser de direita, de centro ou de esquerda, Kassab não disputa eleições há dez anos, quando não se elegeu senador por São Paulo.

2025 deve também começar a responder se ele voltará às urnas em 2026, como possível vice de Tarcísio — seu plano A. A caminhada nessa direção vai ser acompanhada até o fim do ano com movimentos relacionados à eleição presidencial, que deve opor Lula e pelo menos um candidato da direita. Um de seus principais aliados no PSD e secretário-geral da sigla, Alexandre Silveira, é ministro de Minas e Energia. O partido ocupa ainda a pasta da Agricultura e da Pesca — que a bancada na Câmara quer devolver para receber algo mais robusto. O Planalto tem indicado que vai ouvir carinhosamente o apelo.

A onipresença e o poder do PSD não raro têm rendido comparações com o antigo PMDB. É verdade que há semelhanças, sobretudo no proverbial “Se há governo, sou a favor”, mas uma diferença é fundamental: o peemedebismo nunca teve o protagonismo de um Gilberto Kassab.

Ratinho Júnior

O governador do Paraná, no posto desde 2019, deve ter em 2025 o último ano inteiro no cargo. Em 2026, é muito provável que Ratinho renuncie no prazo de desincompatibilização para disputar eleições, ainda não se sabe a quê. Saiu fortalecido nas eleições municipais do Paraná, em que ajudou a eleger 164 prefeitos do seu PSD entre as 399 cidades do estado — incluindo Curitiba, onde derrotou a candidata de Jair Bolsonaro.

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O governador tem sido cogitado como possível vice em uma chapa da oposição. No Planalto, há quem avalie a possibilidade até de ele ser um possível nome para ser vice de Lula, o que seria uma maneira de atrair o PSD de corpo e alma para a candidatura da esquerda, seja ela encabeçada por Lula ou Haddad.

Publicamente, Ratinho não vê o partido na posição de vice e defende um PSD protagonista em 2026. Na avaliação de Gilberto Kassab, Ratinho é hoje a estrela eleitoral do partido no plano nacional. “Só não será candidato se não quiser,” já disse o presidente do PSD.

O mesmo Kassab, no entanto, costuma dizer que os planos pessedistas para ter um presidenciável miram os pleitos de 2030 ou até 2034, quando se imagina haver mais espaço em meio à polarização — e aumentaria as chances de Kassab seguir com um pé em cada canoa entre direita e esquerda, revezando os apoios que o PSD dá a um ou outro, sem enfrentá-las de fato nacionalmente.

Contemplando outra hipótese, mais modesta, aliados de Ratinho dizem que ele já seria o virtual dono de uma das duas cadeiras ao Senado em disputa em 2026. Para isso, nem precisaria gastar sola de sapato em campanha.

Ronaldo Caiado

Fora Bolsonaro, Ronaldo Caiado foi o único nome no campo da direita que já se lançou candidato a Presidente. Passou boa parte de 2024 em guerra com  o capitão, em mais uma ida e vinda de uma relação cheia de casamentos e separações, analogias caras ao mundo bolsonarista. Mas a dinâmica desse relacionamento pode estar caminhando para um fim, já que a chance de Bolsonaro ser candidato em 2026 hoje é próxima de zero, e o governador de Goiás já avisou publicamente que só abriria mão de sua candidatura se o nome fosse Bolsonaro.

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Caiado já disputou a Presidência em 1989 pelo extinto PDN, uma legenda criada pela União Democrática Ruralista (UDR), fundada por Caiado. Hoje no União Brasil, partido com capilaridade nacional e formado por políticos conservadores de diferentes matizes, Caiado teria bem mais chances do que na nanica sigla pela qual enfrentou Lula na primeira eleição direta pós-ditadura.

A segurança pública, com os ótimos indicadores de redução de criminalidade em Goiás, seria sua principal vitrine. Se sair candidato, tentará angariar o voto de quem defende um endurecimento ainda maior das polícias País afora.

Se o plano A de disputar o Planalto fracassar, Caiado tende a tentar voltar ao Senado, movimento com poucos riscos de fracasso. Hoje inelegível por abuso de poder político na campanha vitoriosa de Sandro Mabel em Goiânia, deverá conseguir reverter no TSE a condenação dele e de seu prefeito para manter seus planos eleitorais e não correr o risco de perder o domínio na capital, onde Mabel acaba de derrotar o candidato de Bolsonaro.

Colaboraram Bruna Lima, João Pedroso de Campos, Sheila D’Amorim e Tatiana Farah.

Guilherme Amado é colunista do PlatôBR.

Guilherme Amado

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