Pelo Norte e pelo Oeste, agro brasileiro busca encurtar caminhos marítimos até a China

Entre janeiro e outubro deste ano, as exportações do agronegócio brasileiro somaram US$ 140 bilhões, valor 0,7% maior do que o registrado no mesmo período de 2023, segundo dados do governo federal.

A China é responsável por cerca de 30% dessas negociações. No ano passado inteiro, o gigante asiático investiu mais de US$ 60 bilhões em produtos agrícolas brasileiros, US$ 9,5 bilhões a mais do que em 2022.

Diante da tendência de crescimento dessa relação do Brasil com seu principal parceiro comercial nos próximos anos, o agro nacional tem buscado o caminho mais curto e menos custoso até o outro lado do globo. E o modal marítimo está sempre em destaque, até porque 95% do comércio internacional do País passa pelos portos.

Cada novo anúncio de investimento no modal marítimo vem acompanhado de uma análise de representantes do agronegócio brasileiro sobre os benefícios para a conexão com os chineses. O último leilão portuário do Brasil neste ano deu início a uma nova rodada de avaliações nesse sentido.

O pregão realizado na B3, em São Paulo, no dia 18 de dezembro, foi conduzido pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), em parceria com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), e envolveu o Porto de Maceió, em Alagoas, o Porto de Santana, no Amapá, e o Porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro. A expectativa de investimentos nos três terminais é superior a R$ 3,6 bilhões.

Em relação ao agronegócio, chama a atenção a aposta no Porto de Santana, tanto pela localização estratégica – uma porta de entrada e saída para as regiões Norte e Nordeste – quanto pelas negociações já em andamento com os chineses.

No início de novembro, foi assinado um protocolo de intenções entre a Companhia Docas de Santana e a Comissão Administrativa da Zona de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico de Zhuhai, na China, com o objetivo de criar uma rota marítima direta entre a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e o Porto de Santana das Docas, o que reduziria em 14 dias o tempo de transporte, se comparada às opções tradicionais.

Essa iniciativa faz do Porto de Santana um hub estratégico entre Brasil e China, pois vai intensificar a o compartilhamento de tecnologias entre os dois países e ampliar o acesso a biofertilizantes. Além das perspectivas de ampliar o escoamento de matérias-primas agrícolas produzidas no Amapá e em outras regiões do País.

O processo já está em andamento, tanto que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) testou o primeiro lote do biofertilizante, que será avaliado no Amapá e poderá ter produção local a partir de um acordo de cooperação para transferência de tecnologia entre a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e a Sino-Lac, empresa chinesa que conduz a Plataforma Integrada de Serviços Econômicos e Comerciais Sino-Latina-Americana.

Esses são alguns dos motivos pelos quais o consórcio Rocha Granéis Sólidos de Exportação apostou mais de R$ 58 milhões no leilão do Porto de Santana, definindo o resultado final do pregão e assumindo a operação portuária no terminal MCP03 pelos próximos 25 anos.

Ao longo desse período, o terminal, que é dedicado à movimentação de armazenagem de grandes sólidos vegetais, sobretudo milho e soja, vai receber investimentos de R$ 89 milhões, aplicados em melhorias como a ampliação de píer, dragagem de aprofundamento e pavimentação do espaço externo.

“O assunto Porto de Santana é o que mais temos visto em termos de investimentos rumo à China”, disse a especialista em Agricultura e Fertilizantes da Argus Media, Renata Cardarelli.

No mês passado, os debates sobre as possibilidades de encurtar a distância entre o agronegócio brasileiro e a China estavam mais voltados ao outro lado do continente, por causa da inauguração do Porto de Chancay, no Peru, localizado a aproximadamente 70 quilômetros da capital Lima.

Inclusive, a participação majoritária no investimento de US$ 3,5 bilhões é da empresa chinesa Cosco Shipping, proprietária de uma das maiores frotas mundiais de navios cargueiros, como noticiado pelo NeoFeed.

Entre as principais vantagens para o agronegócio brasileiro da saída pelo Pacífico, via porto de Chancay, estão a redução do período de navegação em mais de dez dias, na comparação com os trajetos pelo Atlântico, agilidade que diminuiria o custo do transporte marítimo.

“Exportações e importações vão ficar mais baratas, aumentando a competividade dos nossos produtos e reduzindo os preços para a população”, destacou a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.

A possível rota pelo Pacífico também é vista de forma positiva pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.

“O Brasil, que tem um grande volume de exportação para a Ásia, usa a rota via Atlântico, que é muito mais longe. Essa conexão direta com a China será benéfica para agilizarmos as exportações de produtos do agro brasileiro”, disse.

A empolgação dos ministros, no entanto, não é sentida da mesma forma pelo mercado, pois as vantagens logísticas proporcionada por Chancay, que será o maior porto da América do Sul, são suprimidas pelos desafios para se chegar até lá.

Levando-se em consideração apenas o trajeto em território peruano até Tabatinga, no Amazonas, são cerca de 800 quilômetros por rodovias que cruzam os Andes. E ainda há todos os demais trechos dentro do Brasil.

“É claro que, para o agronegócio e para os demais setores industriais do Brasil que tenham relação com a China, ter uma saída pelo Pacífico é importante, pela redução de tempo de deslocamento”, disse Renata.

“Mas, até o momento, de todas as pessoas com quem conversei a respeito, ninguém viu uma mudança significativa”, completou a especialista da Argus sobre os benefícios de Chancay.

As empresas que estão mais próximas do Peru, como as localizadas na Zona Franca de Manaus, certamente poderão tirar mais proveito da nova opção logística. Mas não é o caso de grande parte das agroindústrias brasileiras, principalmente para as exportadoras. A situação ainda pode ser favorável para a entrada de produtos vindos da China, beneficiando quem depende das importações.

Para Renata, até que a saída por Chancay se mostre de fato vantajosa para a entrada e saída dos produtos agropecuários, uma opção é o Porto de Antofagasta, no Chile.

“Fizemos uma comparação de distâncias até o Porto de Shangai. Por Antofagasta, são 18.677 quilômetros, enquanto por Santos (SP), são 20.475. Isso se traduz em menor tempo”, afirmou. A especialista lembra, porém, que em qualquer circunstância é essencial que se tenha infraestrutura para chegar até os terminais portuários.

Os investimentos nesse modal tendem a continuar aquecidos, o que é bastante justificável pois 95% do comércio internacional do País passa pelos portos.

Por meio do MPor, o governo federal pretende leiloar 42 empreendimentos portuários nos próximos dois anos, somando mais de R$ 14 bilhões em investimentos e incluindo áreas estratégicas dos portos de Santos, Paranaguá (PR) e Rio de Janeiro (RJ).

++ Notícias

  • Chuvas intensas atingem Sudeste e Centro-Norte do país nesta quinta; veja previsão do tempo

  • Vários soldados norte-coreanos feridos e capturados morreram na Ucrânia, afirma Zelensky

  • China lidera mercado logístico global pelo nono ano consecutivo

  • China lidera mercado logístico global pelo nono ano consecutivo

  • Raça Agro espanta a RJ e agora “voa” para faturar R$ 500 milhões em 2025

O post Pelo Norte e pelo Oeste, agro brasileiro busca encurtar caminhos marítimos até a China apareceu primeiro em Market Insider.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.
 
 

[email protected]