A política brasileira: Uma trama de narrativas e contradições

Por Osvaldo Matos Júnior* 

Vivemos em um Brasil onde os conceitos tradicionais de direita e esquerda foram diluídos em um mar de narrativas construídas para atender a interesses próprios. A polarização política, que deveria ser baseada em ideologias e propostas, tornou-se um espetáculo de adaptação, onde cada grupo molda seu discurso ao público-alvo, abandonando os pilares básicos que sustentariam uma verdadeira identidade política.

A reflexão nasce de uma conversa que tive recentemente com um amigo cuja vida reflete uma fidelidade rara aos seus ideais. Ele vive de forma austera, alinhada a uma essência socialista: sem bens materiais, sem planos de acumulação financeira, e destinando boa parte do que ganha a ajudar comunidades carentes. Esse perfil contrasta profundamente com a maioria dos agentes políticos brasileiros que, enquanto falam em defesa dos desfavorecidos ou da meritocracia, vivem o oposto do que pregam.

Essa dualidade levanta uma pergunta central: como podemos acreditar em uma esquerda que se entrega aos confortos do capitalismo ou em uma direita que ignora os princípios da eficiência e da responsabilidade fiscal? O Brasil vive uma distorção grotesca dessas ideologias, criando um sistema político movido por conveniências e não por convicções.

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A conclusão a que chegamos — e que inquieta profundamente — é que, no Brasil, direita e esquerda são apenas máscaras para práticas de poder. A administração pública oscila entre atender “companheiros” ou “parceiros”, enquanto a maioria da população permanece à margem, sendo usada como ferramenta para a perpetuação de privilégios. Essa engrenagem deletéria é sustentada por narrativas propagadas por uma mídia frequentemente cooptada pelos grupos políticos dominantes.

Mais grave ainda é perceber que essa estrutura foi meticulosamente construída para manter o povo brasileiro em um estado de alienação. Dados acadêmicos apontam que mais de 60% da população possui um QI na média de 80 — reflexo direto de um sistema educacional precário que perpetua a incapacidade de interpretar textos, resolver problemas básicos e compreender os acontecimentos globais. Um povo sem pensamento crítico é facilmente manipulado, e essa realidade atende perfeitamente aos interesses daqueles que se alimentam do poder.

E a alienação não para por aí. Vivemos em um país marcado por indicadores alarmantes de violência brutal, serviços públicos deteriorados, gastos públicos sem rigor ou controle, e uma carga tributária sufocante que espreme a qualidade de vida do cidadão comum. No entanto, tudo isso não é suficiente para despertar movimentos sociais robustos e organizados que possam lutar contra essa realidade. O sistema conseguiu não apenas impor sua estrutura exploratória, mas também neutralizar qualquer reação popular significativa, criando uma nação resignada e apática diante de sua própria miséria.

A geração que hoje está na casa dos 50 anos perdeu o jogo há muito tempo. Crescemos e vivemos em um sistema que nunca nos deu espaço real para mudança. O que me preocupa é que nossos filhos e netos estejam destinados ao mesmo destino, capturados por uma engrenagem que limita sua capacidade de sonhar e construir um país melhor.

Se não houver uma transformação profunda, baseada em educação de qualidade, compromisso ético e uma real ruptura com as práticas viciadas do passado, o Brasil continuará preso ao ciclo de desigualdade, corrupção e atraso. A esperança existe, mas ela precisa ser alimentada por atos e escolhas que quebrem essas correntes. Caso contrário, permaneceremos como reféns de um sistema que promete mudanças enquanto nos mantém atados ao retrocesso.

O Brasil precisa, mais do que nunca, de uma revolução de consciência. E isso começa pelo reconhecimento de que as mudanças não virão de cima para baixo, mas de um povo que, ao conquistar educação e autonomia, finalmente se levantará para exigir o país que merece. Sem isso, continuaremos presos a um futuro que repete o passado, perpetuando o ciclo de sofrimento e exploração.

*Cientista político e social e publicitário. Especialista em gestão pública; comércio exterior; inteligência competitiva; planejamento estratégico e comunicação e marketing.

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