Doenças similares à dengue e zika preocupam especialistas para 2025

Doenças similares à dengue e zika preocupam especialistas para 2025

|  Foto:
Pixabay

A dengue registrou recordes históricos em 2024, mas a mudança regional e do tipo de infecções de doenças similares também tem mobilizado especialistas e o Ministério da Saúde para o próximo ano.É o caso do oropouche. Diferentemente das demais arboviroses transmitidas pelo Aedes Aegypti, como a dengue, chikungunya e zika, a doença é oriunda de um inseto chamado maruim. Conhecida desde os anos 1960 no Brasil, era interpretada como casos isolados no Nordeste. Isso mudou.Hoje, segundo Tânia Fonseca, coordenadora de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da FioCruz, um avanço inesperado já foi detectado no Espírito Santo, onde 3.112 casos foram confirmados. Em todo o país, são 10.940 casos de oropouche só neste ano.Os sintomas são similares aos da dengue, como dores musculares, náusea, diarreia e dor de cabeça. A especialista chama atenção para outro aspecto: a transmissão vertical –da gestante para o bebê. Similar à zika, o oropouche pode causar malformações no feto e até a morte.Em novembro, a FioCruz confirmou um caso de morte fetal no Ceará. Uma malformação também foi confirmada no Acre, enquanto 23 continuam em investigação. Em julho, a morte de dois adultos por oropouche aconteceu nos estados da Bahia e Maranhão, segundo a Saúde.”Além de lidar com a dengue, que já são quase 6 milhões e 700 mil casos, mais aproximadamente 270 mil casos de chikungunya, a gente ainda tem 10 mil casos de oropouche”, diz Tânia.Até agosto deste ano, a chikungunya também já havia feito mais vítimas do que em todo o ano passado. Em novembro, foram 200 mil casos, 210 mortes confirmadas e 112 ainda em investigação, de acordo com o monitoramento da Saúde. Além da proliferação do mosquito pelo mapa, fatores como a baixa resistência a anticorpos estão entre alguns determinantes para a letalidade da doença.Segundo Tânia, a única arbovirose que retrocedeu em 2024 foi a zika, que não registrou nenhuma morte e 6.000 casos. Não há uma explicação para a redução, mas há um motivo para os recordes das demais arboviroses pelo país: a crise climática.Até então, a presença do Aedes Aegypti era atribuída a regiões mais úmidas e também em períodos mais quentes, como no verão. “Hoje, até nos lugares mais frios, como o Sul, a gente tem Aedes. Ou seja, o vetor também evoluiu. Ele se adaptou”, afirma a especialista.Em novembro, um estudo concluiu que, até 2050, a projeção é que 40% dos casos de arboviroses sejam relacionados às mudanças climáticas. O Brasil foi um dos 21 países analisados. Atualmente, 19% dos casos brasileiros estão ligados à crise do clima.A razão é a mudança no regime de chuva e as mudanças abruptas de temperatura entre as estações. As duas características beneficiam a reprodução de mosquitos e insetos pelo país.Para Rivaldo Cunha, secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, o governo federal calcula um orçamento de R$ 1,5 bilhão em ações contra a arbovirose para o próximo ano, de campanhas a inspeções domiciliares de criadouros.”Passada a pandemia, o trabalho de [prevenção domiciliar] não foi retomado na sua mesma magnitude, no seu mesmo patamar que estava antes. Então, é uma coisa que nos preocupa para o próximo verão”, diz.O valor inclui de inseticidas a compra de vacinas contra a dengue Qdenga, que Cunha reconhece ter sido utilizada ainda para uma parcela pequena população –4 milhões de crianças e adolescentes– devido à limitação de capacidade de produção do laboratório japonês Takeda.A expectativa é substituí-la pela vacina do Instituto Butantan, que solicitou o registro à Anvisa na última segunda (16).Outra estratégia contra as arboviroses será ampliar para 40 municípios a soltura de mosquitos estéreis, geneticamente modificados, para frear a reprodução do aedes. Atualmente, Cunha diz que apenas três cidades do sudeste se beneficiaram do método na última década.Ao mesmo tempo, ele reconhece que ainda é preciso estudar mais o oropouche para traçar uma ação e evitar mais “uma dor de cabeça” como o surto de zika vírus, em 2015, quando mais de 10 mil infecções causaram microcefalia em bebês.”Nós não queremos vivenciar a mesma correria da zika com o oropouche”, diz.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.