Deus não joga dados com o universo: fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão

*Abilio Wolney Aires Neto

Albert Einstein, um dos maiores gênios da humanidade, legou à história uma visão profunda sobre as conexões entre ciência, filosofia e espiritualidade. Sua famosa equação  revolucionou nossa compreensão ao demonstrar que matéria e energia são intercambiáveis. A ideia de que a matéria é “energia congelada” nos leva a reconhecer que o que percebemos como sólido e permanente é, na verdade, uma manifestação temporária de uma energia mais fundamental, ampliando nossa percepção do universo e da vida.

Essa perspectiva desafia tanto a visão materialista quanto a fé cega, comum em segmentos religiosos, como os neopentecostais radicais, que frequentemente se recusam a aceitar verdades científicas. Ao negar, por exemplo, a evolução ou as leis da física, esses grupos falham em reconhecer que as descobertas científicas não contradizem a existência de Deus, mas revelam a grandiosidade de Sua obra. Deus, afinal, criou as leis universais eternas que regem o cosmos, e a ciência é o meio pelo qual o ser humano desvela essas leis, honrando o Criador. Como disse Allan Kardec, “A fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.”

Kardec, o codificador do espiritismo, também introduziu o conceito do fluido cósmico universal, uma ideia que pode dialogar com as descobertas da ciência moderna. Segundo o espiritismo, o fluido cósmico universal é a essência primária e invisível que serve de substrato para tudo o que existe, tanto no mundo material quanto no espiritual. Ele é descrito como a matéria-prima fundamental criada por Deus, que, ao ser manipulada pelas leis naturais ou pela vontade divina, origina as formas e manifestações de energia e matéria que percebemos.

Essa visão encontra paralelo com a ideia de que a matéria é “energia congelada”. Ambas sugerem que tudo no universo, do físico ao espiritual, emerge de uma mesma fonte primordial. Enquanto o fluido cósmico universal seria a base de todas as transformações e manifestações do universo, a ciência moderna explora como a energia se transforma e organiza para formar tudo, desde partículas subatômicas até galáxias.

O fluido cósmico universal também dialoga com os fenômenos descritos pela física quântica. Em níveis subatômicos, a matéria parece surgir de campos invisíveis de energia e interagir de maneiras que transcendem nossa lógica clássica. Da mesma forma, Kardec aponta que o fluido cósmico universal permeia tudo, sendo maleável tanto às leis naturais quanto à ação dos espíritos superiores. Ele seria a ponte entre o físico e o espiritual, assim como a energia é o vínculo entre matéria e movimento no contexto científico.

Essa noção também enriquece o debate sobre os chamados mistérios da fé. Muitos aspectos espirituais, tidos como inexplicáveis, podem ser reinterpretados à luz do fluido cósmico universal. Fenômenos como curas espirituais, percepções extrassensoriais e mesmo a interação entre o mundo material e o espiritual podem ser vistos como manipulações ou manifestações desse fluido. Em vez de negar a ciência, o conceito se alinha à ideia de que as leis divinas são acessíveis à compreensão humana, ainda que de forma parcial e progressiva.

A frase atribuída a Einstein, “Deus não joga dados com o universo”, também se harmoniza com essa visão. Para Kardec, o fluido cósmico universal é regido por leis universais e imutáveis, criadas por Deus para manter a ordem e a harmonia do cosmos. Assim, o que parece caótico ou inexplicável é apenas reflexo de nossa limitação em compreender plenamente essas leis.

Ao integrar o conceito de fluido cósmico universal ao diálogo entre ciência e fé, percebe-se que tanto Einstein quanto Kardec buscavam desvendar as conexões mais profundas do universo. A ciência revela que a matéria e a energia são manifestações interligadas; o espiritismo amplia essa compreensão ao propor que essa energia primordial também é a base para as dimensões espirituais da existência.

Em última análise, a reconciliação entre ciência, fé e amor exige uma postura de abertura e humildade. Tanto o conhecimento científico quanto o espiritual são caminhos para compreender a essência do universo e a grandiosidade de Deus. O fluido cósmico universal, assim como o amor, une o físico e o espiritual, revelando que tudo está interligado por uma força divina que transcende o visível e o tangível. Quando aceitamos que ciência e fé são expressões complementares da mesma verdade, ampliamos nossa visão do mundo e nos aproximamos do divino, descobrindo que a essência da existência está tanto na matéria quanto no espírito, e que o amor é o elo eterno que os une.

Abílio Wolney Aires Neto | Foto: Acervo Pessoal

*Abílio Wolney Aires Neto é Juiz de Direito da 9ª Vara Civel de Goiania.
Cadeira 9 da Academia Goiana de Letras, Cadeira 2 da Academia Dianopolina de Letras, Cadeira 23 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás-IHGG, Membro da União Brasileira de Escritores-GO dentre outras.
Graduando em Jornalismo.
Acadêmico de Filosofia e de História.
15 titulos publicados

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