O legado de Antonio Carlos Figueira

Por Ítalo Rocha*

Nesta segunda-feira, 23 de dezembro, faz um ano que o médico Antonio Carlos Figueira encerrou sua batalha de 26 meses contra o câncer. Um momento de muita tristeza para os seus familiares e amigos.

O escritor americano Gay Talese diz, em um de seus livros que escreveu sobre a história do jornal The New York Times, que há pessoas que vêm ao mundo para carregar pedras e outras para construir catedrais. Antonio Carlos Figueira se enquadrava nessas duas categorias.

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Com um currículo extenso de prestação de serviços à população pernambucana, ACF, como também era chamado na intimidade, foi presidente do Imip, secretário de Saúde no segundo governo de Eduardo Campos e secretário da Casa Civil e chefe da Assessoria Especial nos dois governos de Paulo Câmara. Como secretário de Saúde, implantou a Lei Seca, que tem como objetivo salvar vidas ao punir  o motorista que dirige depois de beber; criou o “Saúde em Casa”, um programa de transporte para dar assistência em casa aos pacientes que saem do hospital ainda precisando de apoio médico; montou o Comitê de Prevenção de Acidentes com Motos e construiu no Recife e no interior as primeiras Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada (UPAEs), onde são oferecidas consultas com médicos especialistas em oftalmologia, otorrinolaringologia, neurologia, ortopedia e cardiologia.

Na presidência do Imip, perdeu noites de sono pensando em um projeto pra lá de ousado: a reativação do antigo Hospital Pedro II, que estava sem funcionar há quase 30 anos. Bateu em várias portas até conseguir apoio para concretizar seu sonho de recuperar aquele prédio centenário que estava abandonado, servindo apenas de depósito para a Secretaria Estadual de Saúde. Inquieto e com uma invejável visão de futuro, Figueira enxergou naquele edifício quase em ruínas, e cheio de leitos vazios à espera de pacientes, uma oportunidade de transformá-lo de novo em um hospital para voltar a servir à população pobre de Pernambuco. O caminho foi marcado por muitas dificuldades, mas, com o apoio financeiro dos governos federal, estadual, municipal, de empresas privadas e de doações individuais, em agosto de 2010 o Pedro II reabriu as suas portas. E assim seus 198 leitos deixaram a ociosidade para atender de graça a quem mais precisa: os usuários do Sistema Único de Saúde – o SUS.

Hoje, o Pedro II conta com equipamentos de última geração, oferece serviços de medicina nuclear, de quimioterapia e radioterapia para pacientes oncológicos, realiza transplantes de córnea, rim, fígado, coração, pâncreas e medula óssea. O Pedro II também criou a Enfermaria de Cuidados Paliativos, que acolhe e arrefece o sofrimento de doentes terminais. Inspirado em seu pai Fernando Figueira, fundador do Imip, Antonio Carlos também se encarregou de criar a Faculdade Pernambucana de Saúde. Inaugurada em 2005, a FPS já formou 2.060 médicos e 2.300 enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos, nutricionistas e deu início à graduação em odontologia. A FPS é uma das escolas de saúde do Nordeste mais bem avaliadas pelo Ministério da Educação. 

Em vida, Antonio Carlos Figueira era assim mesmo, carregava pedras como qualquer um de nós pobres mortais, mas nunca abandonou o sonho de construir catedrais!

*Jornalista

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