O que esperar das empresas do agro na bolsa em 2025? Especialistas respondem

Se de um lado o Ibovespa, principal índice da B3, aponta para um recuo ao final de 2024, ações de empresas do agro não acompanharam, necessariamente, o mau humor do mercado. A BRF, Marfrig e a JBS, por exemplo, acumularam altas de quase 100%, 70% e 50%, respectivamente, de janeiro até dezembro.

Já papeis de empresas como BrasilAgro, SLC Agrícola e Boa Safra, navegaram o ano no vermelho.

Para tentar projetar o que as empresas listadas do agro brasileiro na bolsa devem encarar no ano que vem, o AgFeed conversou com Renata Cabral e Gabriel Barra, analistas do Citi, que falaram sobre seus papéis de cobertura na B3.

Em resumo, Cabral, que analisa os frigoríficos, se mostra otimista com JBS e BRF, e projeta um ano tão bom quanto foi 2024.

Já Barra, que fica mais perto de empresas expostas aos grãos e cana-de-açúcar, vê um ano açúcarado nos balanços sucroenergéticos e uma safra boa recheando resultados da SLC e 3Tentos.

“Nos grãos, caminhamos para uma safra positiva, que foi até mais rápida no plantio que no ano passado. Parece uma temporada mais cheia e mais produtiva, com a soja correndo bem na safra de verão, trazendo uma boa perspectiva pro milho de inverno”, afirmou Gabriel Barra.

Confira a visão dos analistas para algumas das principais empresas do agro na B3:

JBS (JBSS3)

Na JBS, preferida do banco dentre os frigoríficos, Renata Cabral prevê um ano de 2025 tão bom quanto 2024.

A analista ressalta que este ano foi melhor que o esperado. “A gente já estava positivo para a tese desde 2023, mas veio melhor do que o previsto. O ciclo do frango veio bastante positivo junto com US Pork forte. Junto com a Pilgrim’s e a Seara, no Brasil, foi um show à parte”, afirmou Cabral.

No acumulado dos últimos doze meses até o terceiro trimestre deste ano, a empresa da família Batista acumula uma receita de R$ 396 bilhões e um lucro líquido de R$ 7,2 bilhões. Por unidade de negócio, foram R$ 44 bilhões da Seara, R$ 93 bilhões da Pilgrim’s e R$ 124 bilhões da venda de bovinos nos EUA.

O tripé que garantiu esses resultados fortes, segundo a analista, e que deve se repetir em 2025, é o preço dos grãos em baixa, uma demanda forte nos EUA e Brasil, além de um mercado de exportação aquecido. “Um empurrão do câmbio também trouxe resultados muito fortes comparado com o histórico”, acrescenta Renata Cabral.

O Citi tem um preço-alvo de R$ 46 para a ação da empresa negociada na B3, o que traria uma valorização de 21% frente ao preço atual, por volta de R$ 38.

Cabral ainda vê que o movimento de desalavancagem da empresa, que atingiu 2,15 vezes, adiantando o guidance que a própria JBS havia colocado para chegar nesse patamar só no quarto trimestre, pode fazer com que a companhia continue sua agenda de diversificação e aquisições.

Em outubro, a empresa entrou no centro de um boato envolvendo a compra da Oscar Meyer, empresa de embutidos da Kraft-Heinz. A vontade da Kraft Heinz em vender essa subsidiária não é nova. Em abril deste ano, o jornal norte-americano The Wall Street Journal já havia noticiado que a companhia seria colocada no mercado. De acordo com a agência de notícias Reuters, seria um negócio de US$ 3 bilhões.

“Se aparecer um deal com valuation adequado eles não vão perder oportunidades. Ao mesmo tempo, enxergo uma disciplina financeira na direção”, disse.

Essa disciplina seria uma pedra fundamental para que a dona da Seara mantenha seu rating de crédito e dê mais passos rumo à listagem das ações nos EUA, acredita Cabral.

BRF (BRFS3)

A dona da Sadia e da Perdigão foi outra empresa com resultados expressivos em 2024. Depois de amargar consecutivamente, R$ 3,09 bilhões e R$ 1,86 bilhão em prejuízos em 2022 e 2023, a companhia somou, até setembro, um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões em 2024.

Renata Cabral considerou um ano fantástico para a BRF. “Tínhamos uma visão mais conservadora em relação ao que poderiam ser os resultados, e acabou que tem sido um ano forte por uma questão operacional e pelo ciclo de melhoria de eficiência interna”.

Ela relembrou que a companhia levantou, em 2023, R$ 5,4 bilhões em um follow-on, o que ajudou a controlada da Marfrig a entrar em um ano com melhor condição de caixa. “É razoável considerar que 2025 também veremos um ano positivo”.

A ação da BRF acumulou alta de 100% do primeiro pregão de janeiro até a metade de dezembro, com seu papel indo de R$ 13,25 para cerca de R$ 26. Por conta dessa alta, o Citi prevê que a ação ande de lado no ano que vem, mesmo com um operacional forte.

A analista acredita que a BRF deve continuar a colher bons resultados nas exportações, com uma demanda internacional forte e com outros países com menos condições de suprir essa demanda.

Além das vendas internacionais em alta, a BRF tem feito uma série de aquisições para aumentar sua posição lá fora.

Entre outubro e novembro deste ano a companhia anunciou a aquisição de 26% da Addoha Poultry Company, uma fabricante de frango na Arábia Saudita e de uma fábrica de processados em Henan, na China. As aquisições custaram, respectivamente, US$ 84,3 milhões e R$ 460 milhões.

Renata Cabral, do Citi, não vê que essas aquisições foram tão robustas, e acredita que a empresa segue em busca de novas oportunidades para crescer em 2025 fora do País.

Minerva (BEEF3)

A Minerva deixou analistas de mercado com um ponto de interrogação em 2024. Depois de anunciar em 2023 que compraria 16 plantas da Marfrig por R$ 7,5 bilhões, num movimento que aumentaria a capacidade de produção em 50% da companhia de carnes, a aquisição foi finalmente aprovada. Pelo menos em partes.

Se no Brasil, Argentina e Chile os órgãos regulatórios aprovaram a compra, no Uruguai a companhia enfrenta dificuldades. Em dezembro, o governo uruguaio manteve a decisão do Cade celeste e impediu a aquisição das três plantas.

A Minerva até sugeriu a venda de uma das plantas com a exigência de que a Marfrig não soubesse da nova proposta, mas não conseguiu o sinal verde. Enquanto a Minerva aguarda novos passos, o mercado precifica um ano ainda dúbio para a companhia.

Segundo Cabral, do Citi, ou a aquisição das plantas vai ser um divisor de águas e a empresa ficará “maior, mais forte e mais representativa”, ou 2025 pode ser um ano de ajuste, com a empresa gastando energia para colocar as novas plantas em ordem.

“É um case binário com upsides, mas que tem muito risco e volatilidade na administração”. O Citi recomenda a compra das ações da Minerva, e prevê um preço-alvo de R$ 9,50 até o final de 2025, o que traria um upside de 72% no papel.

Marfrig (MRFG3)

O Citi está restrito na cobertura de Marfrig, mas outros bancos também olham para a situação envolvendo a compra das plantas da Minerva como um ponto de atenção. A Genial Investimentos, por exemplo, acredita que o entrave no Uruguai pode dar volatilidade às ações no curto-prazo.

De acordo com a Genial, a decisão “impede uma desalavancagem mais acelerada, mas os recursos já depositados em garantia mitigam pressões imediatas”.

“Já não considerávamos em nosso modelo a geração de Ebitda incremental derivado dessas plantas justamente porque avaliamos que as chances de aprovação eram baixas e, portanto, fundamentalmente não há alteração de proposição”, ressaltou o banco.

Leonardo Alencar, da XP, se mantém neutro com a ação, mas possui um preço-alvo de R$ 17,50, o que traria uma valorização de quase 10% para a ação. Esse viés ligeiramente positivo está ancorado, segundo ele, no aumento de valuation da BRF, que tem apresentado bons balanços.

SLC Agrícola (SLCE3)

Gabriel Barra, analista do Citi, recomenda a compra da ação da SLC, e projeta um valor de R$ 21 em doze meses, um upside de 15%.

Barra acredita que o mix entre dólar alto e preços mais estáveis nas commodities pode trazer um cenário positivo para as exportadoras, por isso projeta uma melhora no resultado dos balanços da SLC no ano que vem.

“Temos visto muitos investidores perseguindo uma exposição a exportadoras, que acabam de certa forma tendo exposição a dólar, e SLC é uma dessas teses. Além disso, no micro, a SLC faz alocação de capital bem hábil”, afirmou.

Ele ainda vislumbra que a SLC segurou as rédeas em um momento que o preço de terra e de arrendamento subiram, e agora, com preços mais amigáveis, anunciou novos contratos. “Vemos um cenário positivo para a SLC aumentar sua área, mantendo esse mix de arrendamento com terra própria”, disse.

Essas oportunidades se dão muito em função das RJs do campo, que beneficiam players mais capitalizados.

3tentos

Na empresa da família Dumoncel, o Citi aposta em uma valorização de 20% em 12 meses para o papel.

No contexto de melhoria de produtividade nas lavouras, o mercado para insumos deve melhorar. No segmento industrial, o aumento no mix de biodiesel no diesel tradicional beneficia a companhia.

“O projeto de etanol de milho da companhia também deve beneficiar a empresa. Vemos um retorno elevado nos investimentos numa companhia que performou bem e projetamos uma tendência positiva daqui para frente”.

Boa Safra (SOJA3)

Na empresa da família Colpo, a dinâmica de um bom mercado para insumos também deve trazer bons números nos balanços de 2025.

“A Boa Safra é uma empresa que, ao longo do tempo, apresenta crescimento consistente, e talvez 2024 foi o primeiro ano em que eles tiveram dificuldades pela quebra de safra”, opinou Barra, do Citi.

O analista projeta um preço de R$ 18 para a ação SOJA3, uma valorização de cerca de 80% em um ano.

Se de um lado a safra mais calma ajuda o mercado de insumos, a produção de sementes pode ter sido afetada justamente pelo tempo mais quente, o que pode trazer algum risco para a ação.

“Em 2024 houve um crescimento aquém do esperado”, afirma.

Vittia (VITT3)

Para a Vittia, apesar de dois anos consecutivos desafiadores, o Citi acredita que a empresa se fortaleceu no período.

Barra afirma que a estratégia de crescimento de Vittia baseia-se em quatro pilares: desenvolvimento de novos produtos de alta margem, aumento da participação de mercado em culturas de maior valor, maior relevância no portfólio de parceiros comerciais e acesso ao mercado internacional.

Diante disso, recomenda a compra do papel com um preço-alvo de R$ 8 em doze meses, o que traria uma alta de pouco mais de 50% no período.

Parte dessa alta está ancorada pela regulamentação do mercado de biológicos, sancionada pelo Governo Federal no apagar das luzes de 2024. “A recente aprovação da regulamentação do mercado de proteção biológica deve implicar em menos concorrência com produtos biológicos desenvolvidos diretamente nas fazendas”.

Somado a isso, o Citi vê a empresa diversificando geograficamente em 2025, focando em culturas de alto valor o café e também com presença em HF. “O plano de expansão no Mato Grosso, voltado para milho e soja, continua em andamento, com a flexibilidade para ajustes conforme o desempenho do segmento agrícola”, acrescentou.

Setor sucroenergético

Gabriel Barra tem uma visão positiva para empresas de açúcar e etanol, mesmo começando 2024 um pouco mais pessimista. O efeito do câmbio em alta, que acaba aumentando o preço do petróleo e por consequência o da gasolina, ergueu também o do etanol, explica.

“Olhando a próxima safra parece um cenário ainda melhor para precificação de açúcar, que deve ajudar os próximos trimestres e anos. No etanol, apesar de mais desafiador, o câmbio com o petróleo acima de US$ 70 por barril suporta o preço do biocombustível”, afirmou o analista, que ainda prevê uma boa safra à frente.

O Citi cobre as ações da Jalles Machado (JALL3), Raízen (RAIZ4) e São Martinho (SMTO3), e recomenda a compra dos três papéis.

Os preços-alvo são de R$ 10, R$ 4,50 e R$ 33 para cada uma, respectivamente. O retorno esperado nesses cenários é de 112% para Jalles, 97% para Raízen e 33% para São Martinho.

Barra considera São Martinho um player mais puro do setor, enquanto a Raízen tem diversas apostas em segmentos como etanol de segunda geração e a Jalles Machado aposta em linhas como açúcar orgânico.

Na Raízen, empresa do grupo Cosan, o desafio é diminuir as dívidas. A empresa parece estar disposta a tomar esse caminho, e anunciou no final de 2024 uma série de mudanças na sua diretoria, incluindo a troca de Ricardo Mussa, que deixou o grupo, por Nelson Gomes, que era CEO da Cosan e assumiu o mesmo posto na controlada.

“A mudança no management mostra que a Raízen vai perseguir uma geração de caixa. A Raízen tem toda uma dinâmica de alocação de capital após IPO, de muito investimento, redução de canavial, E2G e biogás. São investimentos que trazem retorno, mas no ambiente macro de juros altos, ela precisa ser mais restritiva”, afirmou Barra, do Citi.

Em 2025 a Raízen deverá, segundo Gabriel Barra, separar ativos core e não core. A empresa parece dar sinais de se livrar de operações que não são as principais.

No começo de dezembro, o boato que surgiu envolvia a venda, por R$ 1 bilhão, de uma série de usinas de geração renovável de pequeno porte. Na última sexta-feira, 20 de dezembro, foi confirmada a venda de 31 usinas de energia solar por R$ 475 milhões.

Kepler Weber (KEPL3)

André Mazini, analista do Citi que cobre o papel da Kepler Weber, acredita que a diversificação das fontes de receita é o grande trunfo da estratégia da companhia de silos e armazenagem.

Em um relatório enviado a clientes do banco após a última edição do Investor Day da empresa, ele ressaltou que a ideia de atuar com aluguel de silos e a introdução de silos bags de entrada, pode ampliar o mercado da empresa.

“A nova linha de receita recorrente via aluguel de silos tende a ser valorizada a múltiplos mais elevados em relação ao negócio tradicional. Somado a isso, o aumento dos custos de transporte, especialmente ferroviário, tem impulsionado a demanda por silos e soluções de armazenamento mais eficientes”.

Ele também acredita que a iniciativa de vender silos para investidores institucionais através de um fundo de R$ 500 milhões pode ajudar a empresa a manter uma margem bruta e competitiva de até 25% sobre os aluguéis.

O preço-alvo do banco para o papel é de R$ 12 em um universo de doze meses, o que traria uma alta de quase 25% ao investir na ação neste intervalo.

 

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