Doutor Araguaia no front da guerra cultural

Ao final da sessão o público foi celebrar a memória. Fotografei com a queridíssima e lutadora pelos desaparecidos políticos da Ditadura Militar Brasileira, Sônia Maria Haas. Gravem este nome.

Sônia Haas é irmã do Dr. João Carlos Haas Sobrinho, o Dr. Juca – que não sabia dançar muito bem -, médico formado pela UFRGS que segundo depoimentos emocionantes e emocionados relatam o pioneirismo do Dr. Juca na Saúde Pública brasileira nos rincões da Amazônia, em um período histórico em que a Saúde não era um direito básico fundamental como prevê o artigo 196 da Constituição Federal de 1988.

O Filme Doutor Araguaia (2024) do documentarista Edson Cabral foi realizado por meio de recursos públicos da Cultura através da Lei Complementar n.º 195/2022 popularmente conhecida de Lei Paulo Gustavo no Tocantins, a qual possibilitou a execução desta obra cinematográfica cuja temática é necessária à memória política do país: os corpos dos mortos e desaparecidos pelo regime militar.

No último 10 de dezembro – dia Internacional da Promulgação dos Direitos Humanos – o Conselho Nacional de Justiça acatou a recomendação do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos sobre a certidão de óbitos. A partir de agora as certidões serão:

“Morte não natural, violenta, causada pelo Estado a desaparecido no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política no regime ditatorial instaurado em 1964.”

O Médico João Carlos Haas – filiado ao PCdoB e combatente da Guerrilha do Araguaia – foi assassinado em 30 de setembro de 1972 aos 31 anos e seu corpo nunca foi encontrado.

Há meio século a irmã e roteirista do documentário, busca insensatamente não apenas o corpo do João Carlos, mas a memória que a alegra em saber dos grandes feitos e apreço popular que o Dr.  Juca conquistou na região do Bico do Papagaio, onde para muitos ele era um herói que salvou muitas vidas.

Um pouquinho antes de iniciar a exibição, o diretor falou algo que mexeu comigo: “a obra preenche uma lacuna de quem é o João Carlos Haas Sobrinho no Sul e quem é o Dr. Juca no Norte do País”. Tanto, que além dos recursos públicos da Cultura o projeto tem apoio institucional das Prefeituras Municipais de São Leopoldo do Sul no Rio Grande do Sul e de Porto Franco no Maranhão.

Seguindo a narrativa fílmica o lançamento aconteceu em cidades chaves para compreensão do SER Doutor Araguaia e ontem 17 de dezembro, Palmas a capital do Tocantins foi a terceira cidade se emocionar com a história de mais um brasileiro que lutou pela justiça social e democracia nos anos de chumbo da Ditadura Militar brasileira.

Com exibição única e bastante prestigiada pelo atual titular da Secretaria da Cultura do Estado, o Secretário Tião Pinheiro, pelo representante do MINC no Tocantins – o Cícero Belém, por membros da Direção Estadual do PCdoB, por artistas ligados à cena cultural progressista como Dorivã, Nacha Moretto e Jorge Menares e pelos amigos e pacientes do Dr. Juca.

Jandira Feghali – Deputada Federal pelo PCdoB no Rio de Janeiro e autora de leis importantíssimas para a Cultura brasileira – embora não tenha convivido como a maioria dos personagens com o Doutor Araguaia chora ao reafirmar a luta dos que tombaram contra a Ditadura Militar e reitera a importância de produções como as que filme aponta: chama atenção para a Guerra Cultural e Ideológica que estamos vivendo na contemporaneidade.

 A perspectiva apresentada é interessante na conjuntura política brasileira quando nós temos a nível mundial a aclamação e indicação do Ainda Estou Aqui do Diretor Walter Salles, baseado no livro homônimo do Marcelo Rubens Paiva, que também narra o desaparecimento do Rubens Paiva – seu pai – e a luta da Eunice Facciolla Paiva para que o Estado reconheça que matou o seu marido e obter a Certidão de Óbito. Uma luta de 25 anos.

A luta da Família Haas – magistralmente encabeçada pela Sônia Haas, que é uma personagem instigante no filme – pelo reconhecimento e direito aos restos mortais do Dr. Juca é hercúlea e inspiradora. A ausência do João Carlos Haas é sentida até por parentes que não tinham nascido, quando ele foi assassinado.

João Carlos Haas é presente na ausência. A lágrima que escorre – em meio à dor e esperança – é carregada de camadas estéticas cujo teor ao invés de afastar, aproxima; como aproximou a sobrinha a seguir a carreira na Medicina tal qual o Tio Avó. Ele foi e é muito amado.

Que conheçamos mais as histórias de homens e mulheres que doaram suas vidas na luta incansável contrarregime Ditatorial. Que saibamos quem foi o Doutor Araguaia e a importância dele para história política do país seja em Rio Grande do Sul, em São Paulo – mas principalmente – na Região do Bico do Papagaio, onde ele criou raízes na memória social e afetiva como os relatos em Porto Franco no Maranhão.

João Carlos Haas Sobrinho, PRESENTE!!
João Carlos Haas Sobrinho, PRESENTE!!
Dr. Juca, PRESENTE!!

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