Verão marcado por chuvas favorece energia e agronegócio, mas eventos extremos preocupam, diz estudo

O excesso de chuvas deve marcar as semanas entre o fim de 2024 e começo de 2025, quando se inicia oficialmente o verão. A expectativa é que a onda de umidade favoreça setores da economia que enfrentaram dificuldades no mesmo período do último ano, como a energia e o agronegócio. A informação é de um levantamento da consultoria Nottus, especializada em meteorologia para negócios, divulgado em primeira mão para a EXAME.

Além disso, a próxima estação não deve apresentar ondas de calor, como as vistas no verão 2023-2024. De acordo com o estudo, as mudanças são causadas pelo fim do El Niño, fenômeno que aquece às águas do Pacífico. Por conta dele, o último verão brasileiro apresentou um volume de chuvas abaixo do esperado e irregular em boa parte da região central do país.

Nesta estação, que tem início no sábado, 21, esse excesso de chuvas deve favorecer reservatórios e mananciais, conforme a meteorologista da Nottus Desirée Brandt. “Apesar de não ser esperada uma massa de frio, o mês de janeiro pode ter temperaturas abaixo do esperado, muito influenciado pelas fortes chuvas”, explica.

O fenômeno La Niña – que diminui as temperaturas das águas no Pacífico – ainda não se formou, segundo a especialista. Apesar disso, sua formação não deve trazer grandes consequências para o mercado brasileiro, como nos últimos anos. “O Rio Grande do Sul, antes de sofrer as enormes chuvas e as enchentes, viveu um período de seca puxado pela La Niña, o que não acontecerá neste verão”, explica.

Ainda sobre o Estado gaúcho, são esperadas precipitações espaçadas em todo o verão, sem a previsão de novas enchentes de grande proporção como as vistas em setembro de 2023 e maio deste ano.

Efeitos positivos no agronegócio

Alexandre Nascimento, sócio-diretor da Nottus, conta que o cenário de maior umidade será benéfico para as safras, puxado ainda pela expectativa de temperaturas mais amenas: enquanto o início de 2024 contou com temperaturas até 3°C acima da média, a expectativa é que o verão 2025 permaneça 1°C abaixo.

“Enquanto o ciclo 23/24 teve falta da água e excesso de calor, esperamos que esse ano seja de ‘perrengues chiques’ para o agro, como pela baixa radiação solar e dificuldades para algumas semeaduras”, explica.

Quem não está feliz é o setor de varejo de verão, como sorveterias e lojas de ar-condicionado. “Atendemos lojas que se reforçaram estoque com base no ano passado, mas com as temperaturas mais amenas deste ano, o lojista que investiu mais vai se frustrar”, explica.

As safras de soja e milho devem ser as mais beneficiadas, especialmente por estarem mais concentradas no Centro-Oeste. Já no Nordeste, a região de MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) receberá chuvas fortes a partir da segunda quinzena de janeiro, o que vai favorecer o desenvolvimento das plantações.

No turismo, há controvérsias

Com a chuva concentrada na porção central do país, o Rio Grande do Sul se livra da expectativa de grandes chuvas, o que favorece setores do turismo que tiveram queda desde as enchentes no Estado, como as vinícolas.

A área mais afetada deve ser o litoral do Sudeste, especialmente pelo período de festas e férias. A região serrana do Rio de Janeiro, as praias de São Paulo e Espírito Santo e o sul de Minas Gerais devem enfrentar complicações a partir do aumento de chuva e umidade.

Os especialistas não descartam a chance de novos efeitos climáticos extremos como os enfrentados no litoral Norte de São Paulo em fevereiro de 2023. Após fortes chuvas, houve desmoronamento de casas e deslizamento de terra, que ocasionaram na morte de 64 pessoas.

“O período mais prologado e resistente de chuvas volumosas vai molhando o solo, que uma hora sente esse impacto. Em regiões de encostas de São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro, os moradores devem ficar em alerta”, explica Brandt.

Já no Nordeste, a costa entre Salvador e Natal não viverá um período de chuvas tão intensas, o que pode favorecer o turismo na região. “O calor vai mais intenso nessa região, com muitos moradores reclamando da falta de chuva e da seca”, conta Nascimento.

Ótimo cenário para a geração de energia

De acordo com os meteorologistas entrevistados, a região entre São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás – apelidada de “caixa-d’água do Brasil” — já tem recebido chuvas de forma regular, colaborando para as hidrelétricas de maior impacto nacional, cenário que deve ser mantido nas próximas 6 semanas. O mesmo é esperado do Norte e Nordeste, com a chuva que compensará a seca do último ano.

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