Policiais, advogado e empresários delatados por Gritzbach por lavagem de dinheiro e elo com PCC movimentaram R$ 72 milhões


É o que aponta relatório da PF e do MP sobre corrupção cometida por delegado, quatro investigadores, advogado e dois empresários de SP. Sete suspeitos estão presos; outro é procurado. Todos foram denunciados por Vinicius Gritbabch antes de ele ser morto. Presos e procurado na operação da PF e do MP em São Paulo
Reprodução
Cinco policiais, um advogado e dois empresários delatados por Vinicius Gritzbach por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e elo com o Primeiro Comando da Capital (PCC) movimentaram juntos ao menos R$ 72 milhões de maneira ilegal nos últimos cinco anos.
É o que aponta o relatório da investigação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público (MP) de São Paulo sobre o grupo. O documento foi obtido pela equipe de reportagem. O também empresário Gritzbach foi assassinado no mês passado após fazer a denúncia à Justiça (saiba mais abaixo).
Das oito pessoas identificadas no esquema criminoso, sete delas foram presas nesta semana pelas autoridades durante a “Operação Tacitus”. Outra não foi encontrada, é considerada foragida e está sendo procurada.
O delegado Fábio Baena e os investigadores Eduardo Lopes Monteiro, o “Du”, Marcelo Roberto Ruggieri, o “Xará” e Marcelo Marques de Souza, o “Bombom”, estão entre os presos. Os três trabalham como policiais civis em São Paulo. O agente da Polícia Civil, Rogério de Almeida Felício, o “Rogerinho Punisher” fugiu e não foi preso.
Os demais detidos são o advogado Ahmed Hassan Saleh, o “Doutor Mudi”, e os empresários Ademir Pereira de Andrade e Robinson Granger de Moura, o “Molly”.
De acordo com o documento, para lavar o dinheiro os investigados investiam dinheiro da propina paga pelo PCC aos polícias e do tráfico de drogas da facção criminosa em negócios imobiliários e na abertura de contas de empresas-fantasmas.
Como funcionava o esquema
PF prende delegado e mais 3 policiais civis de São Paulo suspeitos de atuar para o PCC
A investigação identificou essa movimentação financeira irregular entre 2018 e 2022. Segundo a Polícia Federal e Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, o esquema criminoso envolve:
Manipulação e vazamento de investigações policiais para integrantes do Primeiro Comando da Capital: para eles se anteciparem a eventuais operações e não serem presos. Em troca disso, os agentes da Polícia Civil cobraram dinheiro dos investigados;

Venda de proteção policial a criminosos: membros do PCC contratavam os serviços de “bico”, segurança e escolta ilegal por parte dos agentes;

Corrupção: para beneficiar um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico da facção criminosa PCC junto ao mercado imobiliário. Integrantes da facção e policiais compravam imóveis, criavam empresas ou se associavam a elas para tornar seus investimentos aparentemente lícitos. Mas no caso dos agentes, a investigação notou que os bens adquiridos e declarados oficialmente por eles eram incompatíveis com os salários que recebiam na Polícia Civil.
Dinheiro e armas apreendidos durante operação da PF e do MP-SP contra policiais corruptos ligados ao PCC
Reprodução/TV Globo
Todos os oitos investigados citados acima haviam sido denunciados por Vinicius Gritzbach antes de ele ser assassinado no mês passado. O empresário do ramo imobiliários conhecia o grupo pois lavava dinheiro para ele, seja na aquisição de empreendimentos imobiliários ou no investimento de criptomoedas e joias.
Também investigado pelo Ministério Público por suspeita de corrupção de lavagem de dinheiro, Gritzbach denunciou o grupo durante delação premiada à Justiça. Caso fosse condenado, ele teria a pena reduzida. O empresário respondia aos crimes em liberdade.
Gritzbach acusou os cinco policiais de cobrarem R$ 40 milhões de propina para não responsabilizá-lo pelos assassinatos de dois membros do PCC. O empresário era investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) por suspeita de ter mandado matar Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue” em 2021.
Ele não pagou o dinheiro do suborno e foi indiciado pela polícia pelos homicídios. Gritzbach foi executado a tiros no dia 8 de novembro na frente do Aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Execução de Gritzbach
Caso Gritzbach: novas imagens mostram momento da execução do empresário
Câmeras de segurança gravaram o crime cometido por dois homens encapuzados e com fuzis que fugiram em seguida (veja vídeo acima). Um motorista por aplicativo foi atingido por um dos disparos e também morreu.
Dois suspeitos de participarem da execução dele foram presos dias depois pela força-tarefa criada pelo governo paulista para investigar o caso. Matheus Augusto de Castro Mota e Matheus Soares Brito teriam ligação com o Primeiro Comando da Capital.
O terceiro suspeito procurado como foragido pelo homicídio do empresário é Kauê do Amaral Coelho. Segundo a força-tarefa, mais pessoas podem estar envolvidas no crime.
Além de investigarem o possível envolvimento do PCC no assassinato de Gritzbach, as autoridades apuram a hipótese de que policiais possam ter participado da execução dele. Um áudio gravado pelo empresário mostra uma conversa entre um membro da facção oferecendo R$ 3 milhões a policiais para matá-lo.
A equipe de reportagem tenta localizar as defesas dos oito investigados para comentar o assunto.
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