Roberson Guimaraes
A selva é um deus faminto. Um deus que permite viver em segurança dentro de seus domínios, mas exige o preço mais alto em troca. Sua voracidade nunca acaba, e aqueles que vivem sob seu controle devem entregar seus filhos a ela como parte de um tributo canibal cíclico. Nesta história de terror da autora cubana Elaine Vilar Madruga, mães são forçadas a criar seus próprios filhos como alimento futuro, em um sacrifício feito de sangue e loucura. A selva literalmente devora crianças que são oferecidas a ela em troca de itens básicos de sobrevivência, como animais e vegetais.
Essa é uma obra na qual a natureza causa medo e ansiedade. Em vez de amiga, ela surge como adversária da humanidade. É um tipo de literatura que vem sendo chamada de eco-horror e que se estabelece a partir do momento em que surge a pergunta: e se a natureza decidir dar o troco?

“O Céu da Selva” é um livro que ora parece uma fábula, ora um romance de terror, ora um conto feminista ou um roteiro de filme. Pode ser tudo isso ao mesmo tempo, e de fato, é bem provável que seja essa inclinação indisfarçável pela mistura que transformou o romance em algo diferente de qualquer outra obra de ficção que eu me recorde.
O livro de Vilar Madruga é uma história selvagem e radical. Uma obra comovente que conecta o melhor da tradição literária latino-americana com as preocupações atuais em torno de temas como ecologia, feminismo e maternidade.

Um artefato estranho escrito com uma veia claramente feminista. Nele, as mulheres, apesar do abuso, da violência e do ambiente sufocante em que vivem, são as pessoas que organizam a vida e tornam tudo mais ou menos funcional.
Recomendo fortemente.
Roberson Guimarães, médico e crítico literário, é colaborador do Jornal Opção.
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