O barro e a rosa da dicção literária de Hélverton Baiano

Ademir Luiz

Parte considerável da melhor literatura produzida em Goiás, reconhecida pelo rótulo de literatura goiana, foi escrita por baianos natos. É justo afirmar que os baianos estiveram presentes na gênese de nossa literatura. O juiz e poeta Manoel Lopes de Carvalho Ramos, autor da epopeia “Goyania”, publicada em 1896, era baiano de Cachoeira. Seu filho Hugo de Carvalho Ramos escreveu “Tropas e Boiadas”, nosso clássico maior, e tornou-se patrono da Cadeira Número 14 da Academia Goiana de Letras. Justiça poética o fato da escritora Lêda Selma, atual ocupante dessa cadeira, também ser baiana, nascida em Urandi. Mais para os lados do atual Tocantins, fica Riachão das Neves, terra natal do presidente Aidenor Aires.

Neste carrossel de municípios baianos, Cachoeira, Urandi e Riachão das Neves, figura a cidade de Correntina, quase divisa com Goiás, o paraíso profano onde nasceu o poeta de vida não tão fácil Hélverton Valnir Neves da Silva; conhecido pelo nome artístico e arteiro de Hélverton Baiano.

Hélverton é o historiador oficial da pessoa jurídica Correntina, mas a história oficial de Hélverton, pessoa física, não é matéria desse texto de recepção à Academia Goiana de Letras. Hélverton vai historiar a si mesmo. Espero que minta bastante. Em tempos da moda auto ficção, em que literatura e psicanálise se misturam perigosamente, nada mais justo do que inventar a própria biografia como exercício estético.

Mas para não dizer que não falei das flores do sertão, cito a breve nota biográfica publicada no livro Confecção de Poesia, de 1992: “Nasci Hélverton Valnir Neves da Silva, em Correntina, Bahia, e desde as 10h15 do dia 15 de março de 1960 a poesia se tornou, mesmo inconscientemente, um componente básico para minha respiração. Aos 15 anos, vim para Goiânia confeccionar sentimentos e costurar emoções”.  Observamos neste lírico fragmento como o poeta, de 15 em 15, debutou na vida e na poesia. Basta por hora.    

Aprendemos com o brilhante romance “Stoner”, de John Williams, que, se bem escrita e devidamente comprimida, uma vida inteira pode caber em uma página. Ademais, se somos chamados de “imortais”, com certeza, não é por conta de nossas existências mundanas, mas em função de nossas obras literárias que, supõe-se, vão sobreviver a nossa passagem, embora a “angústia de Ozymandias”, evocada por Percy Shelley, não deixe prosperar tantas esperanças.  Seja como for, mesmo as vidas atribuladas de figuras como Ernest Hemingway, Jack London ou Joseph Conrad não podem ser maiores do que seus escritos. No máximo os alimentam e animam a pitoresca indústria de biografias aventurescas.

Hélverton Baiano autografa livro na Livraria Leitura, em Goiânia | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

Portanto, tenho apenas uma contribuição ao relato biográfico no novo acadêmico titular da Cadeira Número 13 da Academia Goiana de Letras. Com toda pompa e circunstância, aviso para gregos e troianos, Montecchios e Caputelos, habitantes de Macondo e Sucupira, além de todos os irmãos Karamázov, que Hélverton pode ser considerado um “Cinderelo Baiano” (sem H), uma vez que cruzou o Rio Paranaíba (ou o Araguaia, no caso), veio, viu e venceu. Vencendo, escreveu. Escrevendo, apareceu. 

São raros os autores facilmente reconhecíveis por seu estilo. Basta um rápido olhar na página para sabermos que um texto de Guimarães Rosa é de Guimarães Rosa, seus arcaísmos, regionalismos e neologismos denunciam. A profusão de vírgulas e pontos e vírgulas em parágrafos intermináveis entregam Saramago. A dicção literária de José Cândido de Carvalho, Ariano Suassuna e Nelson Rodrigues é inconfundível.

Hélverton Baiano pertence a esse seleto grupo de escritores que fazem o radar apitar, seja em aldravias, poemas eróticos, contos pitorescos, crônicas pusilânimes ou robustos romances. Seu vocabulário é quase um glossário. Das páginas de Hélverton escorre baianidade. Não uma baianidade qualquer, essa do clichê ou do estereótipo étnico, mas uma baianidade inventada, que mistura a Bahia de todos os santos de Jorge Amado e uma Bahia que escapou do mapa, lavada pela rosa dos ventos. Uma Bahia onde Correntina só existe como uma cidade invisível ao estilo de Italo Calvino.

Nessa Bahia goiana de Hélverton Baiano a língua é um trava-língua.

É Sassá Canagem.

Sapituca no Furdunço.

Bacondê dê lê lê.

Você compreendeu? Para você o que eu acabei de ler é grego? Na verdade, são os títulos de três livros de Hélverton Baiano. Se Umberto Eco destacava que títulos são chaves interpretativas, nestes casos o leitor é jogado em uma roda viva de sentidos e de capoeira.

“É Sassá Canagem” foi seu segundo livro, publicado em 1989, seis anos depois de sua estreia literária, com “69 — Poesias dos Lençóis e da Carne,” escrito em parceria com o bardo e jornalista Gilson Cavalcante. Trata-se de uma coletânea de poemas, sintomaticamente lançado pelas Edições Porranenhuma, emblemática ação cultural da geração mimeógrafo goiana, da qual o autor foi um dos membros mais ativos, ao lado de nomes como Pio Vargas, Ubirajara Galli e o caçula Carlos Willian Leite. 

“Sapituca no Furdunço” é uma coletânea de contos, lançada em 2011. De acordo com a orelha assinada por um muito suspeito senhor John Pehca Mynôso dos Santos, o que se destaca é a “linguagem escalafobética e as histórias de cachorro doido (…) atiçam na gente um furor prostático e ultrauterino”. O que argumentar diante de tamanho entusiasmo estético? Se está impresso deve ser verdade.

Não se pode negar que os títulos de alguns dos contos geram curiosidade Aureliana. Os exemplos mais evidentes são: “A liutria do dizingonzal”, “Um Cuzufu de Ximbungos”, “Chuíte e Urano Farfalhando loas”, “Zé Bufafais e sua Estrovenga” e “O ponto G do fiofó”.

O arqueólogo Altair Sales e Hélverton Baiano | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

Mas não se engane. Não é preciso armar-se com um dicionário para ler Hélverton Baiano. Da mesma forma que o dialeto criado por Anthony Burgess em “Laranja Mecânica”, só é preciso algumas páginas para acostumar os olhos, o cérebro e os sentidos.

Como escreveu o infalível John Pehca Mynôso dos Santos, “não se assuste com ‘Bacondê dê lê lê’. É apenas uma brincadeira, como todo este livro o é. Forma mais ou menos sincopada de dizer ‘Vá se esconder de lê lê’. Mas, por favor, não se esconda, leia esses causos, crônicas e contos que vai voê vai direto pro… banheiro”.

Diante dessa sutil análise crítica, podemos psicanaliticamente concluir que a literatura de Hélverton Baiano estava então na frase oral? Freud explica “Porranenhuma”.

O crítico americano Harold Bloom, fazendo uma leitura freudiana da história da literatura, estabeleceu que seu processo de desenvolvimento deu-se pelo que chamou de “angústia da influência”, que se traduz pela sucessiva disputa edipiana entre gerações de criadores, onde poetas jovens combatem e, eventualmente, substituem os poetas fortes nos quais se inspiravam.

 Quais são os pais artísticos de Hélverton Baiano? Essa talvez seja uma pergunta sem resposta, uma vez que sua dicção literária vai de Zé Limeira até Bocage, chegando ao poetinha Vinicius de Moraes, talvez a Glauco, mas não sem antes passar por um sem-fim de outras influências, distribuídas da mais alta erudição até a mais baixa subcultura pop e popular, de quadrinhos pulp até fotonovelas italianas.

Romance de Hélverton Baiano | Foto: Jornal Opção

Algumas vezes desafios literários funcionam como divãs psicanalíticos. 

Em 2021, quase saindo da pandemia de Covid 19, organizei a coletânea de contos “O Escritor Como Personagem”. A ideia era que os autores convidados escreveriam histórias ficcionais transformando escritores célebres em protagonistas dessas narrativas. Diante da tal proposta, é razoável acreditar há uma tendência a escolher autores que despertem alguma reação afetiva. Quem Hélverton Baiano escolheu para estrelar seu conto intitulado “Labuta para coisar melhor”? 

Com a palavra, o próprio:

De certo, tirei até o ginásio e me apetrecho com as grandiosidades que encontro nos ditos de poetas e prosadores que deram de aparecer na pequena biblioteca do nosso povoado em meu interiorzão brabo, onde mesmo com o pouco sou professor das crianças da nossa única escola. Zuretaram dentro de mim umas coisas boas, quando encontrei as histórias de João Guimarães Rosa e os versos de Manoel de Barros, parecendo que escreveram dicretado nos meus tinos. Boto isso nos meus exemplos de sala de aula

João Guimarães Rosa e Manoel de Barros parecem ser os suspeitos preferenciais. Pode parecer muito distante um dos outro, mas é uma constatação geográfica que Goiás é a terra de ninguém que separa Minas Gerais do Matogrosso do Sul.

De Manoel de Barros, Hélverton Baiano herdou algo da singeleza do tom coloquial e a lupa literária que coloca em cima das coisas da natureza, com a diferença que salpicou da boa pimenta baiana a poesia puritana do respeitável senhor sul-mato-grossense.

Se Manoel de Barros encheu seus poemas de passarinhos e borboletas virginais, em Hélverton Baiano passarinho é gíria e suas borboletas podem servir de pretexto para rimas safadas. Nos dois casos, a vida rural é tema. Em Manoel de Barros crianças passeiam inocentemente com cabras. Em Hélverton Baiano inocentes cabras representam ritos de passagem que transformam crianças sertanejas em cabras safados.  

Antônio José de Moura mostra dois livros do poeta e prosador Hélverton Baiano | Foto: Hélverton Baiano/2024

No livro “Poemas de Vida Fácil” abundam e desbundam exemplos. Não sem alguma dificuldade na seleção, considerando a solenidade necessária ao momento, cito “Poema Vaca”:

Fiz gado

Quando fui fisgado

Já posso chorar o leite derramado.

Notemos a palavra-chave do poema, “gado”, sendo desdobrada no verso seguinte, tornando-se “fisgado”, como forma de puxar uma expressão popular correlata, “leite derramado”. Trata-se de uma construção poética ao mesmo tempo elegante, sagaz e de apreensão simples. Hélverton Baiano, a despeito de alguns títulos zombeteiramente complexos e a utilização de jargões de nicho e regionalismos, em momento algum pretende desnortear o leitor. É um autor que não apenas preza pela comunicação como faz questão de comunicar divertindo. Nesse sentido, não seria exagero defini-lo como um escritor cômico. Com e sem duplo sentido.

E quanto ao Rosa? “Rosas” seria tema para Barros, mas aqui serei mais cândido.

Em um depoimento gravado em vídeo sobre Guimarães Rosa, o crítico Antonio Candido afirmou que:

“A impressão que se tinha é que ele estava inventando uma linguagem. Eu não tinha formação linguística para saber até que ponto, mas eu senti que ele estava inventando uma linguagem que ao mesmo tempo era plantada na região, mas estava ligada, por exemplo, ao passado da língua portuguesa, que a região tem um certo arcaísmo, e uma criação dele. Uma criação de palavras, uma invenção, uma coisa que acontece muito na língua alemã. A pessoa pode fundir meias palavras, palavras, para fazer uma nova. Ele fazia muito isso. Também me pareceu uma atmosfera completamente diferente. Era um homem encantador, uma prosa adorável, mas me dava sempre a impressão de um homem muito convencional. Eu conheci pouco, mas pelo pouco que conheci, me deu a impressão de um abismo entre a pessoa e o criador.”

Aidenor Aires, presidente da Academia Goiana de Letras, e o bardoHélverton Baiano | Foto: Divulgação

Com certeza, Hélverton Baiano não carrega a pretensão de criar uma linguagem, como, de maneiras diferentes, Guimarães Rosa ou J. R. R. Tolkien fizeram. Contudo, não se pode negar que sua literatura apropria-se dos traços mais evidentes e espetaculosos de dialetos populares que se encontram submersos no imaginário brasileiro. Por esse motivo compreendemos e rimos do que ele escreve, ainda que esse entendimento venha por meio da mesma intuição linguística que permite que cearenses conversem com gaúchos sem maiores empecilhos. Algo impossível entre húngaros, franceses e italianos. 

Diferentemente de Guimarães Rosa, Hélverton Baiano não está distante de sua obra. Pelo contrário, timidamente, parece encarná-la. É uma versão acanhada de sua persona literária libertina e libertária. Um escritor de personalidade e cores quentes, como fica claro quando observamos seu guarda-roupa, suas redes sociais e, claro, seus escritos.  Quando escreveu em sua nota biográfica que veio “para Goiânia confeccionar sentimentos e costurar emoções” não estava brincando. Para ele:

A poesia é a alma do negócio.

Apurei palavras, tornei-me sócio

Fiz baús de fantasia no que ela ousa

Ela esconde e eu procuro o espírito da coisa.

Procurando esse tal “espírito da coisa”, Hélverton Baiano brinca com as palavras, como brincaria com rosas se o dicionário fosse um jardim.

Tal aspecto de sua criação nunca ficou tão evidente como quando li, em primeira mão, os originais do romance “Expedição Abissal”, publicado em 2022. Aqui Hélverton Baiano, seguindo o famoso conselho que Guimarães Rosa deu para Fernando Sabino, deixou de assar biscoitos e decidiu erguer uma catedral. Logo que terminei de ler, mandei para o autor um comentário despretensioso, mas entusiasmado.

O romance “Expedição Abissal” é um livro interessante principalmente pela construção da linguagem. Muito sofisticada, mas ainda assim legível para o leitor circunstancial. Possui muita musicalidade, sobretudo no recurso de repetir palavras. O livro em si é muito bom, realmente excelente, o autor deu brilho para a história.

Ao se colocar como personagem testemunha, aprimorou o interessante. O narrador é quase um fantasma que segue o grupo.  É uma narração em primeira pessoa que ressoa muitas vezes como terceira. O autor esmera a linguagem, como uma construção que permeia sua obra desde o início da década de 1980, quando ganhou o primeiro concurso de contos no estado de Goiás. A escrita deste romance tem também uma forte sonoridade poética, que dá um belo colorido à história.

Gostei muito das inclusões de referências tão díspares quanto ao Bolshoi, ao Romãozinho, aos Jardins Suspensos da Babilônia. Todas muito bem colocadas.

“Filho de padre e filho da puta”, foi ótimo.

É um grande livro. É um clássico de nascença.

Não era minha intenção, mas esse breve comentário foi parar na orelha do livro e, posteriormente, foi incluso em minha coletânea de inspiração borgeana “Por Um Punhado de Prólogos”. Embora escrito com o sangue quente, sem nenhuma elaboração, não retiro nenhuma palavra.

O até então poeta, jornalista, cronista, compositor e contista Hélverton Baiano escreveu mesmo um “clássico de nascença” em forma de romance.

Muito se brinca que Goiás é terra de poetas, que se balançar uma dessas árvores tortas do cerrado cai pelo menos uma dúzia de fazedores de versos. Alguns bons, outros podres, muitos picados pela mosca azul. Também não é difícil achar cultores da arte da narrativa breve. Quem não tem pelo menos meia dúzia de amigos contistas? Cronistas não ficam atrás, com a vantagem que podem facilmente traficar seus produtos nas redes sociais sem chamar atenção das autoridades competentes. Mas há poucos romancistas.

Não é preciso muitos dedos para computar as obras inegavelmente importantes nesse gênero, que se encaixam no citado rótulo de literatura goiana. “O Tronco”, de Bernardo Élis; “Veias e Vinhos” e0” Pão Cozido Debaixo de Brasas”, de Miguel Jorge; “Elos da Mesma Corrente”, de Rosarita Fleury; “Chão Vermelho”, de Eli Brasiliense; “Dias de Fogo” e “Sete Léguas de Paraíso”, de Antônio José de Moura;” Jurubatuba”, de Carmo Bernardes; “As Lesmas”, de Heleno Godoy; “Centopeia de Neon” e “Naqueles Morros Depois da Chuva,’ de Edival Lourenço; “Desconstruindo Sofia” e “Confraria dos Homens Invisíveis”, de Solemar Oliveira. Certamente há outros que me escapam no momento, mas não muitos. Hélverton Baiano somou mais um título importante nessa bibliografia restrita. Esse feito bastaria para consagrá-lo. 

No romance “Expedição Abissal”, inspirado nos exageros de uma história supostamente real envolvendo um grupo de cientistas que entrou em uma caverna em Goiás e só saiu pela outra ponta na Bahia, Hélverton Baiano brincou de Guimarães Rosa, entre arcaísmos, malabarismo filológicos, neologismos e citações eruditas e populares.   

Nem Sísifo, nem nada abeirávamos montar nossos delírios. Impossível sungar um isso que fosse, nem por castigo ou degredo. Muito menos por consolo e alívio e esperança e bonança e escapatória.

Curiamos o lugar com inspiração e inspeções minuciosas de gente que conhecia a terra e suas nuances. Nuances de terra tem afazeres diversos. Matutamos, matutamos referências de safar-nos, aluir sem asas, tornar a imaginação no real de nossa vontade. Pelejamos e gritamos. Gritos de brincadeira, abrindo os espaços com entusiasmo, alaridos de maritacas e maracanãs, rebuscando guloseimas em cocos licuris, tucuns e macaúbas das palmeiras enveredadas nas brenhas aquíferas dos cerrados, urros bramidos e guinchos de fim de festa, até batermos em gritos de socorro mesmo e a esmo, vozerios de clemência.

– Eeeeeeeiiiiaaaaaa. Oooooiiiiiiiiiii.

– Socorro, socorro, tem gente por aí, socorro.

– Oooiiii, estamos aqui embaixo. Estamos perdidos. Alguém por aí, oi, oi, oi, oi. Socorro.

Em “Expedição Abissal” o próprio autor virou personagem, acompanhando os amigos cientistas nesta aventura de retorno às terras baianas. Mas se Hélverton Baiano veio da Bahia para Goiás aos 15 anos por cima da terra e debaixo do céu, e em seus 15 minutos de Guimarães Rosa voltou para Bahia por debaixo da terra, voando pelos céus da literatura, essa mesma literatura fez do autor coisa nossa.

Não devolvemos.

Repito. Bahia, não devolvemos.

Hélverton é Baiano aqui, na Bahia Hélverton lhe basta. Suponho que nenhum baiano chama outro baiano de Baiano. 

Mas sendo baiano puro ou baiano impuro tornado goiano, Hélverton selou seu caso de amor com Goiás ao entrar para Academia Goiana de Letras. Prendeu-se com “Algemas de Algodão” na Cadeira Número 13. Penetrou a Casa Colemar com seu “Falo de Amor a Esses Ouvidos Moucos”, uma obra que cultua a língua já no título. De agora para frente, tudo de sua “Lavra de Laivos” está indelevelmente ligado a AGL. A aliança está selada. A confraria definida.

Em um de seus poemas mais emblemáticos, intitulado “Amor IV”, publicado em “Paraíso Profano”, ele escreveu:

Qual a dose ideal de amor,

a que embriaga

ou à que provoca dor?

A resposta é indiferente.

O amor que se sente

cala

ou consente.

Todos nós consentimos, querido confrade Baiano. Bem-vindo à Academia Goiana de Letras, ocupando a Cadeira Número 13. A expressão “Baiano na Academia” não tem 13 letras. Tem 16. Mas, afinal, o que vem depois do 15?

Ademir Luiz é membro da Academia Goiana de Letras – Cadeira Número 31. É colaborador do Jornal Opção.

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