Extrema direita bolsonarista: vitimista, fujona e sempre pronta a abandonar a “pátria amada”

Já é de conhecimento consolidado que a extrema direita bolsonarista é, hoje, um movimento ideológico independente de seu criador, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Um “filho” Frankenstein que cresceu a partir de partes montadas de diferentes vertentes extremistas, do militarismo ao fanatismo religioso. Trata-se de uma corrente que segue um padrão de “princípios” e discursos rigidamente alinhados em uma descoordenada incoerência.

São patriotas, mas parecem ter verdadeira ojeriza a tudo aquilo que faz referência à cultura nacional, nutrindo uma obsessão por Trump, pelos Estados Unidos e por tudo o que de lá venha. Defendem a justiça e a democracia, mas odeiam com todas as forças as instituições encarregadas de aplicá-las e preservá-las – de TSE a STF – além de relativizarem ou até mesmo questionarem a existência histórica da ditadura militar no Brasil. Proclamam-se defensores da vida, mas parecem combater todo e qualquer instrumento de preservação dela, de vacinas a projetos de lei de proteção da fauna e flora.

Ou seja, um grande caldeirão fervente de jargões, cafonices estéticas, discursos replicados à exaustão e contradições. Mas talvez a maior de todas as características da extrema direita bolsonarista seja sua impressionante negação da “pátria amada Brasil” ao menor sinal de necessidade de enfrentar as consequências de seus atos.

Em meados do ano passado, pelo menos nove militantes bolsonaristas condenados ou investigados por participarem dos ataques golpistas às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, quebraram suas tornozeleiras eletrônicas e fugiram do Brasil.

Conforme levantamento feito pelo portal UOL em maio de 2024, os fugitivos escolheram as fronteiras dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul para se esconderem em países como Uruguai e Argentina. Um deles, segundo o UOL, chegou a fazer campanha nas redes sociais para financiar sua permanência no exterior. O pedreiro Daniel Bressan tentou, à época, vender produtos e chegou a rifar seu Fiat Uno 2015.

Muitos, claro, não escaparam do braço da Justiça brasileira, sendo presos mesmo fora do país. As manifestações após as prisões contrastavam fortemente com a postura adotada durante a quebradeira de 8 de janeiro. Antes, enrolados em bandeiras do Brasil, gritavam com ferocidade e ameaçavam a derrubada e destituição do então presidente eleito, Lula da Silva, dos ministros do STF e de quaisquer autoridades que se interpusessem em seu caminho. Depois, foram vistos gravando vídeos em que clamavam por misericórdia, choravam e se diziam vítimas de perseguição.

Por óbvio: filho de extremista bolsonarista, extremista é. E, como bons bolsonaristas, os criadores e principais agentes dessa corrente… filosófica (?) também seguem o mesmo padrão.

Condenada a 10 anos de prisão por invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a deputada federal Carla Zambelli (bolsonarista extrema) anunciou, na última semana, que havia deixado o Brasil. Em bom português: fugiu. Teve início, então, uma caçada à criminosa. Zambelli teria ido para os EUA e, depois, para a Itália. Com a prisão decretada (após a fuga) e seu nome incluído na lista da Interpol, a parlamentar fora da lei declarou, na sexta-feira, 6, que se apresentaria à Justiça italiana “de boa-fé”.

“Estou aqui por conta de uma perseguição política. Vou provar isso. Fui condenada sem provas”, disse em entrevista à CNN. Pobrezinha. Tão perseguida e injustiçada pelo carrasco Alexandre de Moraes. Afinal, quem nunca invadiu o sistema oficial de um órgão constitucional do Poder Judiciário para inserir documentos falsos, como um mandado de prisão contra o ministro Moraes?

Antes dela, tivemos outro fujão. E o caso foi ainda mais cômico. “Não irei me acovardar, não irei me submeter ao regime de exceção e aos seus truques sujos”, disse Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, ao anunciar, no início do ano, que estava nos EUA, e que lá ficaria. Um detalhe importante: contra ele não havia absolutamente nenhuma ação em curso, seja investigação, indiciamento ou condenação.

Desde então, Eduardo – que segue licenciado da Câmara Federal – tem sido sustentado pelo pai, que confirmou ter mandado R$ 2 milhões para que ele “não passe necessidades” em solo americano. Ora, é preciso ver se o montante será suficiente.

Agora se sabe que Eduardo, ao deixar sua “pátria amada Brasil”, pode ter apenas se adiantado ao que já sabia que estava por vir. A Polícia Federal informou ao STF que o deputado licenciado ignorou os primeiros contatos para que prestasse esclarecimentos em um inquérito que investiga sua atuação nos EUA contra autoridades brasileiras. Eduardo é suspeito, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), de cometer crimes de coação no curso do processo, obstruir investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Mas Eduardo não parece muito preocupado.

Chegamos, enfim, à mente por trás da corrente bolsonarista: o próprio Jair Bolsonaro. Em dezembro de 2022, o então presidente da República deu uma demonstração espetacular de como se ausentar de um recinto quando a situação aperta. Às vésperas de passar a faixa presidencial para Lula da Silva (o que, claro, não aconteceu, rompendo uma bela tradição de respeito democrático), Bolsonaro embarcou para os EUA e lá permaneceu por três meses. “O Estado norte-americano é o Estado brasileiro que deu certo”, disse o patriota ex-presidente quando finalmente voltou ao Brasil.

Quase dois anos após seu retorno, um relatório da Polícia Federal apontou o que teria sido a real motivação da aventura de Jair em terras norte-americanas. Segundo o documento, havia um plano detalhado para a fuga do ex-presidente Bolsonaro para os Estados Unidos, caso a tentativa de golpe de Estado no final de 2022 não tivesse êxito. Nos EUA, informou a PF, ele aguardaria o desfecho da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.

Tudo milimetricamente acertado, segundo a PF. E claro, conforme este jornalista que vos escreve, sempre seguindo o padrão bolsonarista de ser. Talvez, no fim de tudo, os bolsonaristas sejam apenas grandes fãs do nosso eterno Raul Seixas, que cantou: “Durango Kid só existe no gibi, e quem quiser que fique aqui. Entrar pra história é com vocês.”

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