Setor vê ‘ilegalidade’ em possível indicação de aliado de Lula nos portos do Rio

O Globo

O governo Lula atua para nomear o ex-prefeito de Belford Roxo Wagner Carneiro (Republicanos), conhecido como Waguinho, para o comando da autoridade portuária do Rio. O posto, prometido ao aliado de Lula na Baixada Fluminense, está sob a alçada do Ministério de Portos e Aeroportos, comandando por Silvio Costa Filho, correligionário do ex-prefeito. A intenção gerou críticas em entidade do setor pelo risco de ferir a Lei das Estatais.

A PortosRio, antiga Companhia Docas do Rio de Janeiro, é uma empresa pública federal responsável pela gestão de portos em Itaguaí, Angra dos Reis, Niterói e Cabo Frio. A área é considerada sensível, tanto por envolver arrecadação com tarifas para embarcações, quanto por ser porta de entrada e saída de mercadorias, por vezes ilegais.

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A nomeação é vista como um gesto de retribuição a Waguinho por ter sido o único prefeito apoiador de Lula em 2022 na Baixada Fluminense, reduto bolsonarista. No início do governo, Lula nomeou a mulher de Waguinho, a deputada Daniela Carneiro (União-RJ), como ministra do Turismo, mas ela foi demitida após perder o apoio de seu partido.

Waguinho tem dito aliados que falta só “passar no RH”, em alusão ao fato de o convite já ter sido feito, restando apenas cumprir trâmites burocráticos. A nomeação precisa ser formalizada pelo Conselho de Administração da PortosRio. A tendência é que o atual presidente da autoridade portuária, Francisco Leite Martins Neto, que foi indicado pelo ministro Silvio Costa Filho, seja realocado em uma diretoria. Em reunião no fim de abril, o conselho destituiu o então diretor de gestão portuária, Marcos Roberto Muffareg, abrindo espaço para a movimentação.

Desconforto

Entidade que representa empresas privadas que atuam no setor portuário, a Associação Brasileira de Usuários de Portos, de Transportes e Logística enviou ofício ao ministro questionando possível “ilegalidade” na nomeação de Waguinho. A associação frisou que a Lei das Estatais exige uma quarentena de 36 meses para que dirigentes partidários possam assumir cargos em empresas públicas. Waguinho, desde 2023, preside o diretório estadual do Republicanos. Em nota, a entidade afirmou não ter “nada contra” Waguinho, mas alegou ver riscos de “questionamentos futuros que possam acontecer com a sua nomeação (…), o que certamente prejudicará” o ministério e a PortosRio.

A indicação de Waguinho tem como pano de fundo justamente a iminência de ser desalojado do comando partidário, após uma pressão da ala do Republicanos mais ligada à Igreja Universal para reassumir o diretório do Rio.

Reservadamente, integrantes do PT também mostraram desconforto com a possível nomeação, devido à proximidade de Waguinho com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, figura central no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Além das tensões políticas, pesam ainda contra Waguinho investigações conduzidas pela Polícia Federal. Em fevereiro deste ano, ele se tornou alvo de um inquérito que apura supostas fraudes na aquisição de livros didáticos durante sua gestão em Belford Roxo. As investigações, que seguem em andamento, apuram possíveis irregularidades na casa de R$ 100 milhões.

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