Polícia investiga ameaça de morte contra aluna pelo WhatsApp

Mensagens do grupo de WhatsApp mostram alunos planejando levar armas brancas, como machados e facões, para realizar o crime

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Reprodução/TV Tribuna

Divulgadas em um grupo de WhatsApp, mensagens com ataques e ameaças de morte que seriam destinadas a uma estudante de 15 anos estão sendo investigadas pela Polícia Civil.Quem denunciou o caso foi a mãe da estudante, uma dona de casa de 37 anos que mora em Domingos Martins, na região Serrana do ES, cidade onde a adolescente e os acusados (cinco adolescentes) estudam.A mãe compartilhou um vídeo nas redes sociais em tom de desabafo e pediu orientações dos seguidores sobre o que mais poderia fazer para proteger a filha.À reportagem, ela contou que descobriu que a filha era excluída pelos colegas. “Para piorar, eles criaram um grupo no WhatsApp chamado ‘Só nós’. A minha filha não foi incluída nesse grupo e a foto dela foi rasurada”.A mãe contou que uma colega da filha que estava no grupo se sentiu desconfortável com o teor das conversas, tirou prints e mostrou para a adolescente. Inicialmente, o caso foi denunciado à escola e, posteriormente, à Polícia Civil e ao Juizado da Infância e Juventude.A Polícia informou que o caso foi registrado na Delegacia de Polícia de Domingos Martins e a investigação está em andamento. “A mãe representou por medidas cautelares de urgência para proteção da filha e o pedido foi encaminhado à Justiça. Por envolver menor de idade, o caso segue sob sigilo”.Sobre esse fato, o advogado criminalista e professor de Direito Penal Rivelino Amaral explicou que, desde 2024, o legislador fez inserir no Código Penal o crime de bullying e de cyberbullying. A pena pode chegar a quatro anos.“Esses estudantes podem ser punidos. Esse caso citado narra que, além de bullying, há a possibilidade de um crime de ameaça. Infelizmente, essa é uma prática que está sendo quase que comum no nosso meio social notadamente por conta do advento da internet, desses grupos de WhatsApp, onde as pessoas falam o que querem”.Ainda segundo ele, isso traz consequências nas esferas criminal e civil, inclusive com ação de indenização por dano moral e por dano material. “As pessoas precisam ter em mente que esses comentários nocivos, que de alguma forma diminuem, menosprezam e causam temor nas vítimas, são consideradas condutas criminosas”.Mãe da vítima: “Espero que sirva de aprendizado”

Mãe e filha de mãos dadas: “Divergências acontecem, mas planejar o assassinato de outra pessoa não é legal”

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Acervo pessoal

A Tribuna – Quando descobriu o que tinha acontecido?Mãe da adolescente – A minha filha descobriu na quarta-feira da semana passada. Ela não me contou porque estou em um processo de cura da depressão e ela não queria me preocupar e preferiu que eu soubesse pela escola. No dia seguinte, ela procurou a coordenação da escola, que pediu o teor das conversas.Na última terça-feira, quando eu cheguei à escola para levar material didático para a minha filha, soube do ocorrido e vi os prints com as ameaças. Levei um susto e usei as redes sociais para fazer um desabafo. Uma seguidora me orientou a procurar a polícia, que conseguiu identificar quem eram os estudantes.Eu pedi uma medida cautelar para que os responsáveis por isso não convivam no mesmo ambiente da minha filha. O pedido foi concedido por uma juíza, mas por conta dos feriados, não sei como isso se dará na prática.Sabe qual é o perfil deles?Tem alunos da turma dela e de outras salas. São três meninos e duas meninas, entre 13 a 16 anos.Qual desfecho espera?Eu espero que isso sirva de aprendizado para eles entenderem que as nossas ações têm consequências e que sirva de alerta para os pais e outros adolescentes, pois a internet não é terra sem lei.Divergências acontecem, mas você desejar e planejar o assassinato de outra pessoa, isso não é legal. Sei que nenhum deles vai aparecer com avião e vai jogar uma bomba na minha casa, mas existe uma linha tênue entre o pensamento malicioso e a execução disso.Mensagens trocadasAluno 1: Por que estou aqui? Qual o assunto ultramega secreto? Quem vamos matar? Em que carro vamos?Aluno 2: Vamos matar a … (aluna ameaçada). Vamos no carro da minha mãe. Você é o mais sincero da conversa e não tem medo de falar na cara dela.Aluno 1: Ótimo. Eu levo o machado.Aluno 2: Eu levo o facão.Aluno 1: Amanhã pela manhã vamos até a casa dela. Do avião jogamos uma bomba na casa dela.Aluno 2: E fala que foi Hitler.Aluno 1: E descemos até a casa dela para decepar a cabeça dela, para ter a certeza que morreu.O que diz a SeduA Secretaria de Estado da Educação (Sedu) salientou que repudia qualquer tipo de violência e tem contribuído com a investigação das autoridades policiais. “Os alunos participantes do caso, assim que identificados, serão responsabilizados, conforme o Regimento Comum das Escolas Estaduais”, disse. A escola está em diálogo com a família e já solicitou a presença da Patrulha Escolar. “Quanto aos estudantes, serão acompanhados pelo programa de Ação Psicossocial e Orientação Interativa Escolar (Apoie), composta por equipe multidisciplinar”.O que eles dizemLiberdade vigiada“Não existe celular sem controle parental, com bloqueio de senha. Há pouco tempo, as pessoas falavam que era preciso respeitar a privacidade da criança e do adolescente, mas isso caiu por terra. É uma liberdade vigiada mesmo: aplicativo de controle de tempo e de conteúdo. É preciso estar por perto, sinalizando sempre o que é apropriado e o que não é”.Fernanda Mappa, psiquiatra infantilPapel dos pais“O papel dos pais vai muito além de apenas cuidar – eles também são guias, ajudando os filhos a entender o mundo ao seu redor. Monitorar não significa apenas vigiar, mas estar presente, acompanhar, conversar e orientar. Muitas vezes, o que pode parecer uma brincadeira inocente para uma criança pode ter consequências sérias, e é aí que o diálogo faz toda a diferença. Explicar os impactos das ações ajuda a desenvolver senso de responsabilidade e empatia”.Letícia Mameri, médica psiquiatraAmbiente de troca“Os pais devem ficar atentos ao comportamento dos filhos no mundo digital, mas monitorar não é criar um ambiente limitador e conflituoso.A relação entre pais e filhos deve envolver o diálogo como base da educação. É preciso proporcionar um ambiente de troca para que as explicações sobre a vida possam ser compartilhadas”.Felipe Goggi, psicólogo e professor universitárioPunição“Os menores também são punidos por nossa lei. Até os 12 anos, as crianças são inimputáveis, mesmo que elas cometam crime, elas não são punidas. Mas dos 12 aos 18 anos incompletos, elas sofrem sanções, que têm um limitador estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.A diferença que existe entre o menor e o maior de idade é que o menor infrator só pode ficar apreendido, preso, pelo prazo máximo de 3 anos”.Rivelino Amaral, advogado criminalista e professor de Direito Penal

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