Gabriel Resende: “Medicamentos para perder peso são positivos. A questão é como, quando e quem usa”

Médico nutrólogo, Gabriel Resende tem um lema tanto nas redes sociais, onde tem quase 60 mil seguidores somente no Instagram, quanto em sua atuação em consultório: “Seu comportamento modula seus resultados”. O especialista afirma que o processo de emagrecimento – carro-chefe de seus atendimentos hoje em dia – está baseado em três pilares essenciais. Disciplina, método e direcionamento. Resende é praticante de esportes que vão de ciclismo a triatlo, e destaca a necessidade tanto de atividades físicas quanto de uma alimentação saudável (peça central de sua profissão).

No entanto, o médico não condena o uso de medicamentos para emagrecer. Para ele, remédios como Ozempic e Mounjaro (alvo de elogios do médico por seus efeitos rápidos e seguros) podem ser usados por qualquer pessoa, desde que maneira sensata e com acompanhamento do especialista adequado. Apesar de previsões pessimistas de órgãos e autoridades na área da saúde, o médico é otimista quanto ao quadro de obesos no Brasil.

Ele acredita que as redes sociais não serviram somente para disseminar desinformação, como é de conhecimento público, mas também para espalhar a boa e correta informação oriunda de profissionais de respeito e que, sim, auxiliam milhões na busca pelo emagrecimento.

Ton Paulo – Uma pesquisa apresentada no Congresso Internacional sobre Obesidade de 2024 sugere que 48% dos adultos do Brasil terá obesidade até 2044. Quais são os maiores fatores causadores dessa realidade?

São dois caminhos que temos percorrido: o do avanço da obesidade e, ao mesmo tempo, o da disseminação da informação e da ciência para o tratamento da obesidade. Os dados publicados nesse estudo estão categorizados em uma sociedade atual. O avanço da ciência para o tratamento de obesidade estaria sendo baseado na atualidade. Estamos vendo que cada vez mais temos avançado no tratamento da obesidade.

O grande problema quando falamos em obesidade e sobrepeso no Brasil, principalmente, são os hábitos da população, e é uma coisa que temos visto mudar muito nos últimos tempos, sobretudo com a disseminação nas redes sociais. Vimos nos últimos anos uma avalanche de pessoas começando a praticar atividade, corrida de rua. Hoje, bodybuilding se tornou uma atividade bem reconhecida, com alta audiência nas redes sociais.

Acredito que YouTube, Instagram, as redes sociais em geral, hoje, assim como foram a grande fonte de desinformação que pode ter levado ao aumento do nível de sobrepeso e obesidade, estão sendo também uma grande solução para o tratamento e controle dessas patologias a longo prazo. Penso que quanto mais a população se conscientizar e tivermos medidas públicas para poder controlar e disseminar informações e a prática de atividade física, melhor vai ser.

Médico Gabriel Resende, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Não acredito que, com o caminho que temos tomado para o tratamento de obesidade e sobrepeso, teremos um país com grande parte da população com sobrepeso e obesidade. Acredito, sim, que se mantivermos os hábitos que temos implementado hoje em dia, há grande chance de termos uma grande mudança do quadro, para melhor.

Ton Paulo – O senhor mencionou a questão das redes sociais, que realmente são uma ferramenta de grande impacto. No entanto, muitas pessoas que começam a fazer exercício são pautadas por influencer, por exemplo, e não de especialistas adequados. Qual a avaliação do senhor sobre esse cenário?

Com certeza, isso é algo que temos que pontuar. Porém, temos dois cenários. Um é o de uma população que não fazia nada e hoje se sente influenciada por pessoas que fazem. E o outro de uma população que não fazia nada e se sente influenciada, mas está sendo mal influenciada. Porém, o cenário da pessoa que é mal influenciada, ainda assim, pensando em saúde, em bem-estar, em disseminação da saúde, ainda é mais favorável simplesmente se analisarmos antigamente, quando as atividades físicas não eram hábitos.

Obviamente, temos que saber filtrar onde estamos buscando informações. Hoje temos, inclusive, pessoas de renome que apenas o status, o ‘trending topics’. Fazem qualquer coisa para disseminar qualquer tipo de informação. E isso acaba sendo um grande problema. Mas, por outro lado, acaba incentivando pessoas também a fazer atividade física.

Portanto, eu acho que é muito prematuro para tomarmos uma conclusão de fato do que a rede social vai trazer quando se fala em saúde pública e, principalmente, em controle do sobrepeso e obesidade.

Italo Wolff – Esse cenário que tínhamos no passado levou ao quadro que temos no Brasil hoje. São 57% da população acima do peso e 22,4% de população obesa. Comparando com o mundo, o Brasil está acima, abaixo, ou dentro da média?

Quando falamos de países europeus e orientais, o Brasil ainda está acima do padrão de obesidade. Quando falamos em América Latina e América do Norte, o Brasil com certeza está abaixo, sem nem comparação. Inclusive, na questão da disseminação da prática de atividade física.

Há um dado recente, divulgado pelo New England Journal, que faz exatamente essa relação que tratamos aqui. A prática de atividade física com a disseminação da informação nas redes sociais. E esse dado é curioso: ele diz que hoje, quase 60% das pessoas que utilizam uma rede social se sentem influenciadas do ponto de vista de saúde e de bem-estar, o que é algo extremamente impactante. Portanto, quando se fala em Brasil, ainda acho que nós estamos em um caminho positivo. Apesar de vermos que muita coisa não está como o esperado.

Antigamente nem se tocava no assunto. Hoje já se fala sobre obesidade, sobrepeso, as pessoas estão se conscientizando mais, está sendo mais fácil tocar essas pessoas.

Italo Wolff – Recentemente, em um programa de entrevistas, o epidemiologista Carlos Augusto Monteiro, da Universidade de São Paulo (USP), explicou que ultraprocessados e cigarros têm alguma semelhança. Como alimentos ultraprocessados se baseiam muito no marketing, as empresas querem lucrar ao custo da saúde das pessoas. O senhor concorda com essa visão? E o senhor acha que o caminho que o Brasil tomou para dirimir os riscos do cigarro também seriam interessantes para ultraprocessados?

Difícil não concordar. Até porque falamos de algo extremamente maléfico para a saúde. Mas acredito que precisamos ter bastante cautela. A falha vem antes, ela está na educação, na cultura da nossa população. Penso que as medidas que devem ser tomadas para o controle do uso dos ultraprocessados devem ser mais cautelosas. Isso porque a população já está caminhando para uma vida, como dizemos, mais fitness.

Ton Paulo – Sabemos que nas últimas décadas houve uma mudança significativa na forma de produção e consumo do fast food. Mas ainda assim, há a consciência de que o fast food não é um tipo de alimentação adequada. Até que ponto é seguro, ou recomendado, o consumo desse tipo de comida hoje, pelo que é oferecido no mercado?

Totalmente não recomendado. Não sou o tipo de pessoa que tem uma alimentação espetacular, mas, obviamente, o meu conhecimento me faz hoje tomar decisões melhores. Acredito que é isso que temos que ensinar para a população. Não é o ‘excluir’, não é o deixar de fazer, mas é o saber o porquê, quando escolher, como escolher. Hoje, por exemplo, temos algumas redes de sanduíches que trazem comidas não exatamente saudáveis, mas menos nocivas do que, por exemplo, o McDonalds.

O papel do profissional, e entramos um pouco no que se fala muito sobre medicação, não é saber a melhor dieta, nem o melhor medicamento, é saber como organizar e entregar para o paciente o melhor caminho para chegar ao resultado dele.

Médico Gabriel Resende, em entrevista aos jornalistas Italo Wolff e Ton Paulo, do Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Costumo dizer que, para uma pessoa perder peso, ter uma vida mais saudável, ela precisa de três principais pilares: Disciplina, método e o direcionamento. O método, muitas vezes, está relacionado ao direcionamento, mas se ela não é direcionada por alguém que entende e vai ajudá-la, é muito difícil ela conseguir chegar onde quer a longo prazo. A curto prazo você pode conseguir, você restringe a alimentação e facilmente vai perder peso, mas provavelmente vai perder massa muscular também. E da mesma forma que foi rápida a perda de peso, vai ser rápido o ganho de novo.

Italo Wolff – Também se nota a divulgação de muitas dietas, como jejum intermitente, low carb, cetogênica e outras. Como profissional, como o senhor avalia? Há comprovação científica dos resultados?

Novamente falando de redes sociais, acredito que elas disseminam muita desinformação. O problema é que as pessoas categorizam tudo o que elas recebem nas redes sociais. “Isso aqui é a dieta para emagrecer, essa dieta é pra isso”. Mas dieta nada mais é do que estratégia. Se temos um objetivo, buscamos uma estratégia. Como eu falei, são três pilares quando se quer perder peso.

Dieta cetogênica, por exemplo, é uma dieta onde é muito alta a quantidade de gordura e proteínas frente à quantidade de carboidrato. Um paciente que recebe uma informação que dieta cetogênica ajuda a perder peso, ajuda na memória, na cognição e tudo mais e não faz uma boa avaliação médica para avaliar se não tem níveis alterados de colesterol, de triglicerídeos. Ele acaba se prejudicando. “Ah, mas não é uma dieta para emagrecer?”, para quem? Portanto, acho que o problema hoje das redes sociais, da informação, é você saber, você entender, obviamente, que se você não tiver acesso a um profissional, pode sair prejudicado.

Já um jejum intermitente funciona super bem. Agora, se você usar em um paciente com compulsão alimentar, talvez seja um grande problema. Quem que vai tomar essa decisão do que é melhor para você? O profissional.

Ton Paulo – Vez ou outra surgem novos estudos apontando fatores cancerígenos em alimentos industrializados, e isso costuma causar muito alarme na população. O senhor considera que a fiscalização, a vigilância sanitária que temos hoje no Brasil é eficaz para alertar a população do que pode ou não ser nocivo?

De forma alguma. Acredito que, novamente, existe o fator, político, e acho que a disseminação da informação no Brasil tem melhorado, mas ainda falta muito nesse aspecto do que de fato é maléfico. É difícil falarmos o que é benéfico, mas o que é maléfico, o que pode trazer um comprometimento.

E, novamente, entramos na questão da individualidade. Por exemplo, temos visto diversos nutricionistas em redes sociais comentarem sobre a questão de a Coca Zero não tem problema. Mas para quem? Pra quê? Para emagrecer? Imagine uma pessoa leiga, que está entrando nesse mundo de melhorar a qualidade de vida na alimentação e recebe uma informação como essa: “Ah, então não posso beber Coca Zero à vontade”. Não é bem assim. Existem individualidades. Na grande maioria das vezes, entre duas opções, entre um suco natural e uma Coca Zero, é melhor é um suco natural. “Mas Coca Zero não tem calorias”, mas o que você está buscando? É emagrecer ou você está buscando uma vida mais saudável?

Hoje, temos lá dentro do consultório quase 300 pacientes já tratando com o Mounjaro, que é o mais novo que a gente tem. E os resultados são realmente impressionantes. Tem paciente que chega a perder 6, 7 quilos em 30 dias

A questão da vigilância merece uma atenção maior, por conta dos malefícios que alguns alimentos podem trazer para o cenário como um todo, como disseminar informação sem ter uma qualificação do que está sendo falado ali.

Ton Paulo – Existe uma parcela da população que busca os caminhos fáceis para o emagrecimento. Há o uso do Ozempic, das dietas milagrosas, das cirurgias invasivas. O senhor avalia que esse fenômeno pode ser um problema a longo prazo?

Com certeza. E aí entra a questão profissional. Medicações para perda de peso são extremamente positivas. O problema é quando, como e quem utilizar. Esse é o grande problema. E aí, como, quando e quem passa a informação também é um outro problema. Os medicamentos para perda de peso são sim um grande aliado no processo de perda de peso de qualquer pessoa, seja um obeso, seja uma pessoa não eutrófica. A questão é que hoje temos feito uso dessas medicações e visto muitas pessoas se automedicando.

A Anvisa, inclusive, vai começar a obrigar os médicos a fazerem receita para os pacientes, para que eles busquem a farmácia só com receita médica. A medicação é um grande atalho, mas o processo é como um carro. Se você tem um carro parado e liga o turbo dele, ele não sai do lugar.

Agora, se você tem um carro em movimento e você liga o turbo, ele anda mais rápido. Portanto, usar a medicação num paciente que está parado, num paciente que não sabe se alimentar, que não sabe fazer exercícios físicos, ou num paciente que de fato não precisa emagrecer, é sim um problema.

Italo Wolff – Temos vários medicamentos novos surgindo. São 100 bilhões de reais ao ano investidos na pesquisa de novos medicamentos. Qual a diferença entre os mais usados hoje, Semaglutida, Mounjauro e Tirzepatida? Eles atuam pela mesma forma?

Hoje, o mercado do tratamento da obesidade evoluiu muito. Cada vez mais, tem-se buscado maneiras biológicas e químicas de tratar essa doença. Para entender de forma geral, vamos dividir aqui o tratamento em três grandes partes. Os medicamentos que agem controlando o sistema nervoso central, os medicamentos que agem controlando a absorção intestinal e os medicamentos que agem controlando a vontade e o impulso para se alimentar.

Para o sistema nervoso central, temos hoje uma classe de medicamentos muito grande. Por exemplo, o Contrave, o Venvanse, que inclusive tem sido utilizado de forma recreativa para pessoas que querem estudar, mas o fim dele é para TDAH e compulsão alimentar, a depender da dose, o Topiramato, Ciclotramina, todos eles agem no sistema nervoso central. Qual a principal ação? Diminuir os gatilhos a nível de neurotransmissores para que aquela pessoa tenha um impulso para se alimentar. Portanto, tanto a sensação da recompensa de um alimento, quanto a sensação do prazer de um alimento são retiradas por todos esses medicamentos. Aquela refeição que você iria comer simplesmente porque está na sua frente, você já não quer mais.

Médico Gabriel Resende, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

É preciso destacar que a obesidade é uma doença crônica, e assim como várias outras doenças crônicas como diabetes e hipertensão, o tratamento é multimedicamentoso. Uma medicação só não conseguir tratar um paciente. Um paciente com sobrepeso e obesidade, que tem um gatilho aumentado para se alimentar, provavelmente também tem uma dificuldade de controlar a sua saciedade. Logo, é preciso associar as medicações. E entramos no segundo tipo de medicamento, que são os medicamentos que diminuem a absorção gastrointestinal de alguns nutrientes.

Os medicamentos para perda de peso são sim um grande aliado no processo de perda de peso de qualquer pessoa, seja um obeso, seja uma pessoa não eutrófica

Por exemplo, um muito conhecido é o Xenical, de antigamente, que é o Orlistate hoje, que diminui a absorção de gordura livre de trato gastrointestinal. E entra a terceira classe que são os medicamentos que controlam a saciedade. Por que é a classe mais completa? Porque normalmente quando controlamos a saciedade, controlamos a vontade também.

Hoje, dentro dessa classe, temos dois maiores representantes, que é a Semaglutida e a Tizerpatida. A Semaglutida é o Ozempic e a Tizerpatida é o Mounjaro. São os nomes comerciais desses dois medicamentos. Semaglutida ele é o análogo de um hormônio que produzimos no intestino, que se chama GLP-1. Esse hormônio intestinal é chamado de incretina. Ou seja, você só o libera quando se alimenta. Qual o objetivo do GLP-1? Preciso mostrar para o meu cérebro que estou saciado. Como estou saciado, não preciso comer mais. É isso que o corpo de uma pessoa deveria fazer.

O Ozempic é um análogo, ou seja, um imitador do GLP-1. Já o Mounjaro é um imitador de outros hormônios além do GLP-1, que é o GIP. Também é uma incretina, mas é liberada em outra região do trato gastrointestinal. O objetivo dele já não é tanto diminuir o tempo de esvaziamento, mas tem uma função metabólica muito importante. Percebemos que quando combinavámos os análogos do GLP-1 com os análogos do GIP, o controle da saciedade, controle de peso e diminuição da recidiva do peso perdido a longo prazo era muito inferior. Eu acredito e aposto muito nessas medicações.

Hoje, temos lá dentro do consultório quase 300 pacientes já tratando com o Mounjaro, que é o mais novo que a gente tem. E os resultados são realmente impressionantes. Tem paciente que chega a perder 6, 7 quilos em 30 dias.

Italo Wolff – Ainda sobre os remédios para emagrecimento, o senhor disse que haverá essa medida para tornar o acompanhamento obrigatório, com a receita do médico. Mas algumas pessoas ainda conseguem os medicamentos sem a receita. Quais são os riscos associados a esses remédios? Há efeitos colaterais?

Qual o problema dessa automedicação? São medicamentos miméticos, ou seja, são análogos de hormônios intestinais. Estamos falando de um tratamento, entre aspas, hormonal, apesar de não ser um esteroide, anabolizante, o hormônio é a esse nível. São medicamentos que podem, sim, causar quadros de paralisia intestinal, por exemplo.

São medicamentos que causam também efeitos agudos. Por exemplo, náuseas, vômitos, queda de cabelo por diminuição dos níveis de vitamina, que é extremamente frequente, fadiga e cansaço. O glucagon é liberado toda vez que você precisa de energia imediata no seu corpo. Como o medicamento diminui a liberação de glucagon, a sensação que se tem é como se tivesse tido hipoglicêmico.

Atendemos, hoje, mais ou menos 15 pacientes que usam essas medicações por dia. Há muitos que chegam com os efeitos colaterais mais malucos possíveis. O que eu mais vejo, e que mais comprometem a qualidade de vida, são náusea e fadiga.

Toda semana fazemos uma avaliação com uma equipe de enfermagem, de nutrição e educador físico. Qual o objetivo? Para vermos o efeito da medicação, se está sendo positivo para o que a gente quer, que é a perda de peso, e se está tendo algum colateral ou está comprometendo o tratamento. Muitas vezes, esses efeitos colaterais eles vêm da dose do medicamento, da origem. Tenho visto muito medicamento falso, principalmente o Mounjaro. Tive relato de pacientes que foram parar na UTI. Compraram uma caneta de insulina com o rótulo do Mounjaro e usaram, achando que era o medicamento.

Ton Paulo – Sabemos que o sono e a alimentação são duas chaves para uma vida saudável. Quais são as alterações e doenças que podem acometer o organismo da pessoa que tem esses dois fatores em desequilíbrio?

Uma das coisas que eu mais vejo dentro de consultório, acho que pelo estilo de vida que temos vivido hoje em dia, é a deficiência de vitamina D, que não é da alimentação, mas vem de um estilo de vida sedentário e até mesmo aquele estilo de vida do trabalhador que fica o dia todo dentro de uma sala e vai embora à noite.

E costuma-se questionar: a obesidade leva ao problema do sono ou ao problema do sono que leva a obesidade? Os dois caminhos se cruzam e são plausíveis de serem avaliados. Quando a gente fala num paciente com sobrepeso e obesidade, a tendência é que ele tenha uma apneia obstrutiva, o que compromete o sono. Muitas vezes pacientes que chegam ao consultório vindo de outros profissionais relatam uma fadiga e não há uma investigação do fato.

Costumo dizer que, para uma pessoa perder peso, ter uma vida mais saudável, ela precisa de três principais pilares: Disciplina, método e o direcionamento. O método, muitas vezes, está relacionado ao direcionamento, mas se ela não é direcionada por alguém que entende e vai ajudá-la, é muito difícil ela conseguir chegar onde quer

Há casos do paciente que come muitos alimentos industrializados e fica extremamente inflamado. Foi uma coisa que vimos na semana pós-páscoa, a pessoa estava com a dieta perfeita, comeu muito chocolate e voltou ao consultório até zonzo, até com memória reduzida. Por quê? O nosso corpo tem um mecanismo que chamamos de homeostase, de equilíbrio e busca sempre equilibrar o que está acontecendo. Se você restringe o corpo, ele vai fazer uma escolha e parar de gastar energia com o que ele considera “inútil”. Com o que  seu corpo mais gasta de energia? Músculo. Músculo é o órgão metabolicamente mais ativo do nosso corpo. Então, se você restringe a alimentação, seu corpo tira sua massa muscular.

Com certeza a alimentação e sono são fatores decisivos quando iniciamos o tratamento com o paciente.

Italo Wolff – Como o senhor tem percebido o aumento de interesse por fisiculturismo e pelos suplementos alimentares?

Extremamente positivo. O problema normalmente é a divulgação errada da informação. Creatina é um suplemento extremamente importante. É um suplemento que, eu diria, é vital, todo mundo deveria saber a importância dela. Existem, sim, recomendações contrárias ao uso de creatina, principalmente em pacientes com doenças renais crônicas, mas é uma parcela muito baixa da população. O que eu tenho visto cada vez mais são cardiologistas, nefrologistas, urologistas recomendando essa suplementação.

Acredito que a disseminação do fisiculturismo tem sido excelente, mas, por outro lado, temos que ter muito cuidado também, porque é um esporte que usa de recursos um pouco avançados. Vejo muito paciente chegando no consultório sem fazer metade do que um fisiculturista faz e querendo usar esse tipo de recurso.

Médico Gabriel Resende, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Há a questão também dos hormônios. Hoje temos que separar muito bem o que é o uso do hormônio, da testosterona no homem, quando é necessário, e não simplesmente porque ele está cansado, fadigado. Não é para isso que se recomenda a utilização de testosterona, assim como o uso de hormônio em mulher.

Outra coisa, outra coisa super importante considerar é a questão dos esteroides anabolizantes. Ainda há alguns indiscriminados, é um problema grave. Mas há o uso também dos esteroides anabolizantes em quadros, por exemplo, de sarcopenia, pessoas com baixa quantidade de músculo, pessoas que passaram o processo de perda de peso e precisam recuperar esse excesso muscular, pacientes acamados que perdem mobilidade, que perdem tonos muscular. Esse tipo de paciente é o paciente que se usa esteroides anabolizantes de maneira clínica. É diferente do indivíduo que usa na academia.

E voltando à questão dos suplementos, há uma grande diferença do suplementar porque você precisa e você não dá conta na sua alimentação, ou suplementar porque você quer ter sempre níveis altos, baseado em métricas e referências aleatórias da internet e da rede social.

Sou sim 100% favorável à suplementação, acho que é importante desde que haja necessidade. Muitos deles, e principalmente vitaminas e minerais, são essenciais, principalmente suplementos como vitamina D, que não conseguimos absorver na própria nutrição, tem que ser através do sol. Mas o estilo de vida que vivemos hoje é muito diferente do que era antigamente.

Logo, fazer atividade física é bom, só que se formos olhar o horário e o tempo que você precisa fazer atividade física ao ar livre para conseguir, de fato, aumentar seu nível de vitamina D, você não vai conseguir. Então, é melhor suplementar.

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