Arraes x Moura

Por Aldo Paes Barreto*

Quando as primeiras levas de exilados políticos brasileiros retornavam ao Brasil, no início dos anos 1980, o governador pernambucano Moura Cavalcanti (1975/1979) também regressava ao seu Estado, embora por outros caminhos. Recuperando-se de delicada cirurgia, Moura Cavalcanti também obteve calorosa acolhida. Ele havia sido operado de um câncer na bexiga, na Inglaterra, e voltava desenganado pelos médicos.

Político coerente, afirmativo, nacionalista, conservador assumido e, sobretudo, honrado, Moura sempre cultivou muitos amigos, como um certo general Milton, expoente da linha mais dura do Exército. Preocupado com a saúde do amigo recém-chegado, o general telefonou-lhe de São Paulo:

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          – Alô. É do Recife?

          – É sim senhor.

          – Quem está́ falando?

          – É o Arraes…

O general ficou sem entender. Imaginou ter discado o número errado, mas não deixou de pensar com desagrado nos políticos que estavam voltando, principalmente no também ex-governador pernambucano Miguel Arraes, deposto em 1964. Consultou novamente sua agenda e repetiu a ligação:

          – Alô. É do Recife?

          – É sim senhor.

          – É da residência do Moura Cavalcanti?

          – É sim.

            – E quem fala?

          – É o Arraes.

Do outro lado da linha, restou apenas ao general soltar desalentado suspiro e resmungar suas desesperanças.

          – Está tudo perdido…

Dias depois, o equívoco estava desfeito. Quem atendia o telefone era o bacharel João Arrais, fiel assessor do governador Moura Cavalcanti que, dez anos depois, viria a ser destacado secretário de Segurança do Estado, durante o Governo Carlos Wilson (1990-1991) e, depois, eleito vereador na capital pernambucana. Hoje aposentado, o sertanejo João Arrais vive hoje para os netos e para a História.

*Jornalista

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