As chamadas “fábricas de golpes” em Mianmar, onde milhares de pessoas são mantidas em condições de escravidão para aplicar fraudes online, estão utilizando a internet via satélite da Starlink, de Elon Musk, para operar seus esquemas criminosos. A denúncia foi feita pela revista norte-americana Wired.
Mesmo com esforços para cortar o acesso à internet nesses locais, evidências fotográficas, registros de celulares e relatos de vítimas confirmam que a Starlink, fornecida pela SpaceX, está sendo usada para manter as operações ativas.
Um brasileiro recentemente resgatado de uma dessas fábricas afirmou ao g1 que os criminosos utilizam a internet via Starlink no local. Segundo ele, a conexão apresentava lentidão e instabilidade em alguns momentos, mas era suficiente para aplicar os golpes.
De acordo com a Wired, 412 dispositivos conectaram-se à Starlink em oito locais diferentes usados para fraudes. Nos últimos quatro meses, foram registrados mais de 40 mil acessos à rede da empresa de Elon Musk nesses ambientes.
A revista obteve essas informações por meio de ferramentas de publicidade digital que identificam coordenadas físicas, IPs de telefones e provedores de internet.
O deputado tailandês Rangsiman Rome afirmou que há provas concretas de que grupos criminosos envolvidos com tráfico de pessoas e fraudes financeiras estão explorando a Starlink para seus esquemas. Ele estima que os golpes causem prejuízos de mais de US$ 60 bilhões por ano.
Em fevereiro, Rome marcou Elon Musk em uma publicação no X (antigo Twitter) e pediu que o bilionário investigasse o uso da Starlink pelas organizações criminosas. Até o momento, Musk não respondeu.
As diretrizes da Starlink indicam que a SpaceX pode encerrar serviços em caso de atividades fraudulentas ou uso não autorizado. No entanto, questionada pela Wired, a empresa não comentou o caso.
Desde o golpe militar de 2021, Mianmar enfrenta uma guerra civil, tornando-se um refúgio para grupos criminosos. Segundo a ONU, ao menos 120 mil pessoas estão sendo forçadas a trabalhar nessas “fábricas de fraudes”, muitas delas sequestradas ou enganadas com falsas promessas de emprego.
Dois brasileiros, Phelipe de Moura Ferreira, 26 anos, e Luckas Viana dos Santos, 31 anos, foram mantidos reféns por três meses em um desses centros criminosos. Eles foram resgatados no dia 9 de fevereiro com a ajuda da ONG The Exodus Road e retornaram ao Brasil na semana passada.
Após o resgate, relataram uma rotina de ameaças, espancamentos e jornadas de 16 horas diárias aplicando golpes. Brasileiros eram obrigados a enganar outras vítimas do Brasil. A Starlink ainda não se manifestou sobre o caso.
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