Repressão e neoliberalismo de Noboa enfrentam projeto social do correísmo

O Equador irá às urnas no próximo domingo (9) para definir o futuro do país em um cenário polarizado entre o atual presidente Daniel Noboa e a candidata da Revolução Cidada, Luisa González. No centro do debate está a política de segurança pública, tema explorado por Noboa para justificar sua postura de endurecimento contra o crime organizado.

Seu “Plano Fênix” reproduz características de modelos de segurança adotados em outros países, onde a militarização das ruas, o encarceramento em massa e a violação dos direitos humanos se misturam com as políticas falidas do neoliberalismo, que levaram o país ao colapso da segurança pública.

As eleições gerais de 2025 marcam o retorno ao calendário eleitoral regular do Equador, após o pleito antecipado de 2023. Naquele ano, o então presidente Guillermo Lasso dissolveu a Assembleia Nacional e convocou novas eleições em meio a um processo de impeachment por corrupção.

No segundo turno daquele pleito, Daniel Noboa venceu Luisa González, assumindo a presidência para cumprir o restante do mandato de Lasso, com término previsto para 2025. Agora, Noboa busca um mandato completo de quatro anos.

A herança neoliberal e o aumento da violência

Desde o golpe em Rafael Correa, líder da Revolução Cidadã e inimigo da direita e da elite financeira do Equador, o Equador foi governado por dois governos de direita: Lenín Moreno (2017-2021) e Guillermo Lasso (2021-2023). Essas administrações implementaram políticas de austeridade, privatizações e redução de investimentos sociais, resultando no desmonte de serviços públicos e no aprofundamento da desigualdade social.

A precarização do emprego, o sucateamento da educação e da saúde e a falta de oportunidades para a juventude abriram caminho para o crescimento do crime organizado. Entre 2018 e 2023, o número de homicídios no país triplicou, e a presença de facções criminosas ligadas ao narcotráfico cresceu de forma alarmante. Enquanto os setores empresariais e financeiros se beneficiaram de isenções fiscais e incentivos do Estado, a população viu seu poder de compra ser reduzido drasticamente.

O colapso da segurança pública não pode ser dissociado dessas políticas. A falta de investimentos sociais e a desestruturação da economia aprofundaram a crise, facilitando o recrutamento de jovens por facções criminosas. O modelo de Noboa não rompe com esse histórico, mas o intensifica ao transformar o país em um estado policial.

Luisa González e a reconstrução do Equador

Em contraposição ao modelo neoliberal e autoritário de Noboa, Luisa González representa a continuidade do projeto progressista iniciado por Rafael Correa, cujo governo (2007-2017) ficou marcado pelo fortalecimento do papel do Estado na economia e pela ampliação de programas sociais.

González propõe um programa de governo estruturado em três pilares: Gerar, Proteger e Impulsionar. O eixo Gerar visa recuperar a soberania energética do Equador, com investimentos em infraestrutura e energias renováveis para garantir acesso à eletricidade a preços justos. O país tem sofrido com graves crises energéticas que tem colocado os equatorianos na escuridão.

O plano Proteger foca em segurança pública, mas sem militarização excessiva. Sua proposta inclui a modernização das forças policiais, a revisão do sistema prisional e o combate à corrupção dentro das instituições de segurança. González defende uma estratégia baseada em inteligência e prevenção, investindo em programas sociais e oportunidades para jovens em situação de vulnerabilidade, reduzindo as causas da violência.

Por fim, o eixo Impulsionar se concentra no fortalecimento de setores estratégicos como saúde, educação e moradia. O governo de Correa garantiu acesso gratuito à universidade, ampliou investimentos em infraestrutura e reduziu significativamente os índices de pobreza. González quer retomar essas políticas, revertendo os cortes promovidos por governos neoliberais.

Outro ponto central de sua proposta é a revisão da política fiscal. A candidata defende a redução do IVA de 15% para 12% e o fim dos privilégios fiscais para os grandes empresários, redistribuindo a carga tributária para beneficiar a classe trabalhadora. Além disso, pretende restabelecer relações comerciais estratégicas prejudicadas pelo isolamento diplomático imposto por Noboa.

As eleições de novembro não são apenas uma disputa entre dois candidatos, mas um embate entre dois modelos de país. Enquanto Noboa aposta na repressão e na manutenção dos privilégios da elite econômica, Luisa González propõe um projeto de reconstrução social, focado no fortalecimento do Estado e na justiça social.

O Equador está diante de uma escolha decisiva: aprofundar a crise do neoliberalismo e do autoritarismo ou recuperar um modelo de desenvolvimento que prioriza as necessidades da população.

Militarização e o discurso de guerra ao crime

Desde que assumiu o cargo em 2023, Daniel Noboa tem utilizado a segurança pública como seu principal ativo eleitoral. Inspirado em modelos de repressão estatal, principalmente o de Nayib Bukele, em El Salvador, o herdeiro do império empresarial do Grupo Noboa, um dos maiores conglomerados do setor bananeiro no Equador, promove operações militares em larga escala e aumenta penas para crimes ligados ao narcotráfico. 

Em janeiro de 2024, chegou a declarar a existência de um “conflito armado interno”, ampliando os poderes das Forças Armadas na segurança pública.

A medida resultou em um aumento significativo do número de prisões, com milhares de suspeitos detidos sem julgamento. Organizações de direitos humanos denunciam casos de desaparecimentos forçados, execuções extrajudiciais e torturas cometidas por agentes do Estado. 

Até o momento, 27 desaparecimentos foram documentados pelo Comitê Permanente de Defesa dos Direitos Humanos (CDH), além do assassinato de um adolescente de 14 anos por militares em Guayaquil.

Apesar dessas acusações, Noboa reforça sua retórica de combate ao crime como um divisor de águas para o país. “O tempo do velho Equador acabou. Agora começa uma nova era”, declarou em um comício recente,  ecoando o discurso de Bukele sobre um suposto renascimento da nação após a repressão ao crime organizado.

Outra semelhança entre Noboa e Bukele é o uso das redes sociais para cultuar sua imagem pública. Ambos evitam entrevistas com a mídia tradicional e priorizam a comunicação direta com os eleitores por meio de publicações controladas. Noboa adota uma estratégia de promover símbolos como sua tatuagem de fênix para reforçar a ideia de um país “renascendo das cinzas”.

Essa estratégia permitiu que ele evitasse debates públicos e críticas diretas, mantendo alta aprovação popular, apesar das denúncias de abusos e da ausência de políticas sociais estruturais para combater as causas da violência.

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