Expedição documenta indígenas isolados por demarcação na Amazônia

Uma expedição recente, conduzida pelo maior especialista brasileiro em povos isolados, revelou tanto avanços quanto desafios na preservação do povo indígena Kawahiva, que habita o maior território não demarcado da Amazônia. Desde 1999, quando Jair Candor identificou sinais de um grupo desconhecido no território Kawahiva do Rio Pardo, no Mato Grosso, ele luta pela oficialização da área como território indígena.

A Constituição de 1988 exige essa proteção, mas, 25 anos depois, o reconhecimento ainda não ocorreu, deixando os Kawahiva expostos à ameaça do desmatamento e invasões. Mesmo diante da devastação causada pela expansão agrícola e exploração madeireira, povos isolados, como os Kawahiva, continuam resistindo e prosperando.

Suas florestas, essenciais para a biodiversidade e o armazenamento de carbono, permanecem como os maiores remanescentes de floresta tropical intacta no planeta.

A expedição, que serviu de base para a reportagem produzida pelo GLOBO em conjunto com o jornal inglês The Guardian, percorreu 100 km em mata fechada, documentando sinais recentes de presença Kawahiva, como pegadas e ferramentas. O encontro próximo com o grupo revelou a vulnerabilidade e o isolamento dessa comunidade, reforçando a urgência da demarcação de suas terras.

O trabalho de Candor, em colaboração com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), é fundamental para garantir a sobrevivência e a segurança desses povos. Especialistas estimam que o território Kawahiva pode ser finalmente demarcado em 2025, marcando um passo crucial na preservação da herança cultural e ambiental da Amazônia.

As áreas habitadas por povos isolados como os Kawahiva são vitais para a saúde do planeta. Estudos como os do geógrafo Matt Hansen, da Universidade de Maryland, identificaram que as maiores florestas tropicais intactas estão nas regiões norte e oeste da Amazônia, abrigando os maiores reservatórios de biodiversidade e carbono.

Relatórios preliminares de 2024 do Grupo Internacional de Trabalho sobre Povos Indígenas indicam que os Kawahiva do Rio Pardo estão entre os 61 grupos confirmados de povos isolados na América do Sul. No Brasil, 29 grupos estão oficialmente identificados, enquanto outros 85 aguardam confirmação.

Antes do contato europeu, a Amazônia era lar de milhões de pessoas, com sociedades complexas que falavam até 1.200 idiomas. Hoje, apenas cerca de 300 permanecem. A chegada dos colonizadores trouxe doenças e conflitos que dizimaram 95% da população indígena. Relatos como o do explorador Francisco de Orellana e o relatório Figueiredo de 1967 documentaram a destruição causada por invasores.

Os Kawahiva, como muitos outros povos, abandonaram práticas agrícolas para se esconder na floresta. Relatos históricos, como os de Claude Lévi-Strauss em 1938, mostram que eles cultivavam alimentos variados, mas hoje sobrevivem caçando, pescando e coletando recursos de forma nômade.

Em 2011, Candor conseguiu capturar imagens raras de um grupo Kawahiva, destacando a urgência da demarcação do território. Apesar disso, apenas em 2016 o Ministério da Justiça declarou a área como território indígena, e ainda faltam medidas concretas para sua proteção total.

Segundo Janete Carvalho, diretora da Funai, a demarcação do território Kawahiva é uma prioridade para 2025, mas enfrenta desafios logísticos e legais, incluindo a necessidade de aprovação da Procuradoria-Geral da República.

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