Projeto de Bolsonaro para 2026 passa por Legislativo, e é bem visto por governistas de Goiás; entenda

Salvo se concretizar um milagre no Judiciário, alguma reviravolta que possa ser vista até como abertura de precedentes para um caso inédito no Brasil e que reverta sua atual situação, Jair Bolsonaro está inelegível e assim deve seguir. Por maioria de votos, em junho do ano passado o Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou a inelegibilidade do ex-presidente da República por 8 anos pela prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião realizada no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros, em 2022. No entanto, nem todo projeto de poder na política engloba obrigatoriamente um mandato eletivo para aquele que o constrói. É o caso de Bolsonaro.

Na perspectiva macro, Bolsonaro – que mesmo inelegível segue com o título de líder da direita no Brasil e com um considerável capital político e eleitoral – já sonda e calcula os melhores nomes a serem lançados em 2026 para o Congresso Nacional pelo seu partido, o PL. Do ponto de vista de poder, é claro para toda e qualquer legenda partidária que, quanto mais parlamentares em Brasília, melhor. Um número expressivo de deputados federais e senadores significa não apenas uma atuação mais determinante nos movimentos do Legislativo e do Executivo, mas também mais dinheiro em caixa para uso eleitoral.

Destaca-se: conforme a legislação, os recursos do Fundo Eleitoral (o famoso “Fundão”) são distribuídos com 2% igualmente entre todos os partidos; 35% divididos entre aqueles que tenham pelo menos um representante na Câmara dos Deputados, proporcional ao percentual de votos na última eleição para a Câmara; 48% divididos entre as siglas, proporcional ao número de representantes na Câmara, levando em conta os partidos dos titulares; e 15% divididos entre os partidos, na proporção do número de representantes no Senado, com base nas legendas dos titulares. Trocando em miúdos: quanto mais parlamentares, e quanto mais parlamentares bem votados, mais dinheiro para o partido em ano de eleição.

Senado e STF

E há, também, a perspectiva “micro” do projeto de poder de Jair Bolsonaro. Já é dado como certo nos bastidores que, em 2026, o ex-presidente vai bancar quatro de seus aliados mais próximos e com potencial eleitoral para o Senado Federal. São eles: Flávio Bolsonaro, já em exercício de senador, e Eduardo Bolsonaro, que atualmente é deputado federal. Junto com eles, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e vereador eleito por Goiânia, Major Vitor Hugo.

Tanto a personalidade do ex-presidente da República quanto suas aspirações pessoais o teriam levado a conjecturar esses nomes em questão para essa disputa específica. Cita-se, aqui, a personalidade do ex-chefe do Executivo federal pela sua tendência de confiar e investir de forma contundente apenas em nomes de seu círculo mais íntimo, preferencialmente, familiar. Seus três filhos, Eduardo, Flávio e Carlos Bolsonaro, entraram na política por influência e intervenção sua, e o mesmo deve acontecer com Michelle. O mesmo é com Major Vitor Hugo, aliado e amigo indissociável de Jair Bolsonaro. O militar usufrui de plena confiança do ex-presidente, que tem por ele grande apreço – não apenas por seu potencial político e eleitoral, mas também por sua trajetória no meio militar.

Leia-se: nesse elaborar de planos mirando o Senado, Gustavo Gayer deve ficar de fora. Mesmo com forte capital eleitoral, o deputado federal acumula processos em andamento com possíveis desfechos que a cúpula do PL teme que possam tirá-lo do jogo. Ademais, o parlamentar é tido como radical demais para conseguir capitalizar apoio político. Em suma, é um político que trilha o caminho do isolamento. Sensato lembrar que, após as eleições municipais, tanto Wilder Morais quanto Gustavo Gayer teriam se “queimado” com Bolsonaro após, supostamente, levarem a ele a falsa concepção de que a eleição do então candidato à Prefeitura de Goiânia, Fred Rodrigues, estava garantida. Bolsonaro bancou, marcando presença na campanha do candidato, mas a realidade foi outra: Fred foi derrotado, e o núcleo estadual do PL que bancava seu nome saiu enfraquecido.

A escolha do Senado como alvo do “quarteto fantástico” de Bolsonaro também tem pano de fundo. Destaca-se: um senador da República tem prerrogativas que em muito interessam o ex-presidente em sua tentativa não só de voltar ao jogo eleitoral, mas também de se ver livre de possíveis futuras punições. Vejamos o que diz a Constituição Federal: compete privativamente ao Senado Federal “processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade”.

Já há anos o STF é tido como o nêmesis de Jair Bolsonaro. São várias a decisões da Corte que tolheram, reduziram ou derrubaram atos e movimentações do ex-presidente desde seu mandato no Palácio do Planalto até durante sua tentativa de reeleição, e que agora corroboram a manutenção de sua inelegibilidade. Em caso mais recente, o ministro Alexandre de Moraes negou um recurso da defesa de Bolsonaro para derrubar sua inelegibilidade, e alegou que a controvérsia da condenação “foi decidida com base nas peculiaridades do caso concreto, de modo que alterar a conclusão do acórdão recorrido pressupõe revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos”.

Acontece que, com a concretização de mais poder de influência e decisão de seus aliados na única Casa do Legislativa que tem algum tipo de poder sobre o STF, jair Bolsonaro deve tentar refrear, ou ao menos mitigar, as possíveis e futuras repercussões negativas contra ele oriundas da Corte.

E em Goiás?

Paralelamente, o projeto de construção do time de Bolsonaro para o Senado Federal também estaria sendo visto com bons olhos pelo entorno de Ronaldo Caiado em Goiás. É preciso lembrar que, como admitido pelo próprio, o objetivo do governador em 2026 é disputar o Palácio do Planalto. O político foi deputado federal por cinco mandatos, senador e está em seu segundo mandato como governador de Goiás (foi, inclusive, reeleito no primeiro turno). Ser eleito presidente da República completaria o ciclo político, e é o que Caiado sinaliza almejar.

Não faltam manchetes de grandes jornais que elegem Caiado como um dos (ou o) líderes da nova direita – moderada e avessa aos radicalismos tanto da esquerda petista quanto da direita bolsonarista. Não obstante, o próprio governador já admitiu o peso e a importância de uma aproximação com o eleitorado de Bolsonaro (que, neste momento, está órfão). A missão da construção dessa “ponte” e o apaziguamento das direitas estaria, justamente, a cargo de um dos cotados para concorrer ao Senado na chapa de Bolsonaro.

Alvo de uma recente nota de repúdio do PL vinda de Wilder Morais e Gustavo Gayer, cada vez mais assustados com o aprofundamento de seus isolamentos, Major Vitor Hugo tem sido um elo importante entre Bolsonaro e a base governista de Goiás, tendo, inclusive, levado o vice-governador e pré-candidato ao governo de Goiás, Daniel Vilela, a um encontro com Bolsonaro – o que foi visto como um sinal de reaproximação entre a ala caiadista e o ex-presidente da República, cuja relação ficou balançada nas eleições municipais de 2024.

Ainda não é possível prever o desenrolar dos acontecimentos políticos que levarão a 2026, mas com Major Vitor Hugo cada vez mais próximo do projeto de Daniel Vilela e Caiado e, ao mesmo tempo, com um pé no projeto de Bolsonaro para o Senado, um acerto de Bolsonaro com Caiado, com a potência eleitoral do ex-presidente na base e no projeto do governador goiano, desenha-se de forma cada vez mais palpável no horizonte.

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