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Kadidja Fernnades/ AT
O nascimento de um filho deveria ser um momento de comemoração. Mas para a dona de casa Tamires Santos, essa alegria foi interrompida por um diagnóstico de câncer de mama.Aos cinco meses de gravidez, Tamires começou a suspeitar de que algo não estava certo com seu corpo. Com sete meses, veio a confirmação de que ela tinha o tumor. “Tirou o chão dos meus pés, porque eu tinha me preparado para ganhar minha filha e dar de mamar. E sabia que não poderia amamentar por conta do tratamento”.Hoje, aos 28 anos, um ano após o diagnóstico, Tamires faz acompanhamento médico e toma medicação em casa. Ela dedica sua força e superação à filha. “Minha filhinha já tem um ano e quatro meses. Ela está muito bem, graças a Deus. Ela me ajudou muito, porque tenho uma filha para criar, então tenho que superar tudo”, compartilha.Como acontece com várias mulheres nessa situação, um dos piores momentos para Tamires foi quando o cabelo começou a cair. “Eu não me aceitava”.Foi uma peruca, feita com seu próprio cabelo, no salão do cabeleireiro Dirceu Paigel, que a ajudou a se aceitar novamente. “Foi uma sensação muito boa. A peruca me ajudou a me enxergar de novo”.A assistente social Erika Cristina Cesconetto, 35 anos, também descobriu um nódulo, mas em 2011. Foram necessários oito meses e várias consultas para finalmente receber o diagnóstico de câncer de mama. “Eu estava com dores no corpo e ninguém descobria o que eu tinha. Só fui saber quando meu cirurgião plástico sugeriu uma ressonância. Aí, já tinha dois nódulos de 6 centímetros. Fiquei apavorada”.
“Meu médico diz que sou um milagre. Vivo normal”, Erika Cesconetto, assistente social
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O câncer se espalhou para o cérebro e o fígado, e hoje a condição de Erika é considerada paliativa. Mesmo assim, ela já está em remissão há oito anos. “Meu médico diz que sou um milagre. Eu levo a vida normalmente”.A história dela é diferente da de Tamires. Após a quimioterapia, o cabelo de Erika não voltou a crescer. Na primeira sessão, ela descobriu que tinha alopecia crônica irreversível, uma condição que impede o crescimento dos fios. Hoje careca, Erika usa lenços para ir à academia e recorre às perucas de Dirceu Paigel para sair. “Eu tenho três perucas lindas. O cabelo delas foi doado. Eu as adoro”.Resgate da autoestima para quem perde o cabeloDesde a infância, o cabeleireiro Dirceu Paigel se envolve com projetos sociais. A conscientização social, aprendida com a avó, veio à tona quando ele abriu seu salão e passou a atender mulheres que enfrentam os efeitos da quimioterapia. Peruqueiro há 11 anos, Dirceu é mantenedor de perucas para o Hospital Evangélico e outros hospitais. Suas perucas fazem a diferença na vida de Tamires, Erika e de inúmeras outras mulheres que precisam enfrentar a quimioterapia. “A gente acaba sendo uma marca na vida dessas mulheres. Ao mesmo tempo em que é emocionante fazer parte desse momento, acabamos compartilhando a dor dessas mulheres”. Com o objetivo de conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce, Dirceu promove três eventos para o mês de outubro. “Esses eventos não são apenas atividades, mas momentos de transformação, onde a luta se torna força, a dor se transforma em esperança e a união traz a certeza de que, juntos, somos mais fortes”. O primeiro evento foi o ensaio fotográfico “Você é Única”, realizado em setembro. Participaram 15 pacientes, três oncologistas e uma jornalista. As fotos estão expostas no Shopping Vitória desde terça-feira e ficarão até o dia 29. “As fotos não são apenas imagens; são testemunhos de força, superação e de histórias que merecem ser contadas”. O segundo evento é o coquetel que encerra a exposição, no dia 29, no Camarada Camarão. Antes disso, no dia 26, acontece o Circuito Rosa, em que mulheres socialmente vulneráveis que lutam contra o câncer de mama serão levadas em um ônibus rosa para as montanhas capixabas por um dia inteiro.
Dirceu, ao lado de Tamires (rosa) e Erika: perucas que ele fornece fazem a diferença na vida delas e de muitas outras mulheres que enfrentam a quimioterapia
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FIQUE POR DENTROCâncer de mama – É um desenvolvimento anormal das células da mama, que multiplicam-se repetidamente até formarem um tumor maligno. Uma de suas principais causas é a hereditariedade, mas outros fatores também podem interferir.- No ano de 2024, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) prevê 74 mil novos casos de câncer. Isso significa que, em média, haverá cerca de 202 novos casos de câncer por dia no Brasil. Mamografia- O Ministério da Saúde informa que a mamografia é indicada para mulheres acima dos 50 anos. Mas outras entidades médicas indicam a partir dos 40 anos. – Já para mulheres que tenham histórico desse tipo de câncer na família, é importante procurar um médico para fazer o acompanhamento desde cedo. Prevenção- Manter uma alimentação saudável, praticar atividade física, não fumar e evitar ingerir bebidas alcoólicas e consumir excesso de gordura são algumas mudanças na rotina diária que ajudam a prevenir o câncer de mama. – Além disso, a oncologista Camila Beatrice destaca que a saúde mental também interfere. “Nós sabemos que o estresse está muito relacionado com esse tipo de câncer, por isso, cuidar da saúde mental e fazer meditação ajudam bastante”.Sintomas- Caroço no seio, acompanhado ou não de dor, pele da mama parecida com uma casca de laranja e pequenos caroços embaixo do braço estão entre os sintomas. Mas, na maioria dos casos, o câncer é assintomático, por isso, é importante fazer o exame preventivo para detectar. Mitos sobre a doença- Desodorante, mamografia e sutiãs de aro não causam câncer de mama, explica a oncologista Camila. “Isso é mito. Nós não temos nenhuma evidência confirmando nada disso. Por isso é importante buscar fontes de informação confiáveis”. Sites do INCA e da Afecc (Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer) são boas sugestões para quem está buscando saber mais.