
Bloqueio na BR-317, na entrada de Xapuri, interior do Acre, já dura mais de 24 horas. Grupo de candidatos teme não conseguir passar para fazer provas em Epitaciolândia neste domingo (15). Bloqueio na BR-317, em Xapuri, interior do Acre, já dura mais de 24 horas
Um grupo de moradores de Xapuri, no interior do Acre, está preocupado em não conseguir passar pela BR-317, interditada desde essa sexta-feira (13), para participar de um concurso público em Epitaciolândia, cidade vizinha, neste domingo (15).
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Produtores rurais e pecuaristas seguem em protesto na entrada de Xapuri, em frente à posto de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF-AC), contra a operação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que como alvo principal a pecuária irregular praticada por invasores em pontos diversos dentro da unidade de conservação.
“São várias pessoas aqui do município que vão descer para fazer esse concurso, no entanto, a grande maioria já está com essa preocupação de não poder passar e ficar de fora desse concurso”, disse Jorge Alves, candidato do certame.
Jorge conta que, apesar da prova ser aplicada apenas no domingo, havia planejado viajar até Epitaciolândia neste sábado (14), mas devido ao protesto, mudou de ideia.
“Eu ia tentar passar, mas nem fui porque já sabia que não ia conseguir. A prova acontece amanhã e a gente ia hoje para poder descansar e se concentrar, mas em virtude dessa situação não foi possível ir”, lamentou.
Fila de veículos se forma em ambos os lados do bloqueio
Arquivo pessoal
Silvangela Oliveira Teixeira, que também vai fazer a prova, disse ao g1 que um grupo de candidatos foi até os manifestantes para saber se vai poder passar pelo bloqueio. “Disseram que é pra gente tirar o comprovante de inscrição que vão nos deixar passar”, explicou.
Equipes da Polícia Rodoviária Federal (PRF-AC) acompanham o movimento e tentam negociar com o grupo liberações parciais da rodovia.
Protestos
O grupo de manifestantes de Xapuri já havia interditado a rodovia no início da semana em protesto contra a “Operação Suçuarana”, desencadeada no último dia 5 pelo ICMBio.
Os protestos, que iniciaram no domingo (8), foram suspensos no município na noite de segunda (9). Após a suspensão, os moradores da Resex seguiram se organizando para novas manifestações.
“Estão prendendo nosso gado, atrapalhando nossa produção e quem sente é o povo trabalhador!” dizia a nota convocando os manifestantes para o protesto desta sexta.
Processos desde 2016
Também neste sábado, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) divulgou uma nota destacando que a operação ‘tem como base decisões judiciais que confirmam a ilegalidade da criação de gado em áreas embargadas da unidade’.
Ainda segundo o governo federal, os processos de embargos das terras são de 2016, os investigados recorreram à Justiça e foram derrotados em todas as instâncias. “Com o esgotamento dos prazos legais e o não cumprimento das determinações, a operação foi deflagrada para garantir a aplicação da legislação vigente”, destaca o comunicado.
Conforme o MMA, entre 2019 e 2022, a Resex registrou um aumento expressivo no desmatamento. Em 2023, houve uma redução significativa desses índices, porém, a ‘degradação na unidade continuou avançando, especialmente por meio do aumento dos focos de incêndio, com fortes indícios de origem criminosa’.
Em dezembro do ano passado, uma nova rodada de notificações para a retirada de gado mantido ilegalmente em áreas embargadas. O MMA destacou que a ‘criação de gado em larga escala dentro da Resex é proibida pelo plano de manejo da unidade e configura infração ambiental’.
Em abril, o ICMBio deflagrou a ‘Operação Boi Fantasma’ para combater o aumento do desmatamento na reserva extrativista. Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a ação ‘revelou fraudes no registro de rebanhos e práticas conhecidas como lavagem de gado, utilizadas para dar aparência de legalidade à produção em áreas embargadas’.
Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex) é composto por áreas de sete municípios do Acre
Reprodução
Operação Suçuarana
A fiscalização do ICMBio ocorre em Sena Madureira, Rio Branco, Capixaba, Xapuri, Brasiléia, Epitaciolândia e Assis Brasil e tem como alvo principal a pecuária irregular praticada por invasores em pontos diversos dentro da unidade de conservação.
Equipes da Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal (PRF-AC), Exército Brasileiro, Ministério Público Federal, Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf) e do Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre (BPA) apoiam as ações.
“O objetivo é retirar bovinos mantidos ilegalmente dentro da reserva, em desacordo com o plano de manejo e com as normas que regem as reservas extrativistas. O gado apreendido está sendo encaminhado a frigoríficos para abate, com a carne destinada diretamente à alimentação escolar”, informou.
Ainda segundo o governo federal, Operação Suçuarana vai retirar cerca de 400 cabeças de gado mantidas ilegalmente na unidade. A operação segue por prazo indeterminado nos sete municípios que compõem a unidade de preservação ambiental.
Na segunda (9), o ICMBio informou que foram apreendidas 20 cabeças de gados criados ilegalmente em área embargada. Devido ao protesto dos produtores, o caminhão do gado apreendido teve de ser escoltado pela equipe do ICMBio e por uma equipe do Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre.
Ao g1, o ICMBio disse, nessa sexta, que as equipes de fiscalização estavam sem caminhoneiros para prestar o serviço de retirada do gado apreendido após os motoristas serem ameaçados.
“Agora estamos recrutando caminhoneiros de outro estado e estarão chegando ao longo do fim de semana. A destinação das demais cabeças de gado apreendidas aqui na unidade vai prosseguir”, informou a assessoria do ICMBio.
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