Uma mãe de um adulto autista nível 3 de suporte residente no Recife procurou este blog relatando a completa falta de investimentos de Pernambuco no atendimento às crianças e adultos com autismo em seus três níveis no Estado. A mulher cita, inclusive, o relatório do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE) que aponta que apenas R$ 89 mil reais foram gastos pela gestão Raquel Lyra (PSD) até o momento. Esse relatório foi apresentado este ano em audiência na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Segundo essa mãe, que não quer se identificar, mas participa de movimentos e entidades que acolhem pessoas autistas e seus familiares, a estimativa é de que haja 200 mil autistas em Pernambuco e além desses outros 45 mil aguardando diagnóstico e laudo, necessários para buscar direitos e tratamento adequado.
Mas conseguir o laudo na rede pública estadual tem sido uma saga, segundo ela, assim como encontrar tratamentos fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo, de acordo com o relato da mãe que nos procurou. Diante da situação, ela enviou um desabafo de quem acreditou na promessa de campanha de Raquel Lyra de que haveria a criação da Política da Pessoa com Autismo na sua gestão, mas aguarda até o momento por esse anúncio. Veja a íntegra:
Leia mais
Desabafo de uma mãe de pessoa autista enviado ao blog:
“Que tipo de governo é protagonizado por mulheres que abandonam outras mulheres e seus filhos?
Raquel Lyra e Priscila Krause se elegeram levando a pauta da inovação feminina como lastro para mudar o rumo do Estado em prol de uma mudança “radical” no campo político, sempre liderado por homens. Ambas são herdeiras de pais que foram referência em seus campos políticos, mas nunca foram vistos como modelos de acolhimento para minorias. Assim como as filhas!
O Governo Raquel-Priscila está formalizando o pouco caso com grupos minoritários, como pessoas autistas. Segundo relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE), há quase 50 mil pessoas autistas sem tratamento em Pernambuco. Alguns podem dizer que não existe dinheiro para realizar o acolhimento de pessoas autistas e seus respectivos tratamentos terapêuticos e medicamentosos.
No entanto, basta a leitura do relatório do TCE para que essa falácia seja desmascarada, visto que existem R$ 50 milhões destinados pelo Governo Federal ao tratamento de Pessoas com Deficiência (PCDs) em Pernambuco. Desse montante, absurdos R$ 89 mil foram utilizados na causa autista, demonstrando total ausência de políticas públicas no Estado. O maior volume da verba federal não está disponibilizado às pessoas autistas e seus familiares seguem órfãos do reconhecimento de suas existências e da dignidade do direito à saúde.
Para duas mulheres que se elegeram como uma alternativa ao machismo e a insensibilidade masculina agirem com tamanho descaso quanto aos filhos de outras mulheres, numa das piores situações já vistas para o segmento autista, isso é uma vergonha. Lembrando que a maior parte das famílias de pessoas autistas são matricêntricas e que estamos falando de mulheres sozinhas que lutam incansavelmente por seus filhos!
É, no mínimo, trágico que diante de uma realidade de sobrecarga, superatarefamento, exploração da força de trabalho dessas mães, exaustas e abandonadas por familiares e amigos, um Estado liderado por uma dupla de mulheres siga virando às costas e negando a dignidade de políticas públicas a um segmento tão vulnerável e necessitado de amparo.
Enquanto mães de atípicos morrem sem ver o mínimo para seus filhos e filhas, a governadora celebra contratos milionários para o São João de Pernambuco. É justo que tenhamos as tradições juninas mantidas, porém ainda mais justo é promover políticas públicas para todos e todas e, assim, fazer uso de uma verba já destinada aos cuidados com a população autista do Estado.
Para a comunidade autista fica a certeza de que o melhor seria ter o mesmo tratamento e empenho que é dado aos festejos juninos no Estado: agilidade, celeridade e verba pública aos montes, porque para a cidadania autista e suas famílias restou o nada, a escassez e a total ausência de amparo protagonizada por um governo que entende mais de forró, fogueira, canjica, pé de moleque e shows milionários do que de pessoas e suas necessidades.”
Leia menos