Cobrança por transferências, codinome e interferência na atividade policial: entenda investigação que prendeu major da PM no Paraná


Alexandro Marcolino Gomes, que era chamado de “01”, foi preso preventivamente durante operação em Maringá. Defesa dele disse que vai se manifestar após ter acesso aos autos. Major Alexandro foi preso nesta quinta-feira (22), em Maringá.
Reprodução/Redes sociais
O major Alexandro Marcolino Gomes, da Polícia Militar do Paraná (PM-PR) é investigado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) suspeito de cobrar propina, intimidar e subjugar subordinados. Ele foi preso preventivamente em Maringá, no norte do Paraná.
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A apuração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) reuniu evidências que mostram que o policial militar alterava procedimentos disciplinares, inquéritos policiais militares e transferências de policiais para outras unidades.
Na quinta-feira (22), mesmo dia em que a prisão preventiva aconteceu, Alexandro foi transferido ao 29º Batalhão de Polícia Militar (BPM), em Piraquara, onde está detido.
Navegue nesta reportagem para entender detalhes sobre a investigação:
Denúncia realizada em 2024
Codinome “01”
Crimes investigados
Cobrança de R$ 10 mil para transferência de soldado
Prisão durante operação
Defesa do suspeito
Denúncia realizada em 2024
A investigação começou em 2024 a partir de uma denúncia sobre crimes militares. A apuração contou com apoio da Corregedoria-Geral da Polícia Militar do Paraná (PM-PR), que também participou da operação de quinta-feira (22).
Não foi divulgada a origem de onde partiu a denúncia.
Codinome “01”
Durante o ano de investigação, conversas foram interceptadas para apurar a denúncia. Nessas conversas, o Gaeco descobriu que Alexandro, que é comandante da 3ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), era chamado pelo codinome “01”.
A operação do Gaeco foi “batizada” como Zero Um por este motivo.
Crimes investigados
Mandados foram cumpridos em cidades do norte e noroeste do Paraná.
MP-PR
São investigados crimes de concussão – que consiste na exigência de vantagem indevida por um funcionário público, em razão da função que exerce –, corrupção ativa e corrupção passiva. Também há suspeita de envolvimento de outros agentes de segurança pública.
De acordo com o MP-PR, as apurações mostraram que o esquema de propina ainda contava com um operador financeiro. O método era usado para interferir em processos internos da PM.
Em uma coletiva realizada na quinta (22), o promotor do Gaeco, Marcelo Gobbato, contou que o major cobrava valores diversos, que dependiam da situação.
“Sempre que havia oportunidade de obter valores decorrentes de procedimentos disciplinares que ele, de algum modo, pudesse interferir em relação a subordinados. Outras vezes, pagamentos para o comandante como forma de o militar subordinado conseguir uma transferência para outra unidade da instituição. Outras vezes, atos de interferir diretamente na atividade de policiais para que não fizessem abordagens ou não tomassem essas ou aquelas providências”, explicou o promotor.
O g1 apurou que o suspeito usava a patente elevada de major como forma de intimidar outros policiais militares, oferecer um “serviço” e solicitar a propina.
De acordo com o comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, José Renato Mildemberg, o policial militar tinha competência para solucionar inquéritos militares e “vendia” as decisões dos procedimentos.
“No inquérito policial militar, em qualquer crime militar que seja dentro da área de circunscrição, é ele [o major] que faz a portaria de nomeação e ele que faz a solução do inquérito. Então, como ele tinha a competência para solucionar o inquérito, ele vendia a decisão para esses procedimentos”, explicou.
O Gaeco também está investigando se o grupo de policiais coagia empresários a contratar PMs como seguranças particulares.
Cobrança de R$ 10 mil para transferência de soldado
As apurações do g1 mostraram que Alexandro ofereceu uma transferência a um soldado da PM por saber que o subordinado tinha familiares na cidade em que a vaga estava disponível.
Ou seja, ele sabia que o policial tinha interesse em se mudar. Para que esse processo fosse concluído, pediu R$ 10 mil em troca.
Em outras ocasiões – com subordinados e objetivos diferentes – foram cobrados valores como R$ 2 mil e R$ 5 mil, conforme depósitos bancários analisados pelo Gaeco.
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Prisão durante operação
Operação contra corrupção prende major da PM
A operação foi realizada pelos núcleos de Maringá e Umuarama do Gaeco, no início da manhã de quinta-feira (22).
Foram cumpridos um mandado de prisão preventiva, nove mandados de busca e apreensão, sete mandados de busca pessoal (contra sete policiais militares), um mandado de monitoração eletrônica e três mandados de afastamento de funções públicas.
Os locais de cumprimento dos mandados estão nas cidades de Loanda, Santa Isabel do Ivaí, Planaltina do Paraná, Maringá e Sarandi
Em Loanda, um PM foi preso em flagrante porque estava com um estoque de munição irregular, mas pagou fiança e foi liberado.
O major e três policiais militares foram afastados da função pública. Dois desses policiais são investigados porque foram transferidos para as unidades em que gostariam de trabalhar depois pagar valores ao comandante, segundo o Gaeco.
Defesa do suspeito
A defesa do major informou ao g1 que irá se manifestar após ter acesso aos autos.
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