Um casal decidiu levar à Justiça a disputa pela guarda de um bebê reborn após o divórcio. A história, que veio a público nesta semana, expõe o forte apego emocional que adultos desenvolvem com as bonecas hiper-realistas. Segundo a advogada de uma das partes, a cliente busca regulamentar judicialmente a posse do brinquedo que “adotou” com o ex-parceiro e ao qual atribui laços afetivos profundos.
O caso inusitado coincide com a divulgação de um estudo da Universidade de Toronto, no Canadá, que investigou o comportamento de adultos que interagem com os bebês reborn. A pesquisa concluiu que a prática está profundamente ligada a necessidades emocionais, criativas e terapêuticas, oferecendo conforto, promovendo a autoexploração e contribuindo para o bem-estar geral.
Populares no Brasil há pelo menos duas décadas, os bebês reborn deixaram de ser apenas brinquedos infantis e se tornaram objeto de desejo de adultos. Muitos colecionadores investem em acessórios, roupinhas e até pagam caro por experiências imersivas, como o “nascimento” das bonecas em lojas que simulam maternidades.
Para o psiquiatra Raphael Boechat Barros, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), o apego pode ser motivado por diversas razões: desde o simples colecionismo até modismos impulsionados por redes sociais. “A partir do momento que isso ganha visibilidade na mídia digital, mais gente se interessa. É um efeito cascata”, afirma.
O especialista pondera, no entanto, que em alguns casos o envolvimento exagerado pode estar ligado a questões mais profundas. “Desde quadros psiquiátricos, como psicose e neuroses, até fatores relacionados à autoestima, insegurança e solidão”, alerta.
Origem e evolução
O movimento renascido surgiu nos Estados Unidos nos anos 1990, mas só se popularizou no Brasil a partir dos anos 2000. Cada boneca é feita à mão, com camadas de tinta para imitar o tom de pele, veias, manchas e até marcas de nascente. Os cabelos são implantados fio a fio e o corpo, muitas vezes, são recheados com materiais que reproduzem o peso e o toque de um bebê real.
Com valores que variam de R$ 800 a mais de R$ 5 mil, as bonecas ganham status de obras de arte. Muitas são vendidas com certidão de nascimento, enxoval completo e até nome escolhido pela “mãe”.
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