Bonecas bebê reborn são feitas artesanalmente e construídas camada a camada quando matéria prima é o silicone. Foto: Felipe Rau/Estadão
“Até mesmo as cores das bonecas são feitas em referência a recém-nascidos. Elas são mais rosadinhas, roxinhas, têm as veias aparecendo”, descreve Daniela. “Muitas vezes (quem compra) é aquela mulher que sempre quis ter uma boneca quando criança, mas não pôde, e agora pode investir em uma de boa qualidade”, diz.Mas há modelos mais baratos, a partir de R$ 750, feitos de vinil, material amplamente utilizado na fabricação de bonecas, e mais rígido. “Essas são as mais compradas para crianças, até porque os modelos de silicone são sensíveis e demandam cuidado.”Os modelos de silicone sólido, segundo a especialista, atraem mais colecionadores e profissionais e empresas da área da saúde, que compram as bonecas com objetivos educacionais, para simular partos e cuidados com recém-nascidos.Polêmica nas redes sociais O uso de bebês reborn por adultos tem esquentado as discussões nas redes sociais. De um lado, há quem critique e até questione a sanidade de mulheres adultas que supostamente têm tratado as bonecas como filhas “de verdade”.Há relatos nas redes de pessoas que tentaram marcar consultas médicas para bebês reborn ou até contratar advogado para processo de guarda compartilhada, mas a reportagem não conseguiu confirmar se os casos são reais.Leia também1Bebê reborn no SUS: Projeto de lei pede multa para quem usar boneco para tentar prioridadeOnde será que vai parar essa onda de “mãe” de bebê reborn? Vai chegar um dia onde elas vão querer usar fila preferencial, fraldário público, licença materninade, etc?Não gosto de ridicularizar as doenças mentais alheias, mas fica difícil respeitar esse tipo de coisa.— Tiago Belotti (@TiagoBelotti) May 13, 2025Outra parte dos internautas aponta um suposto viés machista nas críticas à moda. “Me recuso a entrar na pauta do bebê reborn porque, na minha concepção, se tem homem de 40 anos vestindo camiseta do superman e colecionando action figure, tá mais do que liberado brincar de boneca”, escreveu um usuário do X.me recuso a entrar na pauta do bebê reborn porque, na minha concepção, se tem homem de 40 anos vestindo camiseta do superman e colecionando action figure, tá mais do que liberado brincar de boneca— daniel duncan (@daniduncan) May 12, 2025Segundo o psicólogo Marcelo Santos, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a popularização do brinquedo por adultos pode ter benefícios à saúde mental. Isso porque permite criar comunidades, favorece o senso de pertencimento e a interação social, além de estímulo criativo e relaxamento.“Não dá para ‘patologizar’ (definir a prática como doença) automaticamente. É importante analisar quais os contextos e as motivações por trás desses comportamentos”, pondera.O limite entre hobby e problema de saúde mental está na frequência, na intensidade, na distorção da realidade e no impacto na vida do indivíduo, segundo a psicóloga Rita Calegari, do Hospital Nove de Julho. É preciso saber separar o que é brincadeira da vida real.Conforme Daniela, apesar do aumento de vendas para adultos nos últimos meses, a maioria das compras ainda são feitas para crianças. “Não vou dizer para você que não tem (mulheres que tratam como criança). Tem, mas não é a maioria. É uma minoria, que geralmente faz isso para chamar a atenção, vender boneca também“, diz a empresária.