Brasileira revoluciona a agricultura sustentável e ganha ‘Nobel’ do setor

A cientista brasileira Mariangela Hungria foi anunciada nesta terça-feira (14) como a vencedora do Prêmio Mundial da Alimentação 2025, o “Nobel da Agricultura”. A homenagem internacional reconhece sua trajetória de mais de 40 anos desenvolvendo soluções biológicas que substituem fertilizantes químicos, com impactos diretos na produtividade agrícola, na economia e na sustentabilidade do setor.

“Estou imensamente feliz, ainda não consigo acreditar. É uma grande honra, um reconhecimento mundial”, declarou Mariangela Hungria ao Canal Rural. Para a pesquisadora, sua principal contribuição para mitigar a fome reside na “persistência de que a produção de alimentos é essencial, mas deve ser feita com sustentabilidade.”

Pioneirismo em insumos biológicos e impacto bilionário

O trabalho de Hungria com inoculantes – produtos não químicos que auxiliam as plantas na absorção de nutrientes – revolucionou o tratamento do solo no Brasil. Estima-se que suas pesquisas tenham sido aplicadas em mais de 40 milhões de hectares, gerando uma economia anual de até US$ 40 bilhões (R$ 225 bilhões) aos agricultores brasileiros e evitando a emissão de mais de 180 milhões de toneladas métricas de CO2 por ano, conforme dados da World Food Prize Foundation.

A pesquisadora também foi pioneira no estudo da fixação biológica de nitrogênio, um processo natural que dispensa o uso intensivo de fertilizantes químicos, altamente poluentes e dependentes de combustíveis fósseis. “Se não fosse esse processo natural, teríamos que usar fertilizantes químicos que consomem muita energia — cerca de seis barris de petróleo por tonelada de nitrogênio produzido”, explica Hungria. À BBC Brasil, ela destacou sua “persistência: mais de 40 anos acreditando que os biológicos poderiam ser uma solução viável economicamente e de alto rendimento.”

Foto: World Food Prize

A trajetória de Mariangela Hungria coincide com o impressionante crescimento da produção de soja no Brasil, que saltou de cerca de 15 milhões de toneladas na década de 1980 para mais de 170 milhões atualmente, consolidando o país como o maior produtor e exportador mundial da commodity. A governadora de Iowa, Kim Reynolds, presente na premiação, exaltou a pesquisadora como “uma cientista de grande perseverança e visão” e um “exemplo inspirador para mulheres pesquisadoras.”

Futuros desafios e a busca pela agricultura sustentável

Apesar dos avanços, Hungria aponta que os bioinsumos ainda representam 10% do mercado em relação aos químicos no Brasil. Ela defende maiores investimentos em pesquisa e indústria para que o país alcance uma agricultura “de alta produtividade, mas cada vez mais sustentável.” A pesquisadora também ressalta a importância de uma abordagem multidisciplinar para garantir que a produção de alimentos tenha um impacto efetivo no combate à fome.

A governadora de Iowa, Kim Reynolds, elogiou a brasileira: “A Dra. Hungria é uma cientista de grande perseverança e visão, como Norman Borlaug. Suas descobertas lançaram o Brasil como um celeiro global.”

Vinda de Itapetininga (SP), Mariangela Hungria conta que a paixão pela ciência surgiu aos 8 anos, com o livro Caçadores de Micróbios, presente da avó. Desde então, dedicou a vida à pesquisa. É autora de mais de 500 publicações e foi pioneira ao adaptar métodos microbiológicos aos trópicos.

Aos 67 anos, Hungria também é professora, mãe, ativista por uma agricultura mais feminina e vencedora recente do Prêmio Mulheres e Ciência. “A agricultura sustentável do futuro traz uma visão muito feminina — de cuidado com o solo, o meio ambiente e as pessoas.”

“Persistência, competência e resultados científicos robustos são o melhor caminho para vencer o preconceito”, resume a cientista.

A cerimônia oficial acontecerá em 23 de outubro, na sede da World Food Prize Foundation, em Des Moines, nos EUA. Mariangela Hungria se junta a outros três brasileiros que já receberam a honraria: Edson Lobato e Alysson Paolinelli (2006) e Luiz Inácio Lula da Silva (2011), reconhecido por sua política de combate à fome.

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com agências

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