Filho de Trindade, o padre redentorista Marco Aurélio Martins da Silva, ou simplesmente padre Marco Aurélio, é o reitor do Santuário Basílica desde 2023. Hoje, com 45 anos, ele conta ter sido “despertado” para sua missão na Igreja Católica aos 17, tendo ido para o seminário aos 18 anos de idade. Com apenas 26, após os anos de estudo de Filosofia e Teologia – obrigatórios a todos que decidem seguir o caminho do sacerdócio –, Marco Aurélio foi ordenado padre.
O reitor da Basílica de Trindade também é presidente da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade que mantém obras sociais, a TV Pai Eterno e a própria Basílica. O novo Santuário, inclusive, está em construção há mais de 10 anos e, segundo Marco Aurélio, não há previsão de conclusão. “Dependemos totalmente das doações dos fiéis”.
Nesta entrevista, o sacerdote revela as expectativas quanto ao novo templo católico (que deve ser um dos maiores do país), as esperanças quanto ao novo papado e também como está a atual relação da Afipe com o padre Robson, anos depois da deflagração da Operação Vendilhões. Sobre os rumos da Igreja Católica, ele garante: “Só posso acreditar em uma Igreja que acolhe o outro naquilo que ele é. Somos uma diversidade, e a diversidade só é vivida a partir do amor.”
Ton Paulo – Após 12 anos do início da construção do novo Santuário Basílica de Trindade, a obra ainda não foi concluída, apesar de já ter avançado fases. Há uma previsão de entrega?
Não temos ainda uma previsão de entrega das obras, porque o ritmo delas é o ritmo de doações. De fato, 100% do que hoje é feito no canteiro de obras vem da doação dos fiéis do Brasil inteiro que participam da campanha Família de Amor. Essa campanha consegue receber esses recursos e transformá-los em obras e projetos sociais que realizamos.
Temos um valor mensal que destinamos para a obra, que é o valor que hoje conseguimos dar à administração. E temos uma média de 80 a 90 profissionais trabalhando diuturnamente para que a obra aconteça. Ela nunca parou.
É uma cruz latina. Fizemos o setor A, que é justamente no caminho da Rodovia dos Romeiros e em que é possível visualizar o que está construído, já com seu esqueleto, e estamos no Setor F, que é justamente o outro lado, é o outro braço da cruz. São estruturas gêmeas. O cimbramento que nós usamos de um lado, usamos do outro. Toda a construção é feita com concreto armado. São montadas as formas e o cimento é jogado.
Uma vez terminado o setor F, voltaremos para o setor A com a finalidade de concluí-lo. Nossa construção é uma cruz latina sobre um grande círculo. Temos um círculo, que será a nossa praça elevada e, no centro, está a igreja. Para acessar a igreja, as pessoas precisam subir, pois o piso da igreja está a 10 metros de altura. É preciso acessar a parte com elevadores ou escada, ou mesmo rampa de acesso. Vamos construir, ao lado do setor F, essa área das rampas para acessar a igreja.
Creio numa igreja que tem as portas abertas para acolher a todos com alegria, que celebre. Você quer celebrar essa experiência de fé que Cristo revelou, que acolhe, que perdoa, que ama, que cumpre com fidelidade nossa missão enquanto pessoas humanas? Venha para dentro, venha celebrar
O que queremos é que, no máximo de quatro anos, tenhamos condições de entregar essa obra para que tenha a finalidade de igreja. Para que todos os dias tenhamos missa ali e também a estrutura da TV Pai Eterno, cujo setor administrativo está dividido entre Goiânia e Trindade. Com a obra, teremos tudo em um só lugar. Como estamos falando de uma grande obra, são mais de 400 mil metros de área de toda a construção, desde o estacionamento, queremos que as pessoas possam conviver no canteiro de obras.
Buscamos um pouco a inspiração de Gaudí [arquiteto catalão]. Ele realizou isso ao longo do seu tempo em Barcelona, e é o que tem acontecido também hoje. Ainda não terminou a igreja da família, porque a igreja é vista como um grande jardim. Não estamos falando de um canteiro de obras que tem pedreiros, marceneiros, mestres de obras. Temos jardineiros que tomam conta desse jardim. É um pouco da experiência de Gaudí, em que as pessoas vão convivendo naquele canteiro de obras e acompanhando a obra, o ritmo dela.
Sinceramente, não estamos preocupados se vai demorar 10 anos ou se vai demorar 20 anos. É lógico, se tivéssemos um fôlego financeiro para que a obra acontecesse em ritmo mais acelerado, seria o melhor cenário. Mas dentro do ritmo que já estamos, entendemos que é o caminho mais seguro e portanto as pessoas poderão também acompanhar e celebrar junto conosco.
Italo Wolff – Quais são as funções do reitor da Basílica, e também do presidente da Afipe, cargos que o senhor ocupa?
O reitor da Basílica é o responsável, o guardião daquele santuário. Ele é o guardião deste patrimônio da fé que é o Pai Eterno. O reitor tem a finalidade de cuidar com que a devoção, esse movimento de fé extrapole fronteiras e alcance outras pessoas, Brasil afora, mundo afora. Logo, precisamos fazer com que essa devoção cresça, tornar o santuário um ambiente de acolhida, de misericórdia e um ambiente de compaixão.
Sobre a Associação Filhos do Pai Eterno, a Afipe, o reitor é automaticamente o presidente da associação. É uma instituição fundada para ser mantenedora dessas obras. Ela precisa fazer a ponte para que o Santuário cumpra sua missão. Contudo, cada vez mais a associação está se esvaziando para crescer o Santuário, o que está sendo feito agora.
Hoje, temos uma média de 300 colaboradores apenas na associação e que têm essa finalidade de garantir que o projeto da obra aconteça no Santuário, as obras sociais aconteçam e a televisão, porque temos uma TV nacional e ela está ligada à associação.
João Reynol – A Romaria é um dos eventos mais importantes ligados ao Santuário e costuma atrair milhões de fiéis. Qual a expectativa para o evento neste ano?
No ano passado, recebemos uma média de três milhões e meio de fiéis ao longo dos 10 dias de Romaria. Estamos falando de 10 dias intensos de Romaria. E celebraremos este ano os 185 anos da nossa Romaria, marcando a contagem regressiva para o bicentenário da devoção ao Pai Eterno em Trindade. Nossa expectativa é grandiosa. Esperamos um público superior. É fato que a cada ano esperamos um pouco mais. Talvez, cinco milhões de pessoas possam chegar em Trindade ao longo desse período e esse ano, com a surpresa de estarmos conseguindo trazer o sino Vox Patris da Polônia para o Brasil.
Ele deve chegar no próximo dia 17 ou 18 de maio no Brasil. Em Trindade, no início do mês de junho. Justamente para somar, para compor esse complexo de turismo religioso, sendo um instrumento de fé também. Logo, nesse momento entendemos que pode haver um aumento na quantidade de pessoas. Mas já há, naturalmente, um movimento de pessoas que chegam a Trindade pelo Pai Eterno. É o Pai Eterno o promotor de tudo isso, o grande protagonista dessa grande ação, e a Romaria está preparada, está tudo pronto.
Ton Paulo – Quando o novo Santuário Basílica for entregue, o que será feito do antigo, que no caso, é o atual?
É uma decisão que, no futuro, deve ser tomada pela Arquidiocese, conjuntamente com a Congregação Redentorista, porque hoje a nossa gestão é compartilhada. Mas há um entendimento de se tornar, ali, uma igreja que possa guardar o medalhão ou uma outra estrutura de igreja, ou até mesmo para servir os Romeiros, como suporte, para a acolhida deles.
E temos um projeto para ligar as duas obras. Temos o projeto do teleférico, que já está bem avançado, em que nós queremos que as duas estruturas sejam conectadas por esse teleférico, pelas estradas vicinais e também acesso de Romeiro, que pode inclusive fazer uma experiência religiosa acima daquela serra.
O que nós queremos fazer de fato é tornar Trindade um referencial do turismo religioso para o Brasil. O município já é, pois não é qualquer espaço, festa religiosa que você recebe tantas pessoas e que vêm de tantos lugares do Brasil. Mas queremos realmente criar esses ambientes onde a pessoa vai a Trindade e tem um ambiente de fé, um ambiente para a sua convivência.
Ton Paulo – Acabamos de ter o conclave, um dos eventos mais importantes para a religião católica, que é quando se escolhe o novo Papa. E o escolhido foi o cardeal Robert Prevost, que agora é o Papa Leão XIV. Como a escolha do Papa Francisco, e o como o senhor avalia o legado dele?
No outro conclave, que elegeu o Papa Francisco, havia nomes fortes sendo cotados. Mas foi realmente uma ação do Espírito Santo, uma surpresa a eleição do Papa Francisco. Sabemos que no conclave que elegeu o Papa Beto XVI, o nome do Papa Francisco já havia sido sondado. Até dizem que ele havia resistido a esse momento, pedindo, inclusive, aos seus pares cardeais que não votassem nele. Mas no segundo momento, quando o Papa Beto XVI pediu renúncia, então Francisco foi o nome. Foi uma surpresa para todos nós, o que considero uma surpresa evangélica.
Porque o Papa Francisco trouxe um novo olhar para a igreja, abriu as portas com um olhar de misericórdia e de acolhida. Costumo dizer que o Papa João Paulo II era um Papa para se ver. O Papa Beto XVI era um Papa para se ouvir, pois ele era muito intelectual. E o Papa Francisco era um Papa para tocar, ele era próximo das pessoas. Portanto, nossa expectativa é que o novo Papa possa continuar muitas dessas ações.
Sabemos que um novo Francisco não é possível, porque cada um tem sua forma de gestão, cada pessoa é uma pessoa. Mas esperamos um papado que seja tão sensível quanto foi o do Papa Francisco.
Italo Wolff – Nessa discussão sobre os rumos da Igreja Católica, o que o senhor acredita que seria ideal, qual rumo a igreja deveria tomar? Ela deveria se voltar um pouco mais para esse ortodoxismo, prezar pelas tradições nesse momento, ou se abrir um pouco mais, buscar um pouco mais os jovens?
Acredito nessa igreja de Jesus Cristo, que olha para as pessoas com misericórdia, que olha para as pessoas com compaixão. Uma Igreja que celebra seu rito, mas acima de tudo está a pessoa humana. Essa igreja que nós celebramos hoje a partir dessa mentalidade franciscana, a partir daquilo que Francisco tentou trazer com muita dificuldade, porque foi com muito enfrentamento, com muita coragem.
Francisco foi marcado por coragem e ousadia. Ele tocou em temas muito sensíveis para a igreja, em temas que abrem a experiência humana, que acolhe o outro naquilo que o outro é. E eu só posso acreditar em uma igreja que acolhe o outro naquilo que ele é. Somos uma diversidade e a diversidade é só vivida a partir do amor, a partir da acolhida. O amor não separa, o amor une.
A relação da Afipe hoje com o Padre Robson não existe, não tem essa relação. Ele continuou seu trabalho, mas em outro lugar, em São Paulo com outro bispo
Creio numa igreja que tem as portas abertas para acolher a todos com alegria, que celebre. Você quer celebrar essa experiência de fé que Cristo revelou, que acolhe, que perdoa, que ama, que cumpre com fidelidade nossa missão enquanto pessoas humanas? Venha para dentro, venha celebrar. É essa igreja que acho que não podemos jamais celebrar: uma igreja do rito, em que ele está acima de qualquer coisa, colocar uma mentalidade um tanto quanto farisaica que Jesus tanto combateu, que traz a experiência da legalidade acima de qualquer experiência humana. Isso nós não podemos viver, nós não podemos celebrar isso, e a igreja já mudou isso.
João Reynol – A morte do Papa Francisco ocorreu logo após a Páscoa. Como o senhor acha que isso afetou as pessoas?
Acho que afetou emocionalmente, porque a comoção foi geral. Eu estava recentemente numa celebração ecumênica e vi um pastor exaltar o Papa Francisco com o coração. Penso que a morte do Papa Francisco trouxe, primeiro, aquele sentimento forte. Um repórter me perguntou qual era o sentimento, eu respondi: ‘Eu perdi um pai’.
O Papa Francisco tinha essa força. Mesmo quem não conhecia o Papa Francisco pessoalmente tinha uma relação com ele, porque era assim que ele celebrava sua vida, com tamanha leveza.
Ton Paulo – Em 2015, o Papa Francisco publicou a carta encíclica Laudato si’, na qual ele falava sobre a importância do cuidado com o que chamava de “casa comum”. Foi um documento essencialmente voltado para a preservação do meio ambiente. Qual foi o impacto dessa carta no posicionamento ecológico da Igreja Católica?
A Igreja hoje tem inserido em seus projetos grandes realizações para tentar conscientizar seus paroquianos, seus religiosos, aqueles que fazem parte dessa grande comunidade, sobre a importância do cuidado com o meio ambiente, entendendo realmente que é a casa comum. Conscientizar sobre a falta de cuidado com a casa comum, que se eu jogar um lixo na rua, no rio, se eu promover um incêndio impacta, o impacto é para todos.
A casa comum só pode ser concebida a partir do coletivo, é uma casa de todos nós. Fomos formados a celebrar essa convivência e cuidar dela é um tema tão importante, tão urgente que o Papa Francisco trouxe e insistiu nele com veemência, chamando nossa atenção de que se nós não cuidarmos, a morte é iminente. Quanto tempo ainda temos?
O Papa Francisco também indica alguns caminhos que a Igreja e a humanidade de modo geral podem seguir, mas também chama atenção para a política nacional a política mundial. O que de fato as organizações mundiais podem realizar e promover como meta emergencial para o cuidado da casa comum. Acredito que devamos trazer essa lição do Papa, esses ensinamentos, esse alerta como uma realidade.
Ton Paulo – No meio do entretenimento, principalmente no cinema e na literatura, as obras relacionadas à Igreja Católica costumam fazer muito sucesso. Recentemente, tivemos o filme Conclave, que inclusive ganhou um Oscar. Ele foi alvo de ataques por parte de alguns católicos, que disseram que era um ultraje à Igreja por destacar uma suposta disputa política na eleição do Papa. O senhor assistiu ao filme? O que acha da obra?
Sim, assisti ao filme. Embora eu não tenha entendido que a intenção tenha sido um ataque à Igreja, penso que a questão política existe em qualquer ambiente. Não vou dizer que no ambiente da Igreja não existam aqueles que queiram uma ascensão em algum cargo, por exemplo. Seria, da minha parte, completamente irresponsável, porque é uma coisa que sabemos que existe em cada um de nós. Agora, essa não é a essência da Igreja, não é a essência do conclave aquele exagero apresentado no filme.
No filme, uma pessoa que ninguém sabia que foi nomeada exclusivamente pelo Papa Francisco, e por um motivo muito específico, é eleito Papa diante da sua palavra de simplicidade, de comunhão, da responsabilidade. Ali, chamou atenção justamente sobre isso, do que nós não devemos ser, do que nós não devemos fazer. O eleito, no filme, chamou atenção no discurso dele. Em um momento em que estavam todos debatendo, ele se levanta e fala sobre ‘Veja o que nós estamos fazendo aqui, cada um querendo um lugar de destaque, querendo poder e não estamos falando de Evangelho, não estamos falando de Jesus Cristo’.
Política no conclave existe, mas naquela intensidade ali, acredito que não, de forma nenhuma. O conclave tem todo um rito litúrgico antes de cada votação, tem um juramento que é feito quando o cardeal vai colocar seu voto, e aquele voto é muito da concepção de Igreja daquele cardeal. Mas não acredito que o filme seja um ataque.
Ton Paulo – Cinco anos atrás, a Afipe enfrentou uma crise envolvendo seu então presidente, Padre Robson, que foi denunciado pela suspeita de desvio de dinheiro da associação, na Operação Vendilhões. Hoje, qual a relação da Afipe com o Padre Robson? Os danos à associação foram revertidos?
A relação da Afipe com o Padre Robson não existe, não tem essa relação. Ele continuou seu trabalho, mas em outro lugar, em São Paulo com outro bispo. Portanto, a relação hoje, seja jurídica ou institucional, não existe.
Nós temos uma história que está além de qualquer pessoa. Eu estou lá na associação, mas eu passo e outro virá, e assim acontecerá com a história. Pois o que é o centro de tudo aquilo é o Pai Eterno, o centro desse santuário, dessa devoção. O santuário continua, e a vida ali é celebrada. Veja a quantidade de pessoas todo final de semana participando, celebrando e acompanhando o Pai Eterno.
As pessoas entenderam que esse personalismo não pode acontecer, não é um culto à pessoa. As pessoas não podem ir a Trindade por causa do padre x, y, z. A pessoa vai à Igreja porque ela acredita, porque ela tem fé em Deus, porque ela é devota de Nossa Senhora, porque tem uma intimidade devocional.
Nosso trabalho foi justamente para desmistificar esse personalismo e trazer para o centro aquele que sempre existiu e precisa sempre existir, que é o Pai Eterno.
Ton Paulo – Durante muitos anos o sacerdócio foi tido com uma extrema solenidade. Hoje, vemos padres influencers, youtubers, skatistas, que fazem vídeos bem humorados. Como o senhor enxerga esse fenômeno?
Acho isso ótimo. Essa diversidade que eu falava agora há pouco, de dons, de carisma. A Igreja é justamente isso, essa somadora de carismas e de potenciais. Tem um padre com o qual eu estava conversando há alguns dias que é DJ. Ele até fez um evento no Cristo Redentor e usa disso para poder aproximar as pessoas, os jovens.
Eu tenho que identificar o que é meu dom, o que eu tenho de melhor e usar isso. Mas faça com entrega, com verdade, não crie uma realidade ou um estereótipo para aquilo que você não é. Acredito que é essa grandeza da Igreja. Nós temos braços que acolhem e que respeitam. O que não posso fazer jamais é dizer que o outro não está correto porque ele não reza como eu, que o outro não está certo na religião porque ele não faz como eu faço.
Não podemos traçar o céu e o inferno para o outro porque ele não se adequou às minhas crenças, ao meu modo de celebrar a fé.
Italo Wolff – Um levantamento recente mostrou que os jovens no final do século XX começaram a procurar respostas em outras áreas como a religião, e o número de ateus e agnósticos chegou a 16% no mundo inteiro, o ponto mais alto, mas já começou a cair. O senhor sente uma demanda maior dos jovens, uma procura por respostas na Igreja?
Sim. Se você olhar a estatística, houve um crescimento da igreja e um crescimento especial com os jovens. O Papa Francisco conseguiu isso, acredito que a igreja se abriu. Ele conseguiu muitas especialidades no respeito à individualidade, não o individualismo, de cada um, o seu potencial. Acho que o Papa Francisco ajudou muito nesse sentido.
Percebo um crescimento, mas também percebo um crescimento grandioso de uma certa inércia, uma indiferença. Aqueles que são indiferentes. Quando olho para a Igreja, percebo que houve uma movimentação bonita, há um crescimento, há uma esperança com jovens voltando, muitos que deixaram a religião, a fé católica, e depois retornaram. Mas também há um crescimento da indiferença e isso é o que mais me preocupa. É a indiferença com o outro, das relações do compromisso com o outro, da relação com o mundo.
O que queremos é que, no máximo de quatro anos, tenhamos condições de entregar essa obra para que tenha a finalidade de igreja
Veja as fake News, veja o que acontece todos os dias. Uma pessoa que coloca veneno em um doce e dá para o outro, um caso que aconteceu recentemente. É isso, é o crescimento da ‘religião do eu’. E não podemos permitir que essa religião do ‘eu’ se empodere, se intensifique, porque aí vamos criar muito mais pessoas individualistas que se colocam acima de todos e podem ter reações violentas, como estamos vendo todos os dias.
Acredito que a religião tem um papel muito importante. Por onde passo, missão é pregar, celebrar. Mas eu nunca vou desfazer da sua fé. Tenho muitos amigos pastores, tenho um amigo do Candomblé, da Umbanda. Tenho amigos de diversas denominações religiosas, porque eu acho que é essa colhida. O que a religião causa em você? Ela te humaniza, te faz melhor?
João Reynol – Um outro levantamento também recente apontou que, não só no Brasil, como no mundo, o catolicismo não será mais a religião dominante daqui a alguns anos. O senhor acha que a Igreja deve se empenhar em manter o número de fiéis e aumentar esse quantitativo? Há uma competição da Igreja Católica com outras religiões?
Acredito que não há essa competição. Veja o Papa Francisco com as igrejas da Ásia, tantos lugares em que ele foi e pessoas com quem ele dialogou. O ecumenismo não é que você venha para a minha igreja, mas eu acolher a sua igreja e nós estarmos juntos e dialogar. Esse é o ecumenismo de fato, é quando somos capazes de estar na mesma mesa e dialogar sem crise, sem briga, acolhendo aquilo que é do outro e respeitando o outro.
A preocupação maior da igreja deve ser muito mais com a qualidade pastoral, com a qualidade de serviço. Com toda franqueza, às vezes há católicos que olhamos e pensamos: ‘O que essa pessoa está fazendo aqui? Porque ela insiste em estar aqui? Ela tem que estar em outro lugar’, pois ela se diz uma pessoa de fé, mas parece muito mais um juiz. É uma pessoa maledicente, uma pessoa maldosa que não deixou que a experiência da fé pudesse transformar o coração a ponto de ela ser alguém mais aberta, mais acolhedora, mais amorosa, cheia de compaixão.
A Igreja é milenar, tem uma história que constituída ao longo de muitos séculos celebrando a sua vivência, e ela se transforma. Se você for olhar a história da Igreja, quantos momentos bonitos ela vivenciou e tem vivenciado. A Igreja já pediu perdão, o Papa João Paulo II pediu perdão, o Papa Francisco pediu perdão e fez toda uma ressignificação para dizer: não é o que aconteceu, é de agora para frente. A Igreja não pergunta o que você foi, ou o que você fez, ela pergunta o que você fará daqui para frente.
João Reynol – O sino Vox Patris, que está a caminho do Brasil e chegará a Trindade, está carregado de história e uma parte dela está ligada ao Padre Robson. Qual o significado do sino hoje?
O Vox Patris é um marco, um símbolo sagrado que vai poder nos ajudar muito a recontar nossa história. Inclusive, estamos construindo um documentário do sino Vox Patris a muitas mãos. Precisamos contar nossa história, a história de um povo, de uma família e de famílias que foram se juntando, as coisas que foram acontecendo de uma forma tão linda e espontânea. O Vox Patris vem para coroar, validar aquilo que hoje estamos fazendo.
Tenho dito que o Vox Patris não é um bezerro de ouro para ser adorado, não é uma peça para ser venerada. O Vox Patris é um sino robusto que pesa 55 toneladas, altura e medida do santuário que estamos construindo e que precisava ser algo que, de fato, pudesse se relacionar muito bem com nossa história.
Algo que pudesse também promover o turismo religioso. Acredito que ele pode recontar a história, até para que aqueles curiosos possam chegar para ver o sino e que aí vão conhecer nossa devoção, conhecer a fé do povo.
O post Padre Marco Aurélio: “Não podemos celebrar uma Igreja que coloca o rito acima de qualquer coisa, de qualquer experiência humana” apareceu primeiro em Jornal Opção.