Os vereadores Thialu Guiotti (Avante), Cabo Senna (PRD) e Sargento Novandir (MDB) foram intimados para prestar os primeiros depoimentos, na última terça-feira, 29, sobre uma ação penal que trata dos crimes de homofobia por falas declaradas durante o plenário da Câmara Municipal de Goiânia. Se foram condenados o parlamentares
No dia 29 de junho de 2021, os parlamentares elevaram o tom em críticas à propaganda da rede de fast-food Burger King, que lançou uma peça publicitária ouvindo crianças que pensavam sobre a existência de casais homossexuais, por conta do Dia Internacional do Orgulho Gay, comemorado anualmente em 28 de junho.
O vereador Thialu levou o assunto primeiramente para a tribuna da Câmara. “Não venham querer usar as crianças do nosso País, induzindo ao homossexualismo (sic – termo incorreto e não usado desde 1990 pela OMS) como se isso fosse normal. Não é normal. Normal é mulher com homem, homem com mulher”, disse o vereador que também falou que tem amigos que são homossexuais e que os respeitava. Nos discursos ele ainda disse “crianças são influenciadas por uma ideologia canalha”.
O vereador, que foi o pivô dos comentários de ódio ainda usou de Fake News para defender seus argumentos. Ele disse que um estudo que indicava que “mais de 70% dos homossexuais desenvolveram (sic) através de um gatilho de um estupro ou de uma violência cometida na infância. Na época, o Conselho Regional de Psicologia contestou a informação e informou não haver nenhum estudo em que a orientação sexual nada tem haver com agressões.
A ex-vereadora Gabriela Rodart (Sdd) disse na época que “a militância LGBT é maliciosa em sua essência”. “Não podemos ser pautados aqui por uma agenda deplorável que vai contra a natureza humana. A militância LGBT não luta pela dignidade da pessoa humana, quem faz isso é a doutrina social da santa igreja católica”, disse. Na mesma discussão, o vereador Sargento Novandir (MDB) afirmou no microfone. “Quero pedir que quando forem chamar o senhor (Thialu) de homofóbico, coloquem o meu nome junto. Eu penso da mesma forma. Respeito LGBT, mas não respeito incentivar as nossas crianças a irem para este caminho”, disse o parlamentar que na época estava filiado no Republicanos.
O resultado disso tudo demorou quatro anos, mas os vereadores foram intimados. Ao Jornal Opção, o autor da ação, vereador Fabrício Rosa (PT) afirmou que a Justiça tem tratado com mais seriedade os crimes de intolerância.
Empossado em 2024 como suplente e formalmente eleito no mesmo ano, Rosa é responsável por redigir matérias que dizem respeito à comunidade LGBT, mas afirma que ainda enfrenta resistência dentro da Câmara por meio de pedido de vistas e falas que podem ser consideradas homofóbicas.
“Precisamos mostrar para os cidadãos e cidadãs goianienses, goianos e brasileiros que isso é um crime muito grave e que traz consequências muito perversas para a sociedade. Ser um vereador e ocupar o local de destaque como parlamentar não impediu que eu sofresse ataques homofóbicos dentro e fora da Câmara Municipal”, afirma.
Em resposta à matéria do repórter João Reynol, o vereador Thialu afirmou que o que foi dito na tribuna da Câmara Municipal de Goiânia vai de encontro com o que ele pensa e que ele teria imunidade parlamentar para isto. E ele disse que esse seria, ou foi, o argumento usado na audiência de terça-feira, 29.
O vereador é eleito a cada quatro anos pelo voto direto. Ele exerce papel fundamental na ponte entre a população e o prefeito, ou seja, o vereador leva até à administração municipal as demandas das suas regiões, apresenta as soluções e cobra a resolução de problemas. O vereador também tem função legislativa criando leis no âmbito municipal e também apreciando e votando projetos propostos pela Prefeitura como o orçamento do município e leis que regem o Plano Diretor, por exemplo.
Com tantos problemas em Goiânia, desde a última gestão e as sequelas deixadas na administração da cidade, alguns parlamentares – principalmente os que se intitulam de direta – gostam de discutir assuntos nacionais como a campanha de uma rede de fast food, que tinha como objetivo engajar a comunidade e as pessoas em um movimento de respeito ao movimento LGBTQIA+.
Na onda ignorante da direita e das suas agendas contra todos e só por eles, os parlamentares deixam de lado as suas bases eleitorais e os problemas da cidade. Eles fingem não saber que a pauta do bolsonarismo, da anistia, da guerra em Gaza não está na pauta do goianiense.
Ainda na mesma onda conservadora, o vereador Ronilson Reis (Sdd) apresentou um projeto de lei que institui a “semana municipal de valorização da família tradicional”. O texto ainda justifica que a escolha pela “família tradicional – composta por pai, mãe e filhos – não exclui outras configurações familiares, mas reconhece e valoriza um modelo que estruturou a sociedade brasileira, sendo referência de estabilidade, educação de valores e desenvolvimento humano”. Reis já me disse uma vez que é um político de igreja e concentra suas bases eleitorais nesses locais e também nos templos localizados na sua região. Os comentários em uma publicação de um site de notícias falam que o vereador “não tem o que fazer” e questionam o “nível cognitivo da proposta”.
O morador de Goiânia e da região metropolitana da capital está preocupado com a limpeza urbana, que ainda não conseguiu limpar toda a cidade e peca na coleta em bairros periféricos. A pauta do goianiense está no transporte coletivo, no ônibus que demora, no ônibus velho e superlotado. A preocupação do goianiense está na saúde, após as inúmeras crises da última gestão. Se os parlamentares entenderem pelo menos uma dessas pautas já seria útil.
Em 2022 e 2023, o vereador Thialu Guiotti (Avante) foi o relator da Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investigou irregularidades na Companhia de Urbanização de Goiânia durante a gestão do ex-prefeito Rogério Cruz. A comissão, que foi articulada e presidida por Ronilson Reis, acabou em pizza, porque desde a coleta de assinaturas a investigação foi usada para pressionar o então prefeito por cargos. Thialu indicou o próprio chefe de gabinete para assumir a Secretaria Municipal de Esportes. Ele recebeu a pasta de “portas fechadas”, ou seja, poderia colocar ali todos os seus aliados e na ocasião nomeou até parentes.
Após vários depoimentos, mais de 100 mil páginas de documentos entregues à comissão, o trabalho de Guiotti resultou em um relatório de 12 páginas que não indiciou ninguém. A CEI da Comurg apenas fez algumas recomendações, mas o relatório oficial, mais de um ano depois da pizza servida à população, não foi entregue nem para a Prefeitura e nem para os órgãos de controle, Ministério Público e para o Tribunal de Contas dos Municípios.
Thialu, Senna, Novandir, Rodart e Reis são políticos ruins. Até penso que eles vestem a fantasia de um falso discurso, não porque querem ser, mas porque precisam, pois proferir impropérios e falar que isso condiz com o que se acredita pra vida e para a sociedade é o que vai dar voto ou é o que vai manter os votos que eles tiveram na eleição em que eles foram eleitos. Ou seja, cuidado em que você deposita seu voto.
Quatro parlamentares da Câmara de Goiânia acusados de homofobia são intimados para audiência na Justiça
O post Do armário do ódio para o banco dos réus; parlamentares a serviço da política do desprezo apareceu primeiro em Jornal Opção.