Apesar de 89% dos brasileiros declararem apoio à democracia, somente 38% se dizem satisfeitos ou muito satisfeitos com o funcionamento do regime no país. É o que indica relatório inédito publicado na quinta-feira, 8, pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem), da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O trabalho também alerta para uma queda de 20% na aprovação da democracia brasileira na última década.
Para entender como brasileiros maiores de 18 anos avaliam a democracia, o estudo ouviu 1.504 pessoas nas cinco regiões do país, por meio de entrevistas domiciliares realizadas em fevereiro de 2025. Os participantes responderam perguntas sobre a importância de princípios democráticos, como igualdade perante a lei e eleições livres e justas. A partir das respostas, os pesquisadores dividiram os perfis entre democratas – pessoas que apoiam a democracia – e não democratas – aqueles que não valorizam os princípios básicos desse regime. Entre os democratas, ainda foi possível classificar oito subgrupos, conforme o grau de exigência e os valores que consideram essenciais para o sistema.
A insatisfação com a democracia é mais comum entre os grupos com maior nível educacional e renda, ainda que esses sejam também os que mais defendem o regime. Para esses brasileiros, o ideal democrático vai além de eleições regulares: inclui proteção social, equidade econômica e participação direta. “Temos, portanto, uma democracia deficitária na visão da população brasileira”, explica Ednaldo Ribeiro, um dos autores do estudo. “A forma como a democracia tem sido implementada após a redemocratização é avaliada como insuficiente”, afirma.
Já os 11% que rejeitam o sistema tendem a não associar a democracia a valores fundamentais, como igualdade de direitos e escolha popular. Segundo Ribeiro, esses cidadãos “não entendem que eleições livres e igualdade perante a lei são características importantes desse sistema”. O contraste entre apoiadores exigentes e não apoiadores reforça o diagnóstico de que há falhas estruturais no funcionamento da democracia brasileira — e que elas são percebidas por diferentes segmentos da população.
Para os autores, o risco maior está na possível convergência entre os dois grupos — insatisfeitos exigentes e críticos por desinformação —, o que pode abrir espaço para alternativas autoritárias. “O risco mais grave que corremos é que a insatisfação reiterada com a democracia nos grupos socialmente mais favorecidos possa levar à queda de apoio ao regime e ao questionamento até mesmo de seus elementos mais básicos”, alerta Ribeiro. Ele observa que promessas de soluções rápidas por líderes autoritários podem ganhar apelo diante da frustração com a democracia.
Reverter essa tendência, segundo os autores, exige políticas públicas que respondam às expectativas de quem ainda acredita na democracia, mas cobra mais dela. “Descobrimos que boa parte dos brasileiros entende como muito importante a busca pela igualdade social e a redução da desigualdade de renda”, aponta Ribeiro. “Governos que endereçarem esses problemas de forma competente podem elevar o nível de satisfação com a democracia e, assim, aumentar sua legitimidade perante a opinião pública”, conclui.
Fonte: Agência Bori
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