O governo do Pará nomeou Fernando Heleodoro Brandão para coordenar o Núcleo Regional de Gestão e Regularidade Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), poucos meses antes da realização da COP30 em Belém. A escolha gerou polêmica: Brandão é conhecido por divulgar imagens de caçadas de javalis e por atuar como advogado de cooperativas de garimpeiros em Itaituba, cidade símbolo da exploração mineral na Amazônia.
A portaria de nomeação foi publicada nesta terça-feira, 30, no Diário Oficial do Estado. Em suas redes sociais, o novo coordenador aparece em fotos portando armas e posando ao lado de animais mortos por tiros, durante uma caçada autorizada no Mato Grosso. Apesar da autorização do Ibama, a prática é considerada cruel por entidades de defesa animal, que também questionam sua eficácia no controle populacional dos javalis.
A nomeação ocorre em um momento de alta visibilidade internacional para o Pará, que será sede da maior conferência climática da história da Amazônia. A gestão do governador Helder Barbalho (MDB) tem buscado protagonismo ambiental, enquanto enfrenta críticas pela falta de estrutura para o evento e por apoiar projetos com potencial de impacto ambiental, como o Ferrogrão e a exploração de petróleo na foz do Amazonas.
Brandão terá responsabilidade sobre o licenciamento ambiental e a fiscalização de atividades em municípios estratégicos, como Itaituba, Jacareacanga, Novo Progresso, Rurópolis, Trairão e Aveiro — todos com forte presença de garimpo. A indicação, segundo apuração da Repórter Brasil, partiu do deputado estadual Wescley Tomaz (Avante), aliado de Brandão e defensor da legalização da mineração em terras indígenas.

Além de sua atuação como advogado de garimpeiros, Brandão foi cassado em 2017, quando era vereador em Sinop (MT), por quebra de decoro parlamentar. Ele foi acusado de envolvimento em um esquema de “rachadinha” e extorsão de assessores. Embora a Justiça tenha anulado o processo legislativo, não houve absolvição das acusações.
O histórico do novo coordenador inclui ainda lobby em Brasília durante o governo Bolsonaro, quando participou de articulações políticas para lançar a liberação do garimpo em áreas indígenas. Em áudios enviados a grupos de WhatsApp na época, comemorava a promessa de abertura de sindicâncias contra fiscais do Ibama e orientava garimpeiros a reunirem provas contra ações de fiscalização ambiental.
Brandão também é próximo do empresário Roberto Katsuda, vendedor de retroescavadeiras utilizadas em garimpos na Amazônia. Em 2023, após denúncias de uso ilegal dos equipamentos em territórios indígenas, a Hyundai cancelou o contrato com a revenda de Katsuda.
A Secretaria de Meio Ambiente do Pará foi questionada sobre as atribuições da carga de Brandão e se tinha conhecimento de seu histórico, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. O novo coordenador ambiental também foi procurado, mas não retornou o contato.
Organizações ambientais e representantes de povos indígenas avaliam que a nomeação reforça a contradição entre o discurso ambiental do governo do Pará e suas práticas, em um momento em que o estado se prepara para sediar um dos eventos mais importantes do planeta sobre clima e meio ambiente.
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O post Governo do Pará, sede da COP30, nomeia caçador de javalis e advogado de garimpeiros para cargo ambiental apareceu primeiro em Jornal Opção.