Depois de quatro décadas sem registros reprodutivos na natureza, o martim-pescador-de-Guam (Todiramphus cinnamominus), uma ave nativa da ilha de Guam, deu um passo crucial rumo à recuperação. Três fêmeas da espécie colocaram seus primeiros ovos em liberdade no Atol de Palmyra, território protegido no Pacífico, a cerca de 1.600 quilômetros ao sul do Havaí.
As aves foram soltas em setembro de 2024, em uma operação coordenada por instituições internacionais de conservação. O grupo, formado por nove indivíduos, cinco machos e quatro fêmeas, havia passado décadas em cativeiro, já que a espécie desapareceu de Guam em razão da introdução acidental de uma cobra exótica (Boiga irregularis) na década de 1950. O predador devastou diversas populações de aves locais, tornando o ambiente hostil para o sihek, como a ave é chamada por povos nativos da região.
“Ver os ninhos com ovos foi uma emoção difícil de descrever. Depois de tanto planejamento, finalmente observamos os sinais de que eles estão se adaptando e agindo como fariam em seu habitat original”, afirmou Kayla Baker, especialista da organização The Nature Conservancy.
Desde 1988, os siheks só eram mantidos vivos em zoológicos e centros de pesquisa. A expectativa de devolvê-los à vida selvagem só se concretizou em Palmyra, uma ilha com ecossistema semelhante ao de Guam e livre da ameaça das cobras invasoras. O atol, controlado por organizações ambientais, foi escolhido por oferecer segurança e condições ideais para a espécie.
Caitlin Andrews, da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), destacou a importância do momento: “Essas aves estão não apenas sobrevivendo, mas iniciando uma nova fase. Ver sua força e instintos naturais emergirem é um sinal promissor de que estamos no caminho certo para formar uma população autossustentável”.
Embora o nascimento dos filhotes ainda não esteja garantido os casais são jovens e podem precisar de mais tentativas até desenvolverem plenamente as habilidades de reprodução, o evento é considerado um marco para a espécie. Os cientistas planejam a soltura de novos grupos nos próximos meses para fortalecer a diversidade genética e ampliar a população.
O martim-pescador-de-Guam é uma ave de médio porte, de coloração marcante: tem plumagem marrom-canela na cabeça e tons azulados nas asas e cauda. Alimenta-se exclusivamente de pequenos animais como aranhas, lagartixas, besouros e caranguejos terrestres.
Com o avanço no controle de predadores, a esperança dos conservacionistas é que um dia a espécie possa retornar à ilha de origem. Por enquanto, Palmyra serve como abrigo temporário mas essencial para garantir que essa ave, por tanto tempo considerada perdida, tenha uma nova chance na natureza.
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