Goiás se firma como alternativa à soja americana no comércio com a China

A crescente tensão comercial entre China e Estados Unidos está redefinindo o cenário do agronegócio mundial e Goiás, com sua sólida base produtiva, surge como um dos principais beneficiados desse novo arranjo. Em meio a tarifas, retaliações e rupturas diplomáticas, o estado brasileiro avança no mercado internacional de soja, ocupando o espaço deixado pela retração das exportações norte-americanas.

A disputa teve novo capítulo em 28 de abril, segunda-feira, quando Zhao Chenxin, vice-diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, afirmou que os grãos norte-americanos como soja, milho e sorgo “podem ser facilmente substituídos” por fornecedores de outros países. Segundo ele, mesmo sem as compras dos EUA, o abastecimento de grãos da China não seria comprometido. A fala, repercutida pela Bloomberg, reforça a estratégia chinesa de diversificar seus parceiros comerciais movimento que se intensificou desde a imposição de tarifas mútuas entre as duas potências, iniciada ainda no primeiro mandato do ex-presidente Donald Trump.

A resposta do mercado foi imediata. Informações da emissora estatal chinesa CCTV indicam que em abril, 40 navios carregados com soja brasileira devem chegar ao porto de Zhoushan, transportando cerca de 700 mil toneladas da oleaginosa um crescimento de 32% em relação ao mesmo mês de 2024. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) apontam ainda um aumento de 7% nas exportações brasileiras de soja em grão para a China no primeiro trimestre de 2025, comparado ao mesmo período do ano anterior.

Nesse cenário de oportunidades, Goiás se destaca como um dos estados brasileiros mais preparados para assumir protagonismo. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Leonardo Machado, gerente do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), explicou como o estado tem se posicionado estrategicamente para aproveitar esse novo momento do comércio global.

“A China é o principal comprador de commodities agropecuárias do mundo, com uma população imensa e uma demanda crescente por alimentos. Do outro lado, temos Brasil e Estados Unidos como os maiores exportadores desses produtos. Quando um deles, como os EUA, enfrenta dificuldades comerciais, o outro ganha espaço. No caso da soja, esse ganho é ainda mais evidente. É o que estamos vendo agora: o Brasil se tornou mais competitivo, e Goiás, como grande produtor, está colhendo os frutos disso”, afirmou Leonardo.

Leonardo Machado, gerente do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG)

O gerente do IFAG destaca que a demanda chinesa pela soja brasileira, embora impulsionada pela guerra comercial, tem fundamentos que vão além da conjuntura momentânea. “Acredito que esse movimento deve se manter ao longo da disputa comercial. A China não quer depender exclusivamente de um único fornecedor. Essa diversificação nas compras faz parte de uma estratégia estruturada, e o Brasil está bem posicionado para assumir esse papel”, avaliou.

Leonardo também apontou que Goiás reúne as condições necessárias para atender a esse aumento de demanda. “Nosso estado tem uma produção agrícola robusta, com possibilidade de expansão. Em termos produtivos, estamos preparados. Claro que ainda há desafios especialmente na área de infraestrutura, transporte e armazenamento. Precisamos melhorar esses pontos para tornar nossa soja ainda mais competitiva no mercado internacional.”

Ao ser questionado sobre as ações do Instituto para garantir que os produtores goianos aproveitem ao máximo esse novo cenário, ele enfatizou a importância da informação e do apoio técnico. “O papel do IFAG é justamente fornecer dados, análises e orientações que ajudem o produtor a tomar decisões assertivas. Nosso trabalho é garantir que o produtor goiano esteja sempre atualizado sobre o mercado e consiga se posicionar da melhor forma possível diante dessas mudanças.”

No entanto, o crescimento das exportações para a China traz consigo o alerta para um possível risco de dependência excessiva. Leonardo não ignora essa preocupação. “Apesar da China ser o principal destino, observamos outros países buscando o produto goiano, como nações asiáticas e do Oriente Médio. Essa diversificação é necessária para garantir estabilidade a longo prazo. É importante abrir portas em outros mercados justamente para evitar vulnerabilidades geopolíticas.”

A entrevista concedida por Leonardo ao Jornal Opção evidencia que o agronegócio goiano tem ciência das mudanças globais e está agindo de forma estratégica para transformar um momento de instabilidade internacional em vantagem competitiva. A guerra comercial entre China e EUA, que poderia ser apenas mais um embate diplomático, tem efeitos concretos nas lavouras do Cerrado, nos armazéns, nas rodovias e nos portos brasileiros.

Mais do que um reflexo da conjuntura internacional, o fortalecimento da soja goiana nas exportações para a China sinaliza o amadurecimento de uma cadeia produtiva que une eficiência no campo, capacidade de resposta e visão de futuro. “Estamos diante de um momento decisivo. Cabe a nós transformar essa vantagem temporária em uma política de crescimento sustentável. Goiás tem todas as condições para isso e o produtor goiano está pronto para enfrentar o desafio”, concluiu Leonardo.

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