Eleições 2026: São Paulo, o enigma da oposição

Por Antonio Lavareda*

CNN Brasil

Todos os analistas concordam. Já virou “truísmo”. A eleição presidencial de 2026 será diferente na hipótese da candidatura do governador de São Paulo. Com os olhares voltados para o maior estado do país, à espera de sinais que confirmem ou não as expectativas, alguns levantamentos nesse mês especularam o peso atual de possíveis nomes que poderiam substituí-lo na corrida ao Palácio dos Bandeirantes.

Dado que a essa altura os institutos trabalham com listas diferentes de eventuais postulantes é impossível elaborarmos médias de desempenho, o que nos levou a optar por apresentar no programa os dados reportados apenas pelo Datafolha.

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Caso seja candidato à reeleição, o governador terá um caminho confortável à frente. O percentual de 47% que obtém numa lista longa representaria 56% dos votos válidos, sendo que todos os candidatos de direita marcam no agregado 67% do total, ou 80% dos válidos. A performance de Tarcísio é explicada pelo que sempre lembro: a mais poderosa variável preditora do desempenho dos incumbentes é a aprovação da sua administração. O Datafolha, de parabéns por incorporar agora às suas medições essa medida dicotômica (aprovação x desaprovação), lhe apontou 61% de aprovação, patamar que tornaria imbatível, a preço de hoje, o projeto de reeleição.

Sem Tarcísio na urna, o jogo começará mais embolado, liderado com 29% por Geraldo Alckmin, vice-presidente e ex-governador em quatro ocasiões. Nesse cenário, a distância entre os times da direita e da esquerda (Alckmin reposicionado aqui) se estreita. O primeiro continua ganhando, embora com um patamar menor, 48% do total, mas a esquerda duplica seu desempenho, chegando a 34%.

Quem seria ungido por Tarcísio?

Três nomes aparecem à frente, quando os paulistas são chamados a conjecturar sobre qual deles teria a preferência do governador. Provavelmente por conta da eleição municipal do ano passado. Os dois primeiros, que aparecem com mais destaque, praticamente empatados (Marçal, 23% e Ricardo Nunes, 22%), disputaram voto a voto a vaga da direita ao segundo turno. Isso se reproduz no gráfico acima. O apoio de Tarcísio foi decisivo para a vitória do prefeito, que hoje desfruta de boa aprovação na capital.

Na campanha, estreitaram muito a parceria que mantinham, tornando inverossímil a hipótese do apoio a Marçal. O outro nome que atinge na lista os dois dígitos (10%), que costumam caracterizar candidatos competitivos, também tem a ver com o pleito passado. Não pelo próprio desempenho eleitoral, mas pela força que granjeou com a performance do seu partido. O PSD de Kassab, secretário de Tarcísio, foi o grande vitorioso no conjunto dos municípios paulistas assim como no cômputo do país, e pode cumprir papel importante na equação politica de uma campanha ao Planalto.

Segue o dilema do governador

Tendo optado por uma estratégia diferente dos demais pré-candidatos do seu campo, que percorrem o país sem omitir a pretensão para o ano que vem, Tarcísio depende por completo de Bolsonaro, o qual, embora inelegível, tem se recusado a cogitar sobre um substituto. Porém, o esforço do ex-presidente em manter sob controle absoluto a passagem do bastão pode ter sido fragilizado pela nova cirurgia, que talvez o impeça de voltar às ruas e às articulações presenciais por um bom tempo, ambos ingredientes vitais para o comando que exerce, e que não podem ser substituídos nesse caso pelas redes sociais. Isso confirmado, aos poucos se afrouxarão as rédeas com que controla o processo.

Avançam os movimentos do tabuleiro do xadrez do próximo ano, embora sem jogadas decisivas. Ratinho, Caiado e Zema mostram nas pesquisas inequívocos sinais de que seriam competitivos. Tarcísio, presume-se, está atento ainda à sorte de Lula, o que equivale dizer, às suas próprias chances em um voo mais alto. De um lado, a história da Nova República mostra que, em um país continental heterogêneo como o nosso, nunca governadores paulistas tiveram êxito na empreitada nacional. Maluf, Quércia, Alckmin, Serra. Nomes aos quais pode ser acrescido Doria, escolhido em prévias mas impedido de concorrer.

Como lembrou Iuri Pitta na nossa conversa, foi Jânio Quadros, o último paulista a se tornar presidente, 65 anos atrás. Porém, de outro lado não se deve esquecer que Tarcísio se fez governador quebrando paradigmas. Nenhum candidato antes dele ostentava no currículo um vazio no quesito experiência político-eleitoral. Teve sucesso na primeira eleição que disputou.

Lula continuará a recuperação?

Peça central na eleição do ano que vem, a aprovação do presidente oscilou um ponto positivamente no Índice CNN, elaborado pelo IPESPE Analítica, ocorrendo o mesmo com a desaprovação. No artigo do mês anterior, com base na evolução dos saldos, eu usei a expressão “parou de piorar”. À medida que o clima eleitoral tomar conta do país irá ficando mais difícil observarmos mudanças vigorosas nesse quadro. Na perspectiva de uma recuperação, 2025 poderá caminhar na direção do que foi 2024, mas será quase impossível a volta dos melhores percentuais de 2023.

Aliás, naquele ano tivemos, por vários motivos que analisarei oportunamente, a mais duradoura “lua de mel” em tempos recentes de um presidente com a opinião pública, desmentindo cabalmente a ideia de que vivemos uma insuperável “polarização calcificada”. A propósito, as pesquisas sobre o novo mandato de Trump também contradizem a tese da suposta ”calcificação” até no país em que foi originalmente concebida. As mudanças impressionam. Segundo o Pew Research, a aprovação do presidente americano desde fins de janeiro recuou sete pontos, para 40%, e a desaprovação subiu 12 pontos, chegando a 59%. Um saldo negativo de 19 pontos.

Vê-se no gráfico acima que o resultado negativo de abril melhorou dois pontos face ao mês anterior. Tendo contribuído nessa direção o conjunto de notícias positivas que o governo produziu ou capitalizou e também – muito importante – a diminuição do volume de notícias negativas. A inflação parece arrefecer, e a proximidade de Lula com os chefes do Congresso afasta os parlamentares, no momento, da pauta da anistia. Mas há que se prestar atenção no risco de voltar a onda de noticiário predominantemente negativo sobre o governo.

O asilo à ex-primeira dama do Peru levou a mídia e as redes da oposição à retomarem o tema da corrupção, relembrando a Odebrecht. Da mesma forma, na sequência, a citação ao nome do irmão do presidente no bojo das apurações – pela CGU e PF – de esquemas de desvio de dinheiro dos aposentados serve para reforçar as suspeitas de favorecimento e corrupção. E a prisão do ex-presidente Collor, por condenação ligada à Lava Jato, resgata com força no debate público a operação que teve um papel negativo marcante na história do presidente e de seu partido.

Mudanças na batalha das redes: Tarcísio assume a liderança, Ratinho vem em segundo

O Índice Datrix dos Presidenciáveis (IDP) de abril apresenta variações importantes:

  • Tarcísio de Freitas apresenta forte recuperação no IDP, saltando de 5,61 em março para 15,83 em abril. O crescimento reflete um aumento expressivo de visibilidade e uma redução significativa no volume de conteúdo negativo em mar aberto — as menções de stakeholders, como imprensa, políticos e influenciadores digitais. Apesar das críticas à atuação da PM e à remoção de famílias da Favela do Moinho, esses temas tiveram menor repercussão do que os conteúdos positivos. Em abril, foi o terceiro presidenciável com melhor desempenho em redes próprias, o que reforça sua capacidade de reação frente às críticas.
  • Ratinho Júnior mantém um patamar semelhante ao de março. O governador do Paraná segue como um dos presidenciáveis mais estáveis no IDP (14,93 em abril, 15,81 em março), embora registre um volume reduzido de menções em mar aberto.
  • Ciro Gomes sobe no IDP de abril, chegando a 9,59 pontos, impulsionado pela melhora no mar aberto (de -15,04 em março para 0,21 em abril). O número de menções negativas nas redes caiu 35,6%. O principal destaque positivo foi a pesquisa Datafolha, que o aponta como nome competitivo em um cenário presidencial sem Lula e Bolsonaro.
  • Michelle Bolsonaro ampliou sua presença nas redes em abril, com foco nos temas da anistia e da saúde de Jair Bolsonaro. Suas postagens alcançaram alto engajamento, somando 1,7 milhão de interações. Ela segue como a presidenciável com maior capacidade de engajamento com sua base.
  • Caiado caiu de 13,47 para 3,64 (-9,83): o baixo apoio de lideranças de seu partido tem limitado o impacto positivo de sua candidatura.
  • Lula caiu de 9,96 para 5,90 (-4,06). A demissão do Ministro das Comunicações e o asilo concedido à ex-primeira-dama do Peru reacenderam o debate sobre corrupção. As denúncias de fraude no INSS, iniciadas em 23 de abril, ainda têm impacto limitado (queda de 3% em 24h). Em abril, houve interrupção na recuperação de sua imagem em mar aberto (-17,3 em abril), puxada principalmente pela queda de 74% no engajamento de seus perfis em comparação a março.
  • Romeu Zema reduziu significativamente o volume de menções negativas em mar aberto, passando de -26,45 em março para -8,46 em abril. A melhora foi impulsionada por sua participação nos atos pela anistia e por ser citado como uma alternativa à direita na ausência de Bolsonaro. Apesar da queda de 17,5% nas interações em suas redes próprias, mantém um bom nível de engajamento proporcional à sua base de seguidores.

A Datrix lembra que a performance digital dos potenciais candidatos é medida de forma original nesse Índice com notas que vão de -100 a + 100, combinando três grandes dimensões: engajamento nas redes próprias dos presidenciáveis, comentários em páginas da mídia , de influenciadores e de outros políticos, e a tonalidade das postagens numa escala de muito positiva a muito negativa. Milhões de dados das mais importantes plataformas (X, Facebook, Instagram, Threads, Bluesky, YouTube, entre outras) são extraídos e analisados por Inteligência Artificial.

Falta um ano e cinco meses para a eleição de 2026.

*Cientista político e sociólogo. Presidente do Conselho Científico do IPESPE. Presidente de Honra da ABRAPEL (Associação Brasileira dos Pesquisadores Eleitorais). Professor da UFPE.

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