O bom jornalismo é aquele que não deixa de publicar notícias por razões comerciais, políticas ou religiosas. Há pouco, Jeff Bezos proibiu diversidade de ideias na página de opinião do “Washington Post”. O jornal americano agora só abre espaço para a defesa do mercado. Com a ressalva de que o “Post”, no noticiário, continua aberto a toda sorte de reportagem, inclusive às críticas ao governo do presidente Donald Trump.
Na segunda-feira, 21, morreu o papa Francisco, o chefe supremo da Igreja Católica. Todas as emissoras de televisão do Brasil deram a notícia de maneira ampla e passaram o dia divulgando reportagem sobre o religioso e seu pontificado. Era e é o certo a fazer. Não dá para ignorar a morte de um papa.
Cometendo um grave erro jornalístico, a Record divulgou brevemente a notícia da morte e, em seguida, esqueceu o papa argentino.
A importância do papa é evidente e, acrescente-se, a notícia de sua morte aumentou a audiência das emissoras. Então, por que a Record ignorou a notícia mais importante da segunda-feira?
A redação da Record conta com jornalistas do maior gabarito e, por certo, ficaram chateados com a orientação editorial, ou melhor, empresarial.
A revista “Veja” apurou, registra o repórter Valmir Moratelli, que a ordem para “ignorar” a morte do papa e seu legado “veio da direção geral, ou seja, do bispo Edir Macedo. Era para ser feita apenas uma breve menção durante uma entrada ao vivo do ‘JR 24h’, sem cobertura com contínua sobre o assunto. Ao longo do dia, a emissora deu ênfase a programas de entretenimento e noticiários locais”.
Noutras palavras, na segunda-feira, a Record deixou de fazer jornalismo por motivos religiosos. A emissora é gerida por Edir Macedo, que é dono da Igreja Universal do Reino de Deus. Porém, como se sabe, emissoras de televisão são concessões públicas. O bispo não deveria perder isto de vista.
O bispo Edir Macedo até agora não se manifestou.
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