Após aprovação, Ministério da Saúde pede inclusão da vacina da chikungunya no SUS

Luiz Felipe Fernandes/SciDev.Net

Após a aprovação do registro definitivo da vacina da chikungunya pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no dia 14 de abril, o Ministério da Saúde vai solicitar a incorporação do imunizante ao Sistema Único de Saúde (SUS), o que poderá garantir o acesso gratuito da população com mais de 18 anos.

A vacina é fruto de uma colaboração entre o Instituto Butantan e a empresa farmacêutica franco-austríaca Valneva. “A expectativa é que, uma vez aprovada e com capacidade produtiva, a vacina seja incorporada ao calendário nacional de vacinação, fortalecendo as ações de combate à doença no Brasil”, diz a nota enviada ao SciDev.Net.

Uma versão da vacina produzida totalmente no Brasil também está sendo avaliada pela Anvisa. O diretor de Assuntos Regulatórios, Controle de Qualidade e Estudos Clínicos da Fundação Butantan, Gustavo Mendes, explicou que, para a aprovação, é necessário fabricar três lotes que cumpram os requisitos de qualidade exigidos pela agência.

A tecnologia utilizada é a do vírus atenuado, ou seja, uma versão modificada do vírus da chikungunya que mantém as características para ser reconhecido pelo sistema imunológico do organismo, mas sem a capacidade de causar a doença.

Para a aprovação, foram apresentados os resultados de um estudo feito nos Estados Unidos com 4 mil voluntários de 18 a 65 anos e publicado na revista científica The Lancet.

O ensaio clínico mostrou que 98,9% dos participantes produziram anticorpos neutralizantes – que impedem a entrada dos vírus nas células –, mantendo bons níveis durante seis meses.

A chikungunya é uma arbovirose, nome dado a doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes, como mosquitos e carrapatos. Ela é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue e da Zika.

Um dos efeitos característicos da doença são as dores intensas nas articulações, que podem se tornar crônicas.

Em 2024, foram registrados 620 mil casos de chikungunya em todo o mundo, com 213 mortes. O Brasil é considerado o epicentro da doença nas Américas. Paraguai, Argentina e Bolívia também estão entre os países com mais casos da doença.

Desempenho no mundo real

Geralmente, para ser aprovado, é preciso apresentar dados de eficácia de um imunizante, comparando o número de casos da doença entre um grupo vacinado e um grupo que recebeu placebo.

No entanto, a vacina da chikungunya é a primeira no mundo a ser aprovada com base na imugenicidade, ou seja, na capacidade de produção de anticorpos neutralizantes.

Segundo Mendes, a aprovação pela imugenicidade foi necessária pela incidência localizada da chikungunya, que ocorre sem um padrão específico.

“O que foi acertado como um compromisso entre o Butantan, a Valneva e as agências reguladoras, tanto dos Estados Unidos quanto do Brasil, é que vamos coletar os dados do desempenho dessa vacina no mundo real, ou seja, com a vacinação em pessoas, para observar essa tendência que já está projetada com os anticorpos neutralizantes”, detalhou.

O professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Genética Molecular da Universidade de Kentucky (EUA) William de Souza acrescenta que a chikungunya causa surtos e epidemias explosivos. Geralmente o vírus infecta uma população muito grande em perímetros pequenos, “como se fossem bolsões de epidemias”, disse o pesquisador. Por isso é difícil prever as ocorrências da doença e realizar os testes de eficácia.

Souza lembra que outra vacina contra a chikungunya, desenvolvida pela empresa dinamarquesa Bavarian Nordic, já foi aprovada na Europa e nos Estados Unidos. A vantagem, segundo o especialista, é que esse imunizante é do tipo partícula pesudoviral (VLP, na sigla em inglês para Virus-Like Particle), ou seja, não contém material genético do vírus. Com isso, ela é mais segura, podendo ser aplicada inclusive em adolescentes com mais de 12 anos.

O professor lembra, entretanto, que a vacina é apenas uma das estratégias para combater a doença. Segundo ele, o governo brasileiro terá agora o desafio de traçar um plano de produção e distribuição do imunizante, levando em consideração a característica episódica da doença.

Expansão global dos arborvírus

Por outro lado, um estudo publicado este mês na revista Nature Communications revelou uma sobreposição significativa na distribuição global de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue, chikungunya, Zika e febre amarela.

Os pesquisadores analisaram 21 mil pontos de ocorrência e desenvolveram novos mapas globais com áreas com condições consideradas adequadas para a transmissão dessas arboviroses. De acordo com o estudo, estima-se que 5,66 bilhões de pessoas vivem em áreas adequadas para a transmissão de dengue, chikungunya e Zika, e 1,54 bilhão em áreas adequadas para a febre amarela.

O estudo levou em consideração vieses de vigilância que podem distorcer os mapas de risco existentes. Segundo os pesquisadores, áreas de maior renda tendem a ter maior capacidade de detectar, diagnosticar e reportar doenças virais, o que pode ter levado a uma superestimação do risco em regiões como os Estados Unidos e a Europa.

“Nossos mapas mostram que a recente disseminação de chikungunya e Zika ocorreu totalmente dentro de áreas já adequadas para dengue. Isso indica que qualquer área com dengue está em risco de, ou pode já ter experimentado, transmissão dos vírus Zika ou chikungunya”, afirmam os autores do artigo.

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