Um servidor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) declarou à Polícia Federal (PF) que o atual diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa, defendeu uma “intervenção” na corregedoria durante as investigações sobre a existência de uma estrutura paralela de espionagem supostamente ativa durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o depoimento prestado em 26 de janeiro de 2024, um dia após operação da PF com mandados de busca e apreensão na sede da Abin, Corrêa demonstrou insatisfação com a colaboração da corregedoria com a Polícia Federal.
De acordo com o agente, ele e outro servidor estavam “ajudando” a PF quando Corrêa teria manifestado a intenção de intervir no setor. A Abin foi procurada para comentar o caso, mas não se pronunciou até o momento.
Corrêa e o delegado federal Alessandro Moretti, ex-diretor adjunto da Abin, foram intimados a depor no inquérito. A PF investiga a possibilidade de obstrução de justiça por parte de integrantes da atual gestão da agência.
Durante a reunião mencionada no depoimento, ocorrida no dia anterior à operação, Corrêa teria usado um “tom agressivo” ao criticar a atuação da corregedoria. O servidor afirmou que, apesar das críticas, a corregedoria estava prestando apoio à diligência em curso.
A reunião também teria discutido a elaboração de uma nota pública da Abin sobre a operação. Segundo o depoente, houve consenso de que o posicionamento da agência seria no sentido de demonstrar interesse na apuração dos fatos. De fato, em 25 de janeiro, a Abin divulgou comunicado afirmando ser “a principal interessada na investigação”.
O servidor ainda relatou que Corrêa já havia demonstrado incômodo com o fato de não ter acesso a determinados dados da corregedoria, sem saber exatamente quais informações eram essas. Ele também mencionou reclamações do diretor-geral sobre requisições da Controladoria-Geral da União (CGU) envolvendo informações da agência.
Em janeiro de 2024, a jornalista Bela Megale revelou que membros da atual direção da Abin dificultaram o acesso da PF a dados considerados cruciais, especialmente informações do Centro de Inteligência Nacional.
Na decisão que autorizou a operação, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), destacou que a direção atual da Abin teria tomado atitudes que atrapalharam o andamento das investigações, sem que fosse possível compreender o real objetivo dessas ações.
A PF indicou que a gestão da agência adotou medidas como a tentativa de “construir uma estratégia em conjunto” com os investigados, além de falas que demonstrariam apoio de instâncias superiores à conduta dos envolvidos.
A repercussão das investigações resultou na exoneração de Alessandro Moretti, o então número 2 da Abin, ainda em janeiro de 2024.
Em outro trecho da apuração, a PF aponta que, durante reunião com investigados em março de 2023, Moretti teria afirmado que a investigação teria “fundo político” e que acabaria passando — fala dita na presença de Luiz Fernando Corrêa, antes de sua nomeação ao cargo de diretor-geral.
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