
A China anunciou, nesta sexta-feira (11), o aumento das tarifas adicionais sobre produtos importados dos Estados Unidos para até 125%, em resposta direta à decisão do governo Trump de elevar as chamadas “tarifas recíprocas” ao mesmo patamar. A medida foi confirmada pela Comissão de Tarifas Aduaneiras do Conselho de Estado e passa a vigorar a partir deste sábado (12).
Segundo o órgão, as tarifas excessivas dos EUA “violam gravemente as regras econômicas e comerciais internacionais” e representam um ato unilateral de “intimidação e coerção”.
Ao justificar a decisão, a comissão afirmou que, no nível atual das tarifas, “já é impossível para o mercado chinês aceitar importações dos EUA”. A nota oficial ainda classificou a política tarifária de Washington como “sem sentido econômico” e alertou que novas elevações seriam apenas “uma piada na história econômica mundial”.
Pequim também reiterou que, diante de ataques mais profundos aos seus interesses, adotará “medidas firmes e lutará até o fim”.
As tarifas não são o único instrumento de resposta adotado pelo governo chinês. A lista de empresas norte-americanas incluídas na chamada “lista de entidades não confiáveis” foi ampliada, dificultando suas operações no mercado chinês. Paralelamente, o país mobilizou instrumentos de apoio ao mercado interno, como a recompra de ações por empresas estatais e a atuação coordenada de bancos públicos para conter a volatilidade financeira.
Xi Jinping intensifica diplomacia e fortalece alianças regionais
O presidente Xi Jinping tem combinado a retaliação comercial com um movimento coordenado de reposicionamento internacional. Em encontro realizado nesta sexta-feira com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, Xi afirmou que “não há vencedores em uma guerra tarifária” e criticou diretamente os Estados Unidos por seus atos unilaterais.
“Ir contra o mundo só resultará em isolamento”, declarou. O líder chinês também reafirmou que a China seguirá “focada em administrar bem seus próprios assuntos”, destacando que o país nunca se desenvolveu à base de favores externos, “muito menos com medo de supressões injustificadas”.
A reunião com Sánchez reforça a estratégia de Pequim de cultivar alianças com potências médias em meio à turbulência comercial. Xi também anunciou uma série de visitas de Estado para os próximos dias: o presidente chinês viajará entre os dias 14 e 18 de abril para o Vietnã, Malásia e Camboja, aprofundando laços com vizinhos estratégicos do Sudeste Asiático, muitos deles duramente atingidos pelas tarifas dos EUA.
Ao lado da retórica crítica ao isolacionismo norte-americano, Xi tem reforçado o compromisso com o multilateralismo e com a defesa das regras internacionais de comércio. Em sua fala a Sánchez, destacou que a China e a União Europeia, juntas, representam mais de um terço do PIB global, e pediu união para resistir ao “bullying unilateral”. Sánchez, por sua vez, declarou apoio a uma “ordem comercial aberta e baseada em regras”, alinhando-se às críticas europeias contra os EUA.
Nacionalismo popular e resistência cultural ganham força nas ruas e redes chinesas
Enquanto o governo intensifica sua ofensiva diplomática e econômica, a população chinesa também tem reagido de maneira ruidosa à guerra tarifária imposta por Washington. Reportagens do South China Morning Post mostram uma onda de manifestações nacionalistas entre comerciantes e consumidores. Restaurantes, bares e lojas em cidades como Wuhan e Shanghai passaram a cobrar sobretaxas de até 104% de clientes americanos ou anunciaram boicotes a produtos dos EUA, em resposta simbólica às tarifas impostas por Trump.
Vídeos circulando nas redes sociais mostram empresários se recusando a enviar pedidos para os Estados Unidos, destruindo iPhones e removendo eletrônicos norte-americanos de vitrines. Uma loja de churrasco em Wuhan afixou uma placa informando: “Cobraremos taxa adicional de 104% de clientes americanos. Dúvidas? Consulte a embaixada dos EUA.”
A comoção popular vem sendo alimentada por discursos e símbolos históricos. Clipes do líder Mao Zedong durante a guerra da Coreia voltaram a circular, com frases como: “Não importa quanto tempo dure a guerra. Nunca cederemos. Lutar até a vitória total.” Uma música patriótica adaptada para criticar os EUA — “Anti-US Tax Increase” — viralizou no Douyin, versão chinesa do TikTok, com versos que acusam Washington de “egoísmo” e “hegemonia aberta contra o mundo”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, publicou a mensagem: “Somos chineses. Não tememos provocações. Não recuamos.” A fala ecoa o sentimento de unidade nacional e confiança no enfrentamento de uma potência que, segundo Pequim, tenta impedir o crescimento da China a qualquer custo.
Em meio à tempestade comercial, China projeta força e estabilidade
A retaliação tarifária, a mobilização diplomática de alto nível e a reação coordenada da sociedade chinesa não apontam para uma postura defensiva. Pelo contrário, revelam uma estratégia clara de reposicionamento. A China tem utilizado a escalada tarifária como oportunidade para reafirmar seu papel como defensora da ordem multilateral, contrapondo-se ao isolacionismo de Washington.
A imagem de Xi ao lado de líderes europeus e asiáticos, enquanto o discurso oficial evoca a força histórica do povo chinês diante de invasores estrangeiros, sugere que Pequim está moldando a crise como mais um episódio de sua longa trajetória de resistência e afirmação soberana. A guerra tarifária, longe de enfraquecer a China, pode estar acelerando seu movimento para ocupar o espaço deixado por uma potência que prefere, cada vez mais, jogar sozinha.
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