Tarifaço global dos EUA pode causar crise pior que a de 2008, alerta economista

A recente escalada protecionista do presidente Donald Trump voltou a acender o alerta no mercado financeiro internacional. Com anúncios de novas tarifas sobre importações, Trump tem sinalizado o retorno de uma política comercial agressiva que, segundo a economista Greice Guerra, pode levar o mundo a uma nova recessão global.

Ao Jornal Opção, ela comentou sobre os efeitos. “O Brasil pode se beneficiar, mas não está imune. O que Trump está fazendo pode gerar uma crise até maior que a do subprime, em 2008”, disse, referindo-se à crise hipotecária que abalou o sistema financeiro global.

Quando Guerra faz uma análise de benefício para o Brasil, a economista enxerga uma possível janela de oportunidade para o Brasil no curto prazo. “Nós aqui na Bovespa, a B3, estamos tendo injeção de capital. Como o Brasil foi menos taxado, o investidor está vindo para cá, principalmente porque os juros aqui estão mais altos e os ativos são considerados seguros”, pontuou.

Por outro lado, Guerra considera que os impactos das medidas são amplos, atingindo desde as bolsas americanas até a inflação em países emergentes como o Brasil. “Com o anúncio dessas tarifas e a implementação delas, o que ele está fazendo é destruir relações comerciais dos Estados Unidos com o mundo, relações que demoraram décadas para serem solidificadas”, criticou Guerra.

Informações dão conta de que Trump tem realizado esta estratégia por conta da dívida americana, que estaria no limite. Nesse sentido, o presidente recuaria de tais decisões para que o Banco Mundial assumisse o débito ou parte dele.

Segundo ela, o tarifário de Trump atinge diretamente China, Europa, Índia, Vietnã, Coreia do Sul e Taiwan, além de comprometer a estabilidade econômica global. “Ele está colocando o mundo sob a ameaça de uma recessão econômica global.”

As políticas protecionistas, na avaliação da economista, vão na contramão da tradição americana de valorização da liberdade econômica. “Trump quer isolar os Estados Unidos com essas medidas, e isso hoje em dia não se aplica. Nenhum país é uma ilha em uma economia globalizada. Vai ocorrer elevação de preços no mercado americano, aumento dos juros e isso vai impactar a economia global”, explicou.

Greice também destacou o comportamento errático de Trump nas negociações comerciais. “Ele ameaça, depois volta atrás. Hoje mesmo ele já falou em uma trégua de 90 dias nas tarifas. Parece um jogador. Mas seja blefe ou não, ele está causando severos danos aos Estados Unidos”, avaliou.

Os reflexos já são sentidos no mercado. “Tem trilhões de dólares saindo dos Estados Unidos desde a última semana. Ações de gigantes como Tesla, Nike e Apple já despencaram”, comentou. “O investidor vai embora do país e busca mercados mais seguros.”

Guerra alertou ainda para os efeitos internos das medidas. “Ele quer fazer a América crescer novamente, mas torçamos para que ele não faça a América quebrar. Fechar um país hoje em dia enfraquece a economia, causa insegurança e falta de credibilidade. Ele pode sufocar a economia americana.”

Ao comentar as pressões de Trump sobre o Federal Reserve para cortar juros, a economista foi categórica: “Não adianta ele ir no presidente do Banco Central e pedir corte de juros, porque não há como cortar diante dessa volatilidade.”

Por fim, ela afirmou: “Trump vai totalmente contra os princípios da liberdade econômica. Ele pode jogar o planeta numa recessão global muito grande. Para nós, os impactos serão inflação e aumento da taxa de juros.”

(Greice Guerra | Foto: Jakson Rodrigues)

Economista que previu crise em 2008 fala em blefe de Trump

O economista Nouriel Roubini, conhecido mundialmente por antecipar a crise financeira global de 2008, afirmou Trump deverá recuar, pelo menos parcialmente, nas tarifas anunciadas recentemente. A declaração foi feita durante um encontro de economistas e líderes empresariais em Cernobbio, na Itália, às margens do Lago Como, na sexta-feira, 4.

Segundo Roubini, o “cenário base” é que Trump reduzirá pela metade as tarifas impostas, o que manteria o crescimento da economia dos EUA entre 1% e 1,5% neste ano. Nesse contexto, o Federal Reserve provavelmente manteria as taxas de juros estáveis.

“Se ele for racional, reduzirá as tensões”, afirmou Roubini, que já atuou como economista na Casa Branca durante o governo Bill Clinton. “Trump afirma que só recuará se receber uma oferta ‘fenomenal’, mas precisa adotar esse discurso para não demonstrar fraqueza nas negociações”, completou.

Apesar do otimismo de Roubini, outros especialistas expressaram cautela. Mohammed El-Erian, ex-investidor e atual presidente do Queens’ College, em Cambridge, ressaltou que a redução das tensões comerciais depende de cooperação mútua e, principalmente, de confiança:

“Os países relutam em negociar se acreditarem que tudo será revisto em várias rodadas. No momento, essa confiança não existe.” Trump, por sua vez, não demonstrou sinais de recuo. Em postagem na rede Truth Social, o presidente afirmou:

“Para os muitos investidores que estão vindo para os Estados Unidos e investindo quantias massivas de dinheiro, minhas políticas nunca mudarão.” Apesar da recente turbulência nos mercados acionários, Roubini destacou que Trump não está mais tão preocupado com o desempenho da bolsa como no passado.

Segundo o economista, o presidente americano agora foca mais no mercado de títulos e no dólar. “A maioria das ações está nas mãos de apenas 10% da população. Já os rendimentos dos títulos afetam diretamente a base eleitoral de Trump, que possui hipotecas, empréstimos estudantis, financiamentos e cartões de crédito”, explicou.

Roubini acredita que o alto custo político de manter o atual plano tarifário forçará Trump a mudar de estratégia: “Se ele exagerar nas tarifas, haverá recessão em 2025. Se isso ocorrer, ele perde as eleições de meio de mandato, e seu plano MAGA será comprometido. Se tiver um mínimo de inteligência, saberá que precisa aliviar as tensões.”

Apesar das incertezas no curto prazo, Roubini tem uma perspectiva positiva para o médio e longo prazo. Ele acredita que os avanços tecnológicos, especialmente na área de inteligência artificial, impulsionarão a produtividade e o crescimento econômico dos Estados Unidos.

“Mesmo que Mickey Mouse estivesse na presidência, os EUA cresceriam 4% até o fim da década”, afirmou. “Podemos sair de um crescimento de 2% para até 6% até 2040. A inovação tecnológica será o fator dominante, independentemente de quem estiver no poder.”

(Nouriel Roubini | Foto: Greg Beadle/World Economic Forum)

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