Entrelinhas Vermelhas debate a resistência do Carnaval e brasileiros no Oscar

Na edição desta quinta-feira (27) do podcast Entrelinhas Vermelhas, Guiomar Prates e André Cintra discutem dois eventos marcantes dos próximos dias: o Carnaval e o Oscar. O programa aborda o Carnaval como espaço de resistência e os desafios do cinema brasileiro, representado na premiação internacional pelo filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.

Assista a íntegra das entrevistas:

Carnaval: resistência e disputa pelo espaço público

Os pesquisadores Guilherme Varela (UFBA) e Gilvan Paiva (UFC) destacam que o Carnaval vai além da festa, funcionando como um termômetro dos conflitos sociais. Para Varela, ele expõe desigualdades por meio de sátiras e fantasias, enquanto Paiva vê a folia como “desbravadora de costumes”.

A história do Carnaval é marcada por tentativas de controle. Para Paiva, “o poder teme a rua sem vigilância”, e Varela aponta a “domesticação” da festa, com blocos transformados em escolas de samba e o avanço de circuitos privatizados e camarotes. “Quando força policial e capital se unem, temos a combinação perfeita para ameaçar a essência do Carnaval”, alerta Varela.

Embora o evento movimente R$ 12 bilhões em 2025, a apropriação corporativa ameaça sua identidade. Em Salvador, 40% dos circuitos são privatizados via abadás, e a festa se torna um negócio lucrativo para grandes marcas, enquanto artesãos e ambulantes enfrentam condições precárias.

O Carnaval também é alvo de criminalização e judicialização. Projetos de lei tentam restringir blocos em cidades como Florianópolis e Curitiba, enquanto disputas judiciais alegam “poluição sonora”. Varela destaca: “O Carnaval é um direito de protesto e um exercício de democracia”.

Cinema brasileiro no Oscar: impacto e desafios

O filme Ainda Estou Aqui levou quatro milhões de brasileiros aos cinemas e concorre ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz (Fernanda Torres). Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, retrata o desaparecimento do deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar. No podcast, o cineasta Caio Plessman analisa o impacto da obra e os desafios do setor audiovisual brasileiro.

Para Plessman, o sucesso do longa reflete o momento político do país e a necessidade de revisitar crimes da ditadura. O STF, por exemplo, reabriu o caso Rubens Paiva como “crime contra a humanidade” após o lançamento do filme.

A presença de Ainda Estou Aqui na principal categoria do Oscar representa um avanço para o cinema do Sul Global. No entanto, a indústria nacional ainda enfrenta desafios, como a baixa ocupação de mercado (14% das bilheteiras, ante 40% na era da Embrafilme), a ausência de salas de cinema em 90% dos municípios e a concorrência desigual com plataformas de streaming.

Plessman defende políticas públicas para fortalecer o setor, como um cine teatro por cidade e ingressos acessíveis. Para ele, Ainda Estou Aqui já deixou seu legado, revitalizando o debate sobre memória e democracia, ampliando o diálogo global sobre ditaduras e fomentando novos investimentos no cinema brasileiro. “O mundo precisa do nosso cinema. Esse filme não é só sobre o Brasil, mas sobre a luta universal entre democracia e autoritarismo”.

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