Grávida e torturada até a morte em 1973, Soledad Barret ganha estátua no Recife

Por Letícia Lins
Do Oxe Recife

A trágica história de Soledad Barret já virou livro, espetáculo de teatro. Agora está registrada no pedestal de sua estátua, que foi inaugurada nessa sexta-feira (14), na Rua da Aurora, pertinho do Monumento Monumento Tortura Nunca Mais, no bairro de Santo Amaro. Durante a ditadura militar , ela se juntou à Vanguarda Popular Revolucionária, integrando um grupo de jovens sonhadores que pretendiam derrubar a ditadura com a luta armada. Em 1973, ela foi torturada e morta na chamada “Chacina da Chácara de São Bento”.

Pelo menos, foi assim que passou a chamar-se o massacre comandado por forças da repressão. Ela fora denunciada por seu noivo, que era ninguém menos que o famigerado Cabo Anselmo, uma das figuras mais controversas dos anos de chumbo. Ele infiltrou-se disfarçado no grupo, como se militante fosse, denunciou o grupo às forças de segurança e participou das torturas que a levaram à morte. Estava grávida e o filho que esperava do suposto “noivo” morreu com ela, em um dos mais dramáticos casos de tortura registrados em Pernambuco durante os anos de exceção.

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Para os que não sabem: Soledad Barrett Viedma foi uma militante paraguaia, nascida em 1945. Sua trajetória foi marcada pela resistência às ditaduras da América Latina. Filha de uma família politicamente engajada, desde jovem enfrentou perseguições e exílios, vivendo em países como Argentina, Uruguai, Cuba e Brasil. Em sua adolescência, foi sequestrada e marcada por neonazistas no Uruguai, o que reforçou sua militância.

Em Cuba, casou-se com o brasileiro José Maria Ferreira, também militante, e tiveram uma filha, Ñasaindy Barrett. Após a morte de José Maria pela ditadura brasileira, Soledad se juntou à VPR e se mudou para Pernambuco. Em janeiro de 1973, aos 28 anos e grávida, foi presa, torturada e assassinada na chamada “Chacina da Chácara São Bento”, tendo sua morte encoberta pelo regime militar com uma versão falsa de tiroteio entre “terroristas” e forças de segurança.

A cerimônia de inauguração da estátua contou com a presença dos membros da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. A obra do artista plástico José Roberto da Silva foi feita em material concreto polido e patinado e custou quase R$ 29 mil. “A inauguração do busto de Soledad Barrett Viedma promove uma reflexão sobre o quanto a gente precisa incentivar as pessoas a conhecerem, especialmente as novas gerações, um passado não tão distante e um passado que não deve se repetir”, afirmou o secretário de Direitos Humanos e Juventude, Marco Aurélio Filho.

“Esse busto é muito mais do que uma homenagem a uma desaparecida política. Na verdade, é um compromisso da gestão no fortalecimento dessa política pública da memória e da verdade. É importante as novas gerações conhecerem a verdadeira história desse país, para que a gente possa fortalecer a democracia”, acrescentou o gestor.

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