Fernando Lyra – Doze anos da morte do José Bonifácio da redemocratização

Por José Nivaldo Junior*

No processo de separação do Brasil, desligando-se da condição de Reino Unido a Portugal e Algarves para seguir o seu próprio caminho, um político teve um papel essencial. José Bonifácio de Andrade e Silva, chamado equivocadamente de patriarca da Independência, porém, sem dúvida, artífice de um verdadeiro milagre político: um país continental unido, enquanto a América espanhola se fragmentava em repúblicas e republiquetas. Houve sangue. Aconteceram punições. Pernambuco foi a maior vítima do período absolutista de Pedro I. Mas, para o bem ou para o mal, o Brasil permaneceu continental e unido. A forceps, mas unido.

Depois de 20 anos, a ditadura militar, implantada em 1964, agonizava sem rumo. As oposições de todas as vertentes, somadas, não tinham força para decretar o golpe de misericórdia do regime. Que agonizava, mas ainda resistia. Diretas Já, um movimento cívico impressionante, fracassou. Impasse. Foi aí que Fernando Lyra entrou em cena.

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A ditadura, para tentar aparentar legalidade para o mundo, criou um negócio chamado Colégio Eleitoral, um curral manipulado que elegia o general presidente da vez. Fernando Lyra intuiu: vamos disputar e ganhar no próprio Colégio da ditadura agonizante. Ele, Fernando, escolheu, procurou, motivou, convenceu o homem capaz de conquistar a confiança de gregos e troianos. Tancredo Neves, governador de Minas e com um raro histórico de competência e moderação, disputou e ganhou. A ditadura foi derrubada sem um tiro, sequer.

Como ministro da Justiça indicado por Tancredo e mantido algum tempo por Sarney, Fernando revogou a legislação da ditadura e, entre outros feitos notáveis, extinguiu a censura.

Fez mais que José Bonifácio. Construiu uma democracia (coisa que o ‘Patriarca’ não conseguiu) sem derramar uma gota de sangue.

Doze anos após sua morte, faço minha homenagem a um homem que, injustamente, não faz parte dos livros didáticos de história contemporânea. As novas gerações precisam conhecer biografias inspiradoras como a de Fernando Lyra.

Filho do ex-prefeito de Caruaru, João Soares Lyra Filho (1913-1999) e Guiomar Fonseca Farias Lyra (1912-1972), nasceu no Recife, a 8 de outubro de 1938, mas cresceu em Caruaru, no quadro de uma família abastada da que também faz parte seu irmão, o ex-governador de Pernambuco João Lyra Neto, além da ex-prefeita de Caruaru e atual governadora eleita de Pernambuco, Raquel Lyra, sua sobrinha.

“Já ouviu falar na Lagoa dos Gatos? De lá saiu meu pai, primeiro mascateando, depois se fixando em Caruaru, onde se tornou vendedor de automóveis e caminhões, montou uma agência revendedora de grande porte e, em seguida, entrou no negócio de ônibus intermunicipais. Sou filho de classe média abastada, mas com sensibilidade social bem definida, porque João Lyra, meu pai, fez a trajetória dos empreendedores.”

Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Caruaru em 1964 passando a trabalhar como advogado. Começou sua vida pública pelo MDB ao ser eleito deputado estadual por Pernambuco em 1966. Candidato a deputado federal foi eleito em 1970, 1974 e 1978. Em 1971, fundou – juntamente com Chico Pinto (Bahia), Alencar Furtado (Paraná), Marcos Freire (Pernambuco) e alguns outros – o grupo dos “autênticos do MDB” – parlamentares que, dentro e fora do Congresso, faziam real oposição à ditadura. Posteriormente, ao longo de sua estadia em Brasília, passaria a adotar posições mais próximas aos “moderados” do partido, sobretudo por sua aproximação com Tancredo Neves. Após o fim do bipartidarismo ingressou no PMDB em 1980 e foi reeleito deputado federal em 1982 afastando-se do mandato para ocupar o Ministério da Justiça no início do governo José Sarney, indicado que fora por Tancredo Neves em reconhecimento ao seu papel de coordenador político na campanha do político mineiro rumo ao Planalto em 1985.

Reeleito deputado federal em 1986 ingressou no PDT no ano seguinte e em 1989 foi candidato a vice-presidente na chapa de Leonel Brizola nas eleições daquele ano não chegando, porém, ao segundo turno que foi disputado entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1990 foi eleito primeiro suplente de deputado federal sendo efetivado em 1º de janeiro de 1993 quando já estava filiado ao PSB. Há mais de 40 anos na vida pública, exerceu seu último mandato de deputado federal até 1998, quando não disputou a eleição: garante que seu estilo de atuação não tem mais espaço no Congresso.

Foi presidente da Fundação Joaquim Nabuco, órgão do Ministério da Educação, de 2003 a 2011. Após essa função ser ocupada durante 31 anos por Fernando Freyre, filho de Gilberto Freyre.

Em 2006, teve papel importantíssimo na campanha e vitória de Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes para governador, com seu irmão, João Lyra Neto, na chapa como vice-governador de Pernambuco. Do mesmo modo, contribuiu para a reeleição de Eduardo Campos em 2010 numa votação histórica, com quase 83% dos votos sobre o senador e ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos.

*Publicitário e escritor

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