“Plano de Trump para Gaza é uma violação do direito internacional”, diz especialista

Uma semana após propor que os Estados Unidos controlassem a Faixa de Gaza, na Palestina, o presidente americano Donald Trump afirmou que caso isso venha a acontecer, os palestinos não teriam direito de retornar ao local. Trump defendeu construir um “lugar permanente” para os palestinos.

De acordo com o professor de relações internacionais da PUC-GO, Leandro Borges, o plano de Trump viola o direito internacional. “Caso Trump leve o plano a frente irá se tratar de uma forma brutal de limpeza étnica. A ocupação de qualquer território estrangeiro sem consentimento da população local sem um mandato internacional isso fere os princípios fundamentais de soberania e de autodeterminação dos povos que são garantidos pela ONU”, explicou ao Jornal Opção.

Para Leandro, um movimento do tipo aumentaria a instabilidade no Oriente Médio. “Um movimento nesse sentido de tomar Gaza e levar a um deslocamento forçado da população, que em grande parte já é refugiada, aumentaria a instabilidade em toda a região, e também colocaria os Estados Unidos em confronto direto com o direito internacional, e com atores globais, que são relevantes nos processos decisórios”, continuou.

Segundo o professor, essa instabilidade seria causada como reação de países que exercem certo controle na região. “A Arábia Saudita, por exemplo, vem sinalizando ali uma possibilidade de retomada da comunicação com Israel, o que levaria a um grande avanço na política externa, regional. Porém, a exigência desse país, que é um aliado histórico dos Estados Unidos, é a criação do Estado Palestino para que haja paz na região”, diz.

Ele também explica que Irã e Líbano, que tem histórico de confronto com Israel e uma retórica hostil aos Estados Unidos, pode haver a intensificação de financiamento a grupos armados na região, como o Hezbollah e Hamas. Isso causaria uma escalada de conflitos. Então essa tomada de Gaza pode transbordar para outras regiões do Oriente Médio.

Leandro explica que a fala de Trump pode se tratar de uma estratégia para “mostrar a que veio”. “Gaza parece um palco oportuno para que Trump emita a mensagem para o mundo e para os Estados Unidos. Ele parece demonstrar essa nova cara do país em atuar de maneira unilateral e isolada, desconsiderando as grandes plataformas de negociações multilaterais. Parece que os Estados Unidos irá preferir utilizar o uso da força para se mostrar presente e forte. Essa demonstração visa inflamar a base aliada, especialmente a extrema-direita”, relata.

Para o professor, as declarações também mostram mudanças na política externa do país. “As declarações de Trump mexem com a política externa estadunidense em diversos aspectos. O primeiro ponto, sem dúvida, é um possível retorno a uma abordagem mais unilateral e militarizada da política externa nos Estados Unidos. Então há algumas décadas, desde o final da Guerra Fria, podemos dizer assim, os Estados Unidos exercem o seu poder de uma maneira um pouco mais comunitária”, diz.

O professor ainda explica que desde a criação de Israel, os Estados Unidos defendem a divisão em dois territórios e a criação de dois países, sendo a Palestina um país, uma nação soberana. “Isso, de fato, não se materializa por vários motivos, mas na política externa estadunidense prevalece essa linha como um mecanismo de levar à paz. Uma ocupação de Gaza e um apoio irrestrito a Israel nesse exato momento inverteria essa lógica, já que sepultaria qualquer possibilidade da criação de um Estado palestino”, completou.

Por fim, ele afirma que a proposta pode ser politicamente explosiva para os Estados Unidos. “Traria uma grande ruptura na região, no tabuleiro do Oriente Médio, e poderia comprometer a credibilidade dos Estados Unidos como mediador de conflitos. Quando um determinado país ou uma autoridade política de um país adota uma postura que foge da imparcialidade e que revela todo um interesse pessoal para o país ou para os aliados, retira daquela nação a capacidade de moderar uma transição”, explica.

“Para paz, diálogo e negócios, os Estados Unidos perderiam bastante de sua capacidade de moderação e de mediação. Outro ponto, sem dúvida, é de que aliados dos Estados Unidos carregam ali, como o Arábia Saudita, Egito, e Jordânia, certamente se distanciariam da Casa Branca, pois é muito complicado você lidar com o imprevisível, sendo melhor se afastar”, completa

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