Ovos nas alturas e inflação no supermercado jogam Trump na frigideira

A produção de ovos nos Estados Unidos foi duramente atingida por um surto de gripe aviária, que dizimou mais de 13 milhões de galinhas desde dezembro. Com a oferta drasticamente reduzida, os preços dispararam: a dúzia de ovos passou de cerca de US$ 3,50 em fevereiro de 2024 para US$ 5,29 na semana que terminou em 18 de janeiro. Preços médios que podem chegar ao dobro em cidades onde os salários são maiores, assim como a demanda.

Segundo dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) e do grupo de pesquisa NIQ, o aumento foi de 50% no último ano, pressionando os consumidores em um momento em que o alimento, tradicionalmente básico, se transformou em item de luxo.

Comprar ovos orgânicos em Nova York ou na Califórnia pode ser o equivalente a comprar um potinho de caviar

Preços em voo de águia, não de galinha

Durante a campanha eleitoral, Donald Trump destacou a inflação dos alimentos como um dos principais problemas do governo Biden, prometendo que, “no primeiro dia”, os preços despencariam – um slogan que ficou marcado com o seu famoso “drill, baby, drill” [perfure, meu bem, perfure]. Trump insiste que a solução para a inflação dos alimentos é perfurar mais petróleo nos EUA. No entanto, o país já é dos maiores produtores de petróleo do mundo, e os preços da energia não estão diretamente ligados ao custo dos ovos.

Em novembro, os preços já haviam subido para US$ 3,65, e em dezembro atingiram US$ 4,15, antes de saltarem para US$ 5,29 em janeiro. Esse cenário coloca os eleitores em choque e alimenta o debate político sobre a eficácia das políticas adotadas pelo governo atual.

Enquanto isso, Brooke Collins, indicada por Trump para chefiar o Departamento de Agricultura, prometeu “controlar imediatamente” os surtos de doenças animais. Mas, até agora, as galinhas parecem não estar cooperando.

Responsabilidade política e promessa que virou omelete

A crise dos ovos tornou-se um problema político de grandes proporções para Trump. Durante a campanha, o ex-candidato criticou Biden pelo aumento dos custos dos alimentos, alegando que uma maior produção interna de petróleo reduziria os preços via menor custo de energia e transporte.

Entretanto, com a crise aviária e a escassez de galinhas, os preços dos ovos dispararam, contrariando as promessas de redução imediata dos custos. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, chegou a culpar o governo Biden, sugerindo que, sob sua gestão, os preços dos ovos teriam subido até 65%.

Apesar das promessas de Trump de reverter os aumentos de preços que já ocorreram, os poderes de um presidente são relativamente limitados quando se trata de forças de mercado, como muitos antecessores de Trump descobriram, para seu desgosto (incluindo Joe Biden).

Enquanto isso, legisladores democratas já criticam Trump por não cumprir seu compromisso, acusando-o de priorizar medidas polêmicas – como a imposição de tarifas sobre produtos do Canadá, México e China – em vez de atacar a inflação de alimentos. Economistas alertam que essas medidas podem aumentar ainda mais os preços de outros bens de consumo, como frutas e vegetais. “As tarifas vão custar caro aos contribuintes americanos”, criticou o senador Chris Van Hollen. O México e o Canadá já prometeram retaliar, e a China anunciou que levará o caso à Organização Mundial do Comércio.

Agora, os democratas estão devolvendo a crítica com juros. “Você prometeu reduzir os preços no primeiro dia, mas só se concentrou em deportações e perdões” a criminosos, escreveram 21 legisladores democratas em uma carta ao presidente. A senadora Elizabeth Warren foi ainda mais direta: “Ovos estão mais caros, e suas promessas estão mais vazias do que nunca.”

Alguns dos problemas nos supermercados são devidos a conflitos longe das costas americanas. A Ucrânia, por exemplo, é o maior produtor mundial de girassóis. Antes da guerra com a Rússia, muitas dessas sementes eram prensadas em óleo em fábricas russas e então processadas em ingredientes diversos usados em fábricas diversas pelo país. Quando o ataque da Rússia à Ucrânia interrompeu o mercado de óleo de girassol, isso levou a uma pressão de alta nos preços de tantos outros produtos que poucos teriam pensado serem vulneráveis à geopolítica.

Da mesma forma, os preços do chocolate dispararam por causa de problemas a milhares de quilômetros de distância na África Ocidental. Os grãos de cacau crescem em uma região estreita ao redor do equador que sofreu com a seca e doenças nas plantações à medida que o clima esquentava, cortando profundamente a produção. 

Alguns na indústria também têm sua parcela de responsabilidade, pelo menos pela última alta na inflação que causou tanta angústia pública. Enquanto muitas empresas grandes e pequenas dizem que tentaram manter os preços baixos, algumas evidências sugerem que houve agiotagem. As margens de lucro para varejistas de alimentos e bebidas dispararam nos últimos anos, superando os custos, enquanto alguns fabricantes reduziram o tamanho dos produtos enquanto cobravam os mesmos preços ou preços mais altos, um fenômeno conhecido como “shrinkflation”.

Repercussão e críticas no Congresso

A explosão dos preços dos ovos não passou despercebida pelas autoridades. A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, alertou para a prática de preços abusivos diante da escassez provocada pela gripe aviária, enfatizando que a crise não pode servir de desculpa para aumentos exorbitantes.

O sentimento do consumidor medido por pesquisadores da Universidade de Michigan caiu este mês para seu nível mais baixo desde julho, com os consumidores esperando uma inflação muito maior no próximo ano. Mais de um consumidor entrevistado pelo The Wall Street Journal atribuiu seus medos a Trump e à ameaça de tarifas.

No Congresso, a pressão aumenta. Legisladores democratas assinam cartas criticando as ações do governo, apontando que, em vez de reduzir os preços, Trump recuou em suas promessas e se concentrou em medidas que, segundo eles, prejudicam a economia americana, como as tarifas que podem elevar ainda mais os custos dos bens de consumo.

Com uma crise alimentícia inesperada e os preços dos ovos em disparada, o cenário político dos EUA se complica. Enquanto os americanos lutam para pagar por ovos, carne e outros itens essenciais, o presidente parece mais focado em culpar o governo anterior do que em encontrar soluções reais. Um duro golpe para a credibilidade do governo Trump no que diz respeito à redução dos custos dos alimentos.

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