Indefinição de candidato para a disputa de SP vira ‘problema’ para o governo Lula

Do jornal O Globo

Vista como fundamental para impulsionar a chapa presidencial, a tarefa de viabilizar uma candidatura ao governo de São Paulo em 2026 é classificada por diferentes aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “um problema”. Sem um nome competitivo disponível para entrar na disputa, auxiliares do chefe do Executivo e lideranças do PT admitem que as chances de vitória, em um estado em que a esquerda nunca triunfou, são remotas.

No cenário visto hoje como mais provável no Palácio do Planalto, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disputaria a reeleição com amplo favoritismo para conseguir um novo mandato. Mesmo com chances reduzidas de um resultado favorável, o entorno de Lula considera que é necessário ter um palanque forte para fazer o embate com o bolsonarismo no maior estado do país.

O candidato de Lula precisaria entrar na disputa com perspectivas de chegar ao segundo turno. Em 2022, o desempenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que teve 44,7% dos votos válidos na segunda fase do pleito contra Tarcísio, foi considerado fundamental para que Lula vencesse Jair Bolsonaro na disputa presidencial. Os paulistas representam 22% do eleitorado nacional, com 34 milhões de eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Leia mais

O percentual de votos do então candidato a presidente pelo PT em São Paulo foi exatamente o mesmo que o do hoje ministro. Aliados ainda destacam que Lula teve em 2022 no estado 4,3 milhões de votos a mais na comparação com o próprio Haddad, candidato a presidente pelo PT em 2018. Apesar de ter vencido entre os paulistas, Bolsonaro ficou com 1,1 milhão a menos do que na disputa de quatro anos antes.

Leitura do desempenho

Entre os petistas, a melhora do desempenho em São Paulo do presidenciável do partido no intervalo de quatro anos é atribuída em parte ao palanque forte de 2022. Em 2018, o candidato do PT a governador de São Paulo foi Luiz Marinho, que ficou apenas em quarto lugar, com 12,66% dos votos válidos.

O retrospecto de 2022 daria a Haddad a preferência para ser o candidato novamente, mas ele afirma de forma enfática em conversas internas que não tem interesse nenhum em entrar na disputa. Além disso, a sua saída do governo em abril do ano que vem (prazo necessário para desincompatibilização) poderia criar incertezas sobre os rumos da economia e prejudicar a candidatura presidencial.

A avaliação no Planalto é que, sem Haddad, o caminho que resta ao PT é apostar em um aliado. Há um diagnóstico que a legenda enfrenta uma forte resistência no estado, principalmente entre os eleitores do interior, o que inviabilizaria a construção de um novo nome competitivo. O apoio a um representante de outra sigla seria uma forma de driblar essa rejeição ao petismo.

Se isso acontecer, seria a primeira vez que a legenda abriria mão de concorrer no maior estado do país, que é também o seu berço político, desde 1982, quando o próprio Lula foi candidato a governador e terminou em quarto lugar. Os melhores desempenhos de petistas na disputa estadual foram em 2002, quando José Genoino chegou ao segundo turno e perdeu para Geraldo Alckmin, e em 2022.

Agora aliado depois de ter aceitado compor a chapa de Lula e se filiar ao PSB, Alckmin é citado como opção de palanque no estado. Mas o ex-tucano resiste e, segundo pessoas próximas, tem como único plano manter o posto de vice do petista na disputa presidencial. Há no governo ainda quem defenda a sua entrada na corrida para o Senado, outro foco de problema em São Paulo. Mas essa hipótese também é rechaçada pelo vice-presidente.

Já o ministro da Microempresa e do Empreendedorismo, Márcio França, que também é filiado ao PSB e já foi governador de São Paulo por nove meses em 2018 após a saída de Alckmin, tem manifestado a aliados a intenção de ser o candidato de Lula na disputa do estado.

Dúvidas sobre 2026

Segundo aliados, Lula ainda não tem definição sobre a eleição de São Paulo. Mesmo em relação à sua própria candidatura a um novo mandato, o presidente não tem sido contundente. Em reunião ministerial no dia 20 de janeiro, disse que precisaria estar bem de saúde para poder concorrer. O presidente também citou que o governo precisa estar forte para ele ser candidato e ter boa margem para disputar o pleito presidencial. Ao mesmo tempo, Lula é visto no PT como única opção do partido na tentativa de êxito em 2026.

Diante dos mistérios sobre a preferência de Lula em São Paulo, Márcio França evita falar publicamente sobre a sua intenção de entrar na disputa, mas revela que pretende ter uma conversa sobre o assunto.

— Queremos ouvir o presidente Lula. Nosso campo terá uma candidatura a governador e vai depender da opinião dele. E, evidentemente, que os partidos aliados devem estar juntos — afirma o ministro, que é presidente do PSB no estado.

O desenho ainda pouco claro contrasta com a situação em outros estados vistos como prioritários pelo Planalto. O presidente manifestou duas vezes nos últimos dias que gostaria de ver o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD) na disputa pelo governo de Minas Gerais. Ao deixar o comando da Casa na semana passada e indicar que avaliaria seus próximos passos, o parlamentar disse que a sinalização de apoio do presidente é motivo de “honra” e que sempre teve o sonho de ser governador.

Embate com a oposição

No Rio, é dada como certa uma aliança em 2026 com o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), reeleito em primeiro turno com apoio do PT no pleito municipal passado e provável candidato a governador. O estado, berço do bolsonarismo e governado por Cláudio Castro (PL), é estratégico no embate com a oposição.

Entre o segundo turno de 2002 e o de 2014, o PT venceu as eleições presidenciais no Rio. A partir de 2018, no entanto, o bolsonarismo ocupou o espaço, na avaliação de especialistas, puxado pela urgência da agenda da segurança pública no estado e pelo predomínio de igrejas evangélicas nas áreas mais pobres. Paes deve enfrentar um aliado de Bolsonaro na disputa.

Além de São Paulo, Lula também enfrenta dificuldade para a construção de palanques competitivos nos estados do Sul. Principalmente Paraná e Santa Catarina, onde o bolsonarismo é mais forte e o PT enfrenta por isso mais resistência.

Leia menos

Adicionar aos favoritos o Link permanente.