A corrida do Grupo Safras para renegociar dívidas de R$ 1,5 bi e se manter em pé

Carlos Eduardo de Grossi Pereira, o “Cacá”, como todo triatleta, adora desafios. Nos últimos nove anos, ele viveu em uma posição confortável como executivo da GTFoods, uma gigante consolidada do agronegócio focada no setor avícola, com faturamento superior R$ 4 bilhões. Até que foi chamado, há dois meses, por um fornecedor de grãos para tirar seu grupo de uma situação perto da insolvência.

“O Pedro me disse: ‘De repente, quando eu percebi, estava muito enrolado. As coisas foram passando por debaixo do meu nariz e, quando eu acordei, estava muito complicado’”, contou Pereira ao AgFeed.

Pedro, no caso, é o CEO e sócio do Grupo Safras, Pedro Moraes Filho, que convidou seu então cliente para comandar o processo de reestruturação do conglomerado do agronegócio, que possui negócios nas áreas de originação, comercialização e processamento de grãos, além de usina para a produção de biodiesel.

Pereira topou o desafio tão difícil como as provas que envolvem natação, ciclismo e corrida das quais constuma participar.

Deixou o cargo executivo, migrou para o conselho da GTFoods e partiu para recuperar um grupo que fatura R$ 7 bilhões ao ano, mas que cresceu sem controle e imobilizou em ativos dinheiro de capital de giro, pagando juros anuais que podem chegar aos 25%.

O resultado foi uma dívida de R$ 1,5 bilhão, com mais de R$ 700 milhões a vencer no curto prazo.

“É adrenalina, não tem outra explicação. Sempre fui um cara de processo de turnaround”, justificou. Pereira entrou na empreitada que já vinha sendo tocada pela Makalu Partners na renegociação de dívidas e reestruturação dos ativos.

Juntamente com a Makalu, moldou a proposta de reestruturação para torná-la mais bem ajustada e deve levá-la ao mercado em até 15 dias.

Ao AgFeed, Pereira antecipou detalhes desse plano de reestruturação do Grupo Safras, criado em 2010 em Sorriso (MT), por Moraes e Dilceu Rossato, ex-prefeito do município.

De cara, os escritórios em Lucas do Rio Verde (MT) e de Curitiba (PR) foram fechados e as operações dos escritórios restantes serão integradas.

A capacidade estática de armazenagem de 700 mil toneladas será reduzida em ao menos 150 mil toneladas, com a devolução de duas unidades arrendadas em Sorriso.

“Não faz mais sentido, porque Sorriso virou o maior hub logístico de Mato Grosso e todo mundo que está lá tem a própria estrutura. É muito mais inteligente sair do custo e devolver do que procurar uma parceria para ganhar quase nada”, explicou Pereira.

Já nas 14 unidades de armazenamento restantes, do Grupo Safra buscará, segundo Pereira, parceiros interessados na operação e que possam gerar receita para a companhia reduzir o endividamento.

Algumas unidades tinham custo operacional de até R$ 5 por saca armazenada enquanto no mercado o preço médio pago para a estocagem é de R$ 3,50 a saca.

“Há unidades que nunca foram rentáveis e quanto mais grãos colocavam no armazém, mais iam cavando o buraco. Queremos parceiros que possam operar os armazéns, nos pagar os R$ 3,50 para rodar e estruturar essa dívida como um todo”, afirmou.

Entre os parceiros com conversas avançadas está o banco BTG Pactual, que tem uma trading de grãos e necessidade de armazenamento, principalmente em Mato Grosso. A ideia, segundo Pereira, não é trocar dívida pela operação, mas receber da empresa pela operação de armazenagem.

Quem controla o Safras?

Mas a principal parte da reestruturação do Grupo Safras é frear o endividamento com uma renegociação extrajudicial, evitando chegar ao ponto de ter de recorrer a uma recuperação judicial.

O executivo, acostumado com esse tipo de operação, acredita já ter tudo acertado. O acordo a ser anunciado em breve prevê a suspensão de dois anos do carrego da dívida da companhia e o foco no pagamento dos produtores.

Entre os principais credores estão grandes bancos e a Flowinvest, operadora e gestora de crédito com quem o Grupo Safras tem uma dívida de R$ 320 milhões.

Ao longo dos últimos meses, especulava-se no mercado que a financeira teria um contrato de opção de compra do grupo em troca da dívida. O temor de alguns credores era de que essa opção a colocasse em uma posição de controladora do Safras.

Pereira nega que exista esse acordo. “Ela é louca de colocar equity num negócio desse? A Flowinvest é um dos principais credores, ao lado do Banco do Brasil, e torce para que a reestruturação dê certo para um dia receber”, explicou.

Para o executivo, o congelamento no pagamento com as instituições financeiras nos dois primeiros anos prepararia o grupo para “ganhar tração” e, no futuro, acelerar a equalização do passivo.

“Nos dois primeiros anos vamos concentrar o pagamento para produtores. Todos os bancos já entenderam que as empresas sem produtor não existem. É como um shopping sem cliente. E não é nem questão de desejo, é de necessidade”.

Ainda de acordo com Pereira, o grupo busca também capital de giro com um “custo padrão em torno de 1,8%” para ajudar a rodar as empresas no período. Como garantia, na conversa com os bancos, está o acordo para que o dinheiro captado nesse tipo de operação seja “carimbado” para o uso no giro da companhia, ou seja, sem cometer os erros do passado.

Representante jurídico da Flowinvest, o advogado Roberto Isquierdo afirmou ao AgFeed, que o fundo tem total interesse na reestruturação do Grupo Safras. Ele negou qualquer possibilidade de assumir a companhia em troca da dívida.

“Para nós, como fundo de investimento que compra direitos creditórios, no fim do dia não nos interessa ter imóvel e ativos. Nosso negócio é liquidez e, para isso, temos o total interesse em que o Grupo Safras se reerga”, afirmou.

Isquierdo disse ainda que a Flowinvest está esperançosa com a indicação de Pereira para o processo de reestruturação do Grupo Safras.

“O Cacá tem um case de sucesso na carreira na GTFoods e o trabalho que fez lá é sensacional. A operação é saudável e passou por um momento de estrangulamento de caixa, mas com o Cacá na mesa a gente fica mais esperançoso”, pontuou.

O CRA da Copagri

Entre os passivos do Grupo Safras está uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) de R$ 150 milhões, feita em 2022 ainda pela Copagri – companhia de comercialização e processamento de grãos com sede no Paraná e filiais em São Paulo, Goiás e Mato Grosso –, adquirida em 2023 pelo Safras.

O CRA foi integralizado na operação de compra da empresa paranaense. Segundo detentores desses títulos, parte do valor foi amortizada e restam cerca de R$ 87 milhões em CRAs com vencimento para novembro de 2026.

Recentemente, portadores dos CRAs questionaram o Grupo Safras sobre a situação da companhia diante do processo de reestruturação e saíram satisfeitos após reunião com executivos.

Os “crazistas” até tinham mecanismos para cobrar antecipadamente o resgate, mas optaram por confiar na recuperação da empresa.

“A companhia está interessada em reestruturação amigável. O fato de a companhia não querer ir para o processo de recuperação judicial demonstra boa vontade”, disse um importante credor ao AgFeed.

Copo meio cheio

Paralelamente à renegociação dos passivos, o Grupo Safras trata suas empresas das áreas de bioenergia e de esmagamento e processamento de grãos como ativos geradores de caixa e já pensa em fazer dinheiro no futuro.

A companhia possui uma usina de etanol de milho em Sorriso, capaz de produzir 43 milhões de litros por ano, e uma processadora de grãos da antiga Copagri.

“Dá para preparar o ativo para um evento de liquidez futura, que acho muito viável. Tem grupos estrangeiros que adorariam um ativo com esse perfil, com bom pedigree”, admitiu Pereira.

No fim do dia, são duas certezas: o Grupo Safras terá de reduzir seu tamanho para escapar da insolvência e o trabalho exigirá muito fôlego do triatleta “Cacá” Pereira.

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